Desde que passou a ser adotado pelos Irmãos Grimm em 1812, o conto de João e Maria recebeu inúmeras adaptações. Já apareceu em Looney Tunes, Supernatural e Once Upon A Time. Foi curta da Disney e ganhou um longa: João e Maria: Caçadores de Bruxas. Um terrorzinho puxado para ação. Agora, em Maria e João: O Conto das Bruxas, o foco da história é Maria, e a narrativa adota um terror macabro, com lendas sobrenaturais.
Durante um período de escassez e Peste, Maria e seu irmão mais novo, João, são expulsos de casa pela mãe e precisam trilhar o próprio caminho. Após se perderem em uma floresta escura, esbarram num chalé moderno e estranho, com uma farta mesa de jantar posta. Ao decidirem ficar, precisam arcar com consequências que vão além do sobre-humano.
Além de cuidar do pequeno João, um menino irritante e guloso, Maria sofre por ser mulher e não querer seguir o que a sociedade ditava como adequada para elas, dificultando, inclusive, a busca por emprego.
Outro fato que a acompanha, por toda história, são os pesadelos sobre o conto de uma menina com um dom especial e sua vida trágica.
Mas assusta?
A história não é muito diferente da original, mas todas as suas mudanças são feitas para colocar medo. Em uma geração cercada de diversas histórias de terror, como a nossa, uma história de duas criancinhas perdidas não aterrorizaria com facilidade. Por isso, o filme adota Maria como principal, trazendo uma ideia de empoderamento dos tempos modernos.
O longa tem semelhanças com o brilhante A Bruxa (2015), mas não possui o terror bem desenvolvido do clássico. Sustos repentinos, com trilha sonora alta, e sonhos pra lá de bizarros são os artifícios do roteiro para assustar. Se você tem mais de 18 anos e já viu inúmeros filmes de horror, chega a ser um susto simples. Vale lembrar que a faixa etária é de 14 anos, por isso a “leveza”.
Mas o longa funciona bem como um bom suspense, nisso Maria e João acerta. A tensão em ver a dupla andando na floresta ou na mesa de jantar da bruxa canibal agradam. Sempre sem saber o que pode acontecer.
O terror visual de Maria e João
O diretor Oz Perkins vinha de dois filmes medianos em sua carreira: A Enviada do Mal (2015) e O Último Capítulo (2016). Por isso, Maria e João: O Conto das Bruxas tinha que ser bom, para não virar só mais um no meio.
Filho de Anthony Perkins, o Norman Bates no clássico Psicose, Oz acerta no terror visual de cenas bizarras. São os casos do cabelo saindo pela boca da bruxa, além do figurino da personagem. O longa tem diversos closes e planos centralizados. Mas o grande prêmio fica com a fotografia.
Filmado na Irlanda, a floresta é assustadoramente bela. Toda cinza e azulada, dá o tom de perigo e frio que é estar sozinho sem seus pais. Em contraste, a casa da Bruxa adota cores mais quentes como o laranja e vermelho, o que transmite a sensação de lar acolhedor e seguro.
Chamando toda a responsabilidade da narrativa: Sophia Lillis (IT: A Coisa), que interpreta Maria, é fria, pensativa e muda de personalidade de acordo com o decorrer da história. Já seus parceiros de atuação, não empolgam. João, interpretado por Samuel Leakey (estreante no cinema), e a bruxa Alice Leite (Star Trek) não convenceram.
Maria e João é um filme que ganha pontos por tentar trazer uma história diferente de um conto conhecido. Mesmo não sendo assustador, acerta em um horror mais psicológico com altas doses de suspense.