A Bruxa de Blair iniciou, enquanto Atividade Paranormal popularizou o found footage, filmes de terror que simulam filmagens ‘reais’. Esse estilo gera um grande lucro, já que o orçamento envolvido na produção é baixíssimo. Por causa disso, o subgênero é desgastado com inúmeros filmes de baixa qualidade, como Apollo 18 e Projeto Dinossauro. Mas quando a ideia é boa, narrativa coesa e a direção bem feita, não tem como um found footage dar errado. Esse é o caso de Creep.
Produzido pela Blumhouse, estúdio famoso por filmes de terror de baixíssimo orçamento que geram grandes lucros, Creep mostra a história de Aaron (Patrick Brice), um filmaker. Após aceitar um anúncio da internet, ele encontra um tal de Josef, que precisa realizar oito horas de filmagem de seu cotidiano. A justificativa é de que o homem está com câncer terminal e gostaria de registrar o seu dia para o filho que está para nascer.
Vendo que será um trabalho fácil e um bom retorno financeiro, Aaron aceita acompanhá-lo. Só que as gravações não simples. O jovem passa a estar no banho, em um passeio pela mata, vê-lo pelado e tentando se suicidar. Mas, conforme o tempo passa, Josef começa a agir mais estranho, com pedidos e histórias bizarras, deixando o filmaker intrigado. Percebendo aos poucos que aquele homem doente não é o que parece ser.
Ter pena ou ter medo?
A grande dúvida de Creep é se Josef é um psicopata ou somente um cara estranho. Você acaba comprando sua história e até ficando com pena de o ver assim. Pois, quando ele percebe que passou do limite, acaba se desculpando e o protagonista logo o perdoa. O que faz o homem ter liberdade com Aaron e agir cada vez mais assim.
A tensão é crescente durante o filme. Já começa nos dez primeiros minutos e vai até o clímax, nos deixando sem fôlego. O roteiro faz o filme ser lento, mas não menos apreensivo. Toda cena simples, como um jantar, pode parecer um esquema armado pelo “psicopata” para atacar Aaron. E a consistência de achar que Josef é somente um cara atingido pela doença, só alimenta a aflição de estar no meio do nada com alguém estranho.
Creep é um filme que faz pensar sobre bondade, maldade e inocência. Mas isso é só por cima, pois causa mesmo um riso nervoso e muita aflição.
Poucas locações
O filme conta com poucas locações e somente dois atores, sendo que Aaron (Patrick Brice) é o diretor e roteirista, enquanto Josef (Mark Duplass) assina o roteiro em conjunto. Isso deu liberdade para, provavelmente, improvisação de falas e muita autonomia nas atuações. Resultando em um desempenho magnífico de Duplass. Conseguindo nos fazer acreditar que é de fato um lunático e, ao mesmo tempo, um doente. Culpado e inocente. Louco e triste.
Impossível não se amedrontar na cena em que ele corre e fica parado na porta com uma máscara bizarra de lobo, intitulada de Peachfuzz.
Em diversas cenas, Mark consegue alternar entre um ar ameaçador para o de pena, deixando tudo imprevisível e misterioso. Você fica desconfortável só de olhá-lo. Quem dirá passar um dia num lugar isolado ao seu lado.
Já Brice faz o básico e não consegue chegar à altura de seu companheiro de tela. Às vezes chega a dar raiva de não desconfiar e ainda estar com aquele insano homem.
Creep tem final diferente e amargo
Por mais que todo found footage termine do mesmo jeito, o público ficará aflito em querer saber como será o clímax. Creep consegue trazer um final anticlimax, você não espera o que vai acontecer. E quando chega, vem cru e inesperado.
Creep é um found footage sensacional. O que tem de independente, tem de atraente. Te instiga, faz ficar intrigado e dá uns bons sustos. Tem cenas para deixá-lo com os nervos à flor da pele. E sua história é totalmente original. Sua segunda parte também está na Netflix, enquanto a terceira já foi confirmada.