BRUNA FARO
O cinema e a música caminham lado a lado. Por muitas décadas existia glamour em produções cinematográficas, onde a maioria dos atores atuavam, dançavam e cantavam, encantando a todos que assistiam. Devido a influência do teatro, algumas películas pareciam mais uma grande apresentação, onde a música não podia faltar.
Mesmo nos filmes mudos as melodias eram essenciais. Para não deixar um completo silêncio, se ouvia os instrumentos de fundo, instigando a imaginação do telespectador. Isso se manteve até 1927, quando estreou nos Estados Unidos O Cantor de Jazz, considerado o primeiro longa metragem com som. “Espere um minuto, espere um minuto, você ainda não ouviu nada”, foi ironicamente a frase que as pessoas escutaram pela primeira vez no cinema.
Depois disso as sinfonias e câmeras foram se cruzando, mexendo com as emoções. Arrepios provocados pelos agudos estridentes de Psicose, sensação de tensão com o grave crescente de Tubarão, ou a vontade de sair pulando junto com Rocky ao som de Eye Of The Tiger.
Tantas canções icônicas que viraram hits e marcam nossas vidas. A década de 1980 foi recheada de músicas que até hoje escutamos na rádio. Time Of My Life de Dirty Dancing, Footloose, Ghostbusters, entre outras.
As trilhas também não ficam de fora, De Volta Para o Futuro marcando a cultura pop, os incríveis trabalhos do compositor John Williams como em Indiana Jones – Os Caçadores da Arca Perdida, Jurassic Park, a famosa mistura de tons impactantes de Star Wars e vários outras composições inesquecíveis.
Dos palcos para as telas
Astros de rock também já fizeram filmes, muitas vezes com foco nos fãs. Elvis Presley cantando no Havaí, Beatles em forma de desenho no seu submarino amarelo, Kiss em Detroit Rock City… São vários destinados aos “fanáticos”, mas existem músicos que saíram desse formato e deram um passo à frente de outros gêneros.
Frank Sinatra, por exemplo, tem uma filmografia enorme. Ele atuou e produziu a trilha sonora de diversos filmes e chegou a ganhar um Oscar por A Um Passo da Eternidade.
A diva Cher participou de diversos longas e também ganhou a estatueta dourada por Feitiço da Lua.
Um artista mais atual que é igualmente conhecido por sua música e suas atuações é Jared Leto. Vocalista da banda 30 Seconds to Mars, surpreende com seus personagens, quase um camaleão que levou para casa o Oscar de melhor ator coadjuvante por Clube de Compra Dallas.
Só com alguns exemplos, é possível perceber que não é novidade na história da sétima arte ver um profissional da música como protagonista. O mais recente trabalho que retrata bem essa transformação da música para o cinema, é em Nasce Uma Estrela, estrelando a cantora pop Lady Gaga.
Nasce uma Estrela é uma das histórias de amor mais queridas de Hollywood. Com uma narrativa comovente e críticas sociais, o longa já teve quatro adaptações para o cinema: em 1937, 1954, 1976 e 2018. Juntando as três primeiras versões, concorreu a 16 estatuetas do Oscar e levou a de melhor canção original, Evergreen em 1976.
A narrativa mostra um casal que se apaixona à primeira vista. Os dois cheios de talento, Maine já é famoso e Esther/Ally está em busca de sua carreira. Eles se conhecem por acaso e se ajudam na construção de suas vidas. Maine abre as portas do sucesso para Esther/Ally que com o tempo fica cada vez mais conhecida. Ela o ajuda com seus vícios e problemas do passado. Uma vida moldada pelo amor.
Janet Gaynor, a primeira mulher a receber o Oscar de melhor atriz, interpretou a protagonista Esther em 1937. No ano 1954 foi a vez da talentosa Judy Garland. Muito conhecida por seu papel de Dorothy em O Mágico de Oz, a artista sempre demonstrou seus dons cantando, dançando e atuando. Em 1976 Barbra Streisand, dona de uma voz marcante e uma longa carreira musical, foi a protagonista levando o Oscar por melhor canção.
Neste ano Lady Gaga é a estrela. Ela já havia atuado antes, inclusive ganhou o Emmy de melhor atriz em minissérie por sua participação em American Horror Story: Hotel. Porém, Gaga nunca tinha feito um papel principal com uma carga histórica tão grande. Sem suas roupas extravagantes, maquiagem carregada, ela aparece com a cara limpa, representando a doçura de sua personagem, Ally.
Mesmo que a cantora tenha sido muito bem recebida pelo público, Bradley Cooper surpreendeu com seu talento. Além de interpretar pela primeira vez um Jackson Maine mais carismático e menos arrogante, ele dirigiu o filme e cantou como um convincente rockstar.
O primeiro Norman Maine foi vivido por Fredric March, em 1937, onde ele era uma estrela de cinema. Na adaptação seguinte, de 1954, Norman, ainda ator, teve como intérprete James Mason.
Em 1976 o papel de Maine, agora cantor, ficou para o astro country Kris Kristofferson. O interessante é que nessa versão os dois atores principais eram na vida real cantores. Porém, Kristofferson não teve o mesmo sucesso nas telas que sua parceira de cena.
Nasce Uma Estrela é um conto que vive em looping, repetindo sua própria história. Fica claro que a receita funciona. Em 2018 já foi arrecadado mais de 200 milhões de dólares em sua bilheteria mundial, sendo que o filme ainda está em cartaz.
O principal dessa trama não é somente o romance. Retrata em suas diferentes versões, a indústria de entretenimento de cada época, critica o abuso de imagem, e reflete a eterna parceria entre a música e o cinema, como se fossem amantes.
