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Entrevista | Renée Zellweger – “Sempre me vi como uma cantora marginal”

Se a carreira da atriz Renée Zellweger é uma montanha-russa, podemos dizer que ela está no lugar mais alto possível. A vitória dela, como Melhor Atriz, é uma das poucas certezas que temos para o Oscar 2020, que acontece no próximo domingo (9).

Vencedora de todas as premiações até aqui, incluindo Globo de Ouro, Bafta e Critic’s Choice Awards, a intérprete de Judy Garland em Judy: Muito Além do Arco-Íris emociona o público por mergulhar fundo no personagem.

Caso confirme seu favoritismo, será o segundo Oscar da carreira. Anteriormente, Renée Zellweger faturou como Atriz Coadjuvante, em 2004, por Cold Mountain. À época, foi a terceira indicação consecutiva. Antes da conquista, Renée foi nomeada como Melhor Atriz por Diário de Bridget Jones (2002) e Chicago (2003).

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Mas essa grande fase foi interrompida em 2010, quando optou por um hiato na carreira. Reapareceu somente em 2014, quando virou manchete apenas pela aparência. Os anos se passaram, mas Renée Zellweger mostrou que ainda tinha muito a oferecer em Hollywood.

Voltou a se destacar com O Bebê de Bridget Jones (2016) e com a série da Netflix Dilema (2019). Se alguém ainda tinha dúvidas, Judy veio para coroar esse renascimento artístico de uma das queridinhas de Hollywood.

Em entrevista à nossa parceira de Los Angeles Paoula Abou-Jaoude, Renée Zellweger comentou sobre a interpretação de Judy Garland e o desafio de cantar em cena. Confira abaixo.

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Como foi seu processo de pesquisa para interpretar Judy Garland?

Utilizei-me de vários componentes que acabaram se unindo. Assisti vídeos dela no YouTube e vasculhei websites de fãs para saber que tipo de anedotas as pessoas estavam compartilhando. Assisti imagens de arquivos sempre que encontrava uma.

Gravações em áudios, de arquivos particulares de algumas pessoas, foram um achado valioso. Biografias contando como ela lidava com a vida.

E aí tinha a linguagem de palco dela. Certos movimentos, gestos que você sempre via até eles se tornarem familiares. A maneira que ela segurava o microfone e o movia atrás de suas costas. O estalar dos dedos. Todas essas coisas.

Recriar a figura de Judy Garland foi uma transformação física difícil para você?

Foi algo totalmente diferente de todos os outros filmes que já fiz. Foi como se estivesse fazendo uma série de experimentos. Foi também uma experiência coletiva feita ao lado de pessoas de diferentes departamentos como figurino, maquiagem, música. E todos nós estávamos à procura de atingir esse mesmo objetivo, tentando encontrar pequenos detalhes que faziam uma grande diferença, e subtrair outros que não nos ajudavam.

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Nós passamos por diversas fases de como o “look” dela deveria ser. Fiquei bastante satisfeita quando tinha meu rosto coberto de prótese e maciças bochechas. Adorei aquilo. O quanto mais eu consigo distanciar-me de mim mesma, mais autêntica a coisa parece para mim.

Mas, naturalmente, esse processo de sentir a personagem era complicado, e exigia muitas horas para ser atingido. Rupert Goold, o diretor, achava que esse aspecto era muito mais necessário do que a semelhança física. A emoção era essencial e o que ele era queria não era uma imitação, mas sim uma exploração na direção do entendimento.

Para atingirmos isso, ele queria ver meu rosto, minhas rugas, minhas expressões. Eu compreendo isso muito melhor hoje e aprecio bastante que ele tenha feito essa escolha.

Como foi cantar as músicas de Judy Garland no filme?

Foi algo assustador, mas também me trouxe bastante alegria. Sou grata ao fato de que tivemos bastante tempo para ensaiar e preparar, pois aquelas canções era bem enormes para mim. Eu sempre me vi como uma espécie de cantora marginal, com uma voz pequena, e aquilo tudo era um grande empreendimento para mim. Mas foi divertido e aprendi muito.

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Tive bastante ajuda e me senti gratificada por isso, pois acabou sendo uma experiência energizante. Eu entendo o porquê de cantar no palco era uma experiência extasiante para Judy Garland. 

Como descreve seu processo de aprendizado para cantar?

Não sabia que a voz é como qualquer outro músculo de nosso corpo, e que você pode exercitá-lo e manipulá-lo para fazê-lo mais forte. Eu achava que você podia nascer com esse dom de cantar ou não. Foi um aprendizado bastante interessante para mim.

E eu nunca fiz a conexão entre voz e emoção, então teve todo um trabalho secundário que eu não era muito familiarizada a respeito e que tive de acrescentar. Não estava ciente de que estava bloqueando esse tipo de interação com outros aspectos de minha vida pessoal por anos e foi muito libertador para mim participar desse exercício.

Essa experiência foi um grande presente em diversos níveis. Não só de mergulhar no legado do trabalho de Judy Garland e no fato de como ela era como pessoa, mas também de participar de uma inesperada viagem de auto-conhecimento.

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Como você fazia para manter sua voz?

Não fazia nada (risos). Eu aprendi muito sobre as coisas que você não podia fazer com a voz, fazendo-as, e lidando com as repercussões de você ter feito a coisa de maneira incorreta. Agora eu sei (risos).

Eu sei sobre criar variações, sobre dormir bem, sobre o fato de que você não pode fazer 28 variações da mesma canção durante o ensaio num estúdio com o ar condicionado ligado e, no dia seguinte, entrar em estúdio para gravar. Eu sei disso agora.

Como você descreve essa experiência de auto-conhecimento que teve ao interpretar Judy Garland?

Existiam pequenas coisas em minha experiência pessoal, como viver essa persona pública, diante do olhar do público. Eu acho que me fez ter mais empatia com a experiência dela. É claro que foi uma experiência bem diferente para Judy, pois as mulheres de hoje têm mais autonomia, participam mais da trajetória de suas carreiras.

Judy e outras mulheres da geração dela tinham menos chances de contestar alguma decisões de carreira que outras pessoas tinha tomado por elas.

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Traçar esse paralelo é algo injusto pois as circunstâncias no showbusiness durante a era de Judy Garland eram muito diferentes. Mas eu vim a entender e simpatizar-me muito como o fato de como era viver como ela.

Fazer esse filme foi uma experiência incrível pois pude mergulhar nesse mundo de problemas e contradições que me permitiram dar valor ao fato de como extraordinária Judy era.

Foi uma perda bastante trágica.

Foi. Mas também foi um triunfo, pois ela nunca desistiu, nunca parou. Ela só queria continuar a dividir seu amor com o público. E ela continuou fazendo isso até morrer. E, para mim, isso foi o que a fez ser uma heroína.

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