Durante o Globo de Ouro 2020, Bong Joon Ho, diretor do premiado Parasita (2019), deixou um singelo e direto recado ao público: “uma vez superada a barreira das legendas, vocês conhecerão a muitos filmes incríveis”.
O Melhor Está Por Vir (2019) é um bom exemplo disso. O longa francês retrata a história de dois homens de forma íntima e sem conotação sexual, ao enfrentarem um momento delicado: a chegada da morte.
Você já teve alguma amizade completamente diferente dos seus gostos e escolhas, mas que mesmo assim, te completa inteiramente? Arthur (Fabrici Luchini) e César (Patrick Bruel) são assim. Amigos de longa data, eles se conheceram ainda na infância, quando moravam em um orfanato.
O filme é roteirizado e dirigido por Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte. Essa dupla também dirigiu Qual é o Nome do Bebê, em 2011.
Sinopse e trailer
Após um enorme mal-entendido, dois amigos de infância se convencem de que o outro tem apenas alguns meses de vida, e devem deixar tudo de lado para compensar o tempo perdido.
Amigos, vizinhos, conhecidos ou um casal?
O filme começa com uma completa confusão de cenas e diálogos, apresentando os personagens em seu pequeno mundo. Arthur, um pesquisador e professor ranzinza, é divorciado e pai de uma jovem. Vive sua vida tranquilamente, de forma metódica, até que é surpreendido por um amigo que não vê há muitos anos.
César é o oposto de Arthur. O homem vive no estilo Zeca Pagodinho. Afinal, “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Além disso, na faixa dos cinquenta e poucos anos, apresenta uma saúde invejável e uma predisposição a gostos excêntricos e infantis.
Após César se jogar de uma janela, pede ajuda ao amigo médico para “dar uns pontinhos” nas costas. Arthur se nega e o leva até o hospital. No local, não é possível fazer a consulta, a não ser que o amigo médico empreste o cartão do convênio. Sem muita opção, Arthur se solidariza com a situação.
Nada como um encontro de velhos tempos
Depois de cada um seguir seu rumo, Arthur recebe uma ligação com uma notícia bombástica: ele está com câncer! Mas espere. Ele fez alguma consulta recentemente? Não! Na verdade, é César que está doente.
Tentando absorver toda informação, Arthur recebe César em sua casa novamente, mas o amigo diz ter uma novidade de deixar os cabelos em pé. Sem delongas, César conta que vai ser pai, e o amigo mais uma vez processa a reviravolta, tentando explicar sobre o câncer. Entretanto, o resultado não é bom: o homem das festas acredita que o pesquisador tem poucos meses de vida.
Desta forma, eles decidem preparar uma lista de objetivos alcançáveis antes de morrer. Enquanto isso, histórias, momentos e perspectivas são explorados com muito drama e comédia.
Há poucos filmes que retratam o relacionamento masculino de forma íntima sem estereotipar os corpos e relações de forma sexual. Portanto, essa obra é muito positiva neste aspecto. É preciso assistir até o final para entender que se trata de uma amizade, pois os diretores deixam implícito o amor entre eles.
O filme conta com uma beleza, formosura e poesia dentro dos diálogos, planos e trilha sonora original. É impossível não gargalhar durante atitudes e comportamentos óbvios entre os dois. Ademais, acima de tudo, o longa também toca o peito com sentimentos, ideias profundas e existenciais sobre a morte.
“Ele era uma nulidade em tudo, mas não temia nada. Eu não era nulidade em nada, mas temia tudo. Ele era tudo que eu não era. Tudo que me irritava. No entanto, o que torna as amizades indissolúveis é um sentimento que falta no amor: a certeza.” – Arthur.
O Melhor Está Por Vir está em exibição em Santos, no Cine Roxy 4 – Pátio Iporanga. Confira a programação, horários e valores acessando este link.