Um policial militar com vestimenta sadomasoquista, que produz um som pesado com letras divertidas e carregadas de erotismo. Entre 1991 e 2008, essa combinação marcou época na região. Ou melhor, nacionalmente. Tarso Wierdak dos Santos, de 52 anos, vocalista da banda santista Carnal Desire chegou a participar duas vezes do Programa do Jô (2006 e 2008), na Rede Globo. Em uma delas, com direito a dois blocos.
Policial militar
Dispensado da corporação em 2008, Tarso segue com o Carnal Desire até hoje na ativa. Inclusive, prepara a gravação de um videoclipe em Guarujá e um novo álbum. E se você pensa que o maior preconceito enfrentado pelo vocalista vinha dos amigos do trabalho, saiba que está completamente enganado.
“Meus colegas de trabalho me davam muito apoio, torciam pelo meu sucesso. No dia seguinte da entrevista no Jô, fui muito aplaudido por eles quando cheguei no quartel, em São Paulo”.
Mas nem tudo eram flores para o Carnal Desire. Durante boa parte do início da carreira, Tarso e companhia precisaram enfrentar uma forte resistência dos próprios roqueiros.
O Carnal surgiu numa época difícil. A galera não era muito de aceitar novidades. Uma banda de som pesado com letras satirizadas e falando sobre sexo? Muita gente queimava nosso filme por achar que não éramos sérios. A moda era fazer letras mais políticas. Hoje ainda tem muita panelinha, mas não temos restrições de público” Tarso, vocalista do Carnal Desire
Tarso, por sinal, sempre gostou de misturar o punk com metal, o hardcore com o thrash, o grind com hard. Foi assim com o Trevas, Pactus Fire e Alcoólica, bandas que ele montou nos anos 1980.
Apoio de Chorão
E mesmo sem grandes apoiadores, Tarso foi conquistando o público aos poucos. O finado vocalista do Charlie Brown Jr, Alexandre Magno Abrão, o Chorão, era um deles. Chegou a invadir o palco com um cartaz de mulher pelada para cantar com Tarso. E mesmo que o tempo tenha afastado um do outro, o vocalista do Carnal Desire não esquece do apoio recebido do amigo, quando esteve entre a vida e a morte por conta de complicações da diabetes.
“Quase amputaram a minha perna. Estava em um momento muito delicado, mas quando ele soube da minha situação, ele me colocou em um hospital particular e arcou com os R$ 50 mil das despesas. Não tinha esse dinheiro. Ele foi um herói”, recorda.
Dificuldade é algo já incorporado na trajetória de Tarso. Mas ele não pensa em desistir da sua banda, mesmo que ela não lhe renda fundos suficientes para viver apenas da música.
O Carnal já teve várias formações, mudamos muito os integrantes. Tive momentos bons, outros ruins, a ponto de querer desistir de tudo, mas toco porque eu gosto. Dinheiro? Pouco, às vezes nada. Participar do Programa do Jô foi o nosso melhor momento. Nunca uma banda underground teve essa oportunidade, sem patrocínio, grana, gravadora. Sem contar que ninguém é bonitinho” Tarso, vocalista do Carnal Desire
Carnal Desire no mainstream
Chegar ao Programa do Jô, por sinal, era quase uma obsessão de Tarso. A primeira tentativa foi durante uma operação policial. Descobriu que o homem abordado na blitz era produtor do programa. Não pensou duas vezes, entregou o CD e já fez a propaganda.
“Não deu certo na primeira, mas depois a minha esposa foi numa caravana para assistir na Globo e entregou para a pessoa certa. Uma semana depois me ligaram, chamando a gente”.
Uma das principais características do Carnal é a vestimenta sadomasoquista de Tarso. O motivo dela? Um desafio levado muito a sério.
“Me desafiaram e peguei a máscara, luvas, correntes, sunga e botas. Mantive a roupa até 2012”.
Mas ele promete rever isso nos próximos shows. “Estou procurando uma sex shop para me patrocinar”.