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Coraline
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Coraline: uma animação cheia de mistérios

Uma menina de cabelos azuis e gosto excêntrico por roupas coloridas chega à uma cidade monótona e cinza. Não satisfeita com o que vê, busca no vilarejo alternativas para acabar com o tédio.

Esta é a premissa de Coraline e o Mundo Secreto (2009). Lançado há mais de dez anos, é até hoje um dos maiores sucessos do gênero fantasia e animação em stop-motion do mundo.

O que muita gente não sabe é que o filme baseado no livro homônimo, escrito por Neil Gaiman, esconde mais mistérios do que possamos imaginar.

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Hoje vamos desbravar cada porta, janela, buraco e personagem da obra do cineasta norte americano Henry Selick, mesmo diretor de O Estranho Mundo de Jack (1993). 

https://www.youtube.com/watch?v=GJJ7nzs__pw

A vida cinzenta de Coraline

O filme começa com uma cena emblemática, embora a trilha sonora enigmática seja animada. De uma janela aberta, podemos ver uma boneca girar até chegar à mãos pontiagudas, formada por agulhas.

Aos poucos, o objeto é aberto e transformado numa nova versão. Desta vez, uma menina de cabelo curto vestida com um sobretudo amarelo.

Voltando a vida real – quer dizer, dá para diferenciar o imaterial neste filme? -, um caminhão de mudança chega até um casarão chamado Palácio Cor de Rosa, localizado longe do centro da cidade.

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O imóvel abriga mais três moradores, o senhor Bobinsky (Ian McShane), e as amigas Spink e Forcible (Jennifer Saunders e Dawn French). Os pais (Teri Hatcher e John Hodgman) da curiosa Coraline Jones (Dakota Fanning) são escritores e nem dão bola para a filha, que implora por atenção. Para que ela os deixe em paz, sugerem que ela faça um “tour” pela casa e vizinhança. 

Nos arredores do jardim, enquanto procura um poço, é surpreendida por um garoto da mesma idade, chamado Wybie Lovat (Robert Bailey Jr.). Dias depois, ele a entrega uma boneca idêntica à jovem. Com isso, a nova amiga começa a acompanhá-la nesta aventura. 

Sonho ou pesadelo?

Em casa, os dias de Coraline não são fáceis. A comida do jantar não é boa, as amizades estão longe e não há nada que ela goste por ali. No entanto, durante uma avaliação crítica do casarão, encontra uma pequenina porta trancada. Claramente ela não a deixaria fechada por muito tempo.

Por causa da grande insistência da menina, a mãe abre a porta e as duas se deparam com uma passagem, que um dia existira, mas no momento está fechada por blocos de concreto. Assim, não resta nada a fazer, a não ser dormir e esperar que os demorados dias passem logo. 

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Ao ser acordada por camundongos uma noite, Coraline é levada pela abelhudice até a porta. Entretanto, desta vez a porta está aberta,abrindo uma longa passagem em tons violeta e azul. Aventureira do jeito que é, caminha pelo apertado espaço até chegar ao outro lado.

Apavore-se com a Creepypasta de Coraline e o Mundo Secreto
Coraline consegue acessar a passagem secreta. Imagem: reprodução.

Porém, não encontra nada menos do que sua própria residência. Mas de uma maneira bem diferente! Tudo parece ser mais alegre e divertido, até mesmo seus “outros” pais. Isso porque Coraline descobre que possui outra mãe e pai. Esses, na porta misteriosa, são mais atenciosos, carinhosos, alegres e prestativos do que os biológicos. 

No meio deste sonho quase encantado só existe uma coisa diferente: os olhos. No lugar deles, todos os habitantes do outro mundo possuem botões.

Os olhos de botões

O local utópico atrai a atenção da jovem, que vira e mexe vai visitá-lo. Contudo, o carinho desses novos pais começa a se transformar em pesadelo! Afinal, querem que Coraline costure botões nos olhos, e viva para toda a eternidade no casarão alternativo.

– Você poderia ficar aqui pra sempre, se quisesse. 

– É mesmo? 

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– Claro! A gente vai cantar e brincar. E a sua mãe vai fazer seus pratos prediletos. Só tem uma coisinha de nada que precisa fazer. 

– O quê? 

– É uma surpresa!”  Diálogo de Coraline e o Mundo Secreto (2009)

O lado bom é que a jovem percebe as mensagens subliminares do lugar. Tudo parece perfeito demais; o que garantiria que este mundo seria assim para sempre? A dificuldade é saber que embora diga não para a proposta dos olhos de botões, os novos pais não aceitariam a resposta.

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As ações aparentam ser em vão, dado que o mundo encantado não é tão imaterial quanto ela imaginava. Dormir e almejar que este pesadelo acabe não é suficiente, pois já faz parte do que sonhara um dia. Até porque, dentro de si, pedia começar uma nova vida – e sabe muito bem disso. 

Quem são e como sabiam da infelicidade de Coraline? 

Quando não havia mais nada a esconder, a outra mãe assumiu sua verdadeira forma, parecida com um aracnídeo. Ela é a cabeça de todo o sistema, que apesar de ser encantado, foi idealizado justamente para agradar integralmente suas novas presas: as crianças. 

Coraline seria a quarta vítima, já que as outras teriam se rendido aos encantos e costurado botões no lugar dos olhos, tendo suas almas aprisionadas no outro mundo.

Através de bonecas feitas a partir da fisionomia das crianças, a outra mãe espia a infelicidade. Tudo indica que as outras presas viveram no casarão onde mora Coraline. 

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A mãe dos olhos de vidro 

Teorias apontam que o filme foi baseado no conto A Outra Mãe, escrito na época vitoriana pela jornalista britânica Lucy Clifford.

A história fala sobre duas irmãs, Olhos Azuis e Turquia, que viviam numa modesta casa perto da floresta. Apesar de serem felizes morando com a mãe, certo dia no caminho de volta à casa encontraram uma mulher que despertou a curiosidade e rebeldia das jovens.

Ilustração do livro The New Mother. Imagem: divulgação. 

Esta figura disse ter nas mãos uma caixa onde viviam um pequeno casal. A mulher só poderia mostrar os minúsculos cidadãos caso elas fossem malcriadas em casa.

Porém, a mãe das irmãs às alertou que se elas fossem birrentas, as abandonaria. E em seu lugar, uma outra mãe com olhos de vidro aparecia para cuidar delas.

No final deste conto, as crianças são abandonadas pela mãe biológica e fogem para o bosque. Porém, sua nova figura materna é uma mulher com longos braços e olhos de vidro. 

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“E a nova mãe permanece na pequena cabana, mas as janelas e as portas estão fechadas e ninguém sabe como é lá dentro. Vez ou outra, depois que escurece e quando a noite está quieta, Olhos Azuis e Turquia se achegam de mãos dadas, pé ante pé, à casa em que um dia foram tão felizes e, com o coração palpitando, observam e ouvem; às vezes, um clarão ofuscante atravessa a janela e sabem que é a luz dos olhos de vidro da nova mãe; ou escutam um estranho som abafado e sabem que é o barulho de seu rabo de madeira arrastando nas tábuas do chão.” Trecho do conto A Outra Mãe, de Lucy Clifford. 

O longa Coraline pode ter algumas semelhanças com o conto. Todavia, o final da protagonista é diferente. O rumo dos personagens leva a reflexão de que a insatisfação de si mesmo gera mudanças que só podem ser valorizadas quando se é tarde demais. A astúcia e rebeldia, neste caso, são a salvação da personagem

Ficou interessado em ler o conto? Você pode conferi-lo na íntegra neste link.

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