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Entrevista | Bong Joon-Ho – “Tudo o que eles querem é trabalhar”

Tal como Sam Mendes, o coreano Bong Joon-ho também tem pouco mais de 20 anos de carreira como diretor de cinema. São sete longas na direção nesse período. Diferentemente de Mendes, no entanto, ele demorou a chegar em Hollywood, sempre muito cheia de barreiras para outros idiomas.

Seu debute na festa da Academia, entretanto, vem com quatro indicações, incluindo Diretor e Filme. Nesta entrevista, Bong Joon-ho fala sobre a origem do roteiro de Parasita e as questões sociais envolvidas na história.

De onde surgiu a ideia para o roteiro de Parasita?

Quando eu estava na universidade, trabalhei como tutor para uma família rica, que morava numa casa enorme. Eu ensinava um garoto e um dia ele me levou até o segundo andar da casa, onde tinha uma sauna enorme, bem extravagante.

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Lembro de me pegar com essa estranha sensação de que eu estava espiando a vida particular de estranhos, e que estava me infiltrando na casa de gente rica. Foi daí que surgiu a inspiração para o filme. Comecei a imaginar como seria se eu reunisse os meus amigos e infiltrasse a casa deles, um de cada vez (risos).

Quando a segunda família muda completamente para a casa dos milionários, eles ficam facilmente seduzidos pela riqueza dele. Por que o senhor quis fazer esse exame da estrutura de classes sociais?

Quando a família Kim se muda para a casa, eles não têm a intenção de ficar ricos. É só que eles não têm trabalho. Tudo o que eles querem é trabalhar. Se você olhar para a família Kim, eles são completamente normais, competentes e inteligentes. Eles não são perdedores preguiçosos. Mas a triste realidade é que eles não têm emprego.

Acho que esse problema do desemprego não acontece só na Coreia, mas em muitos outros países ao redor do mundo. Em determinado momento do filme, o filho jovem diz ao pai que ele vai comprar aquela casa para eles. É um momento triste porque sabemos que é impossível.

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Então o plano era uma ideia secundária…

Não é que a família tinha criado esse plano perfeito de infiltrar a casa dos ricos. O amigo do jovem, Ki-woo, dá a dica do trabalho. Ele vai na casa da família rica e enxerga a confortável oportunidade que vislumbra-se à sua frente. Não é que eles são criminosos ou gângsteres. Eles só tiram proveito de uma situação. Não existem vilões na minha história.

Acho que quando as pessoas caminham para a beira de um precipício, fica muito mais fácil para elas tiraram proveito de oportunidades assim. Até os ricos da história são normais e são gente boa. Mas, apesar de não ter vilões, meu filme termina com uma tragédia horrível.

Eu acho que essa é a questão que me pergunto: como pessoas que não são ruins, acabam se envolvendo em trágicos incidentes?

Parasita é um filme que cria um perfeito balanço entre drama e comédia. É um trabalho difícil conciliar os dois elementos?

As pessoas geralmente me perguntam o porquê de eu misturar gêneros em minhas histórias e conseguir criar reviravoltas de um modo bastante natural. Mas, eu nunca estou ciente de que estou fazendo isso. Para mim todo o processo é natural.

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