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Rafa Paulino, o professor e inspiração dos guitarristas

Fotos: Karen Ritchie / Divulgação

Os primeiros homenageados na nossa série sobre guitarristas históricos da região citaram um nome conhecido como influência, professor ou incentivador, o proprietário da loja de discos Blaster, Rafael Paulino, o Rafa. E seria impossível ignorar o apelo geral e deixar passar esse exímio instrumentista.

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Rafa foi um dos primeiros professores de guitarra na região. Iniciou sua trajetória na primeira metade dos anos 1980. “O que rolava era mais conservatório ou professor de violão, guitarra mesmo não tinha tanto. Eu mesmo tive alguma dificuldade para achar professores quando comecei a tocar. Peguei caras bons, mas o mais comum era serem músicos da noite, que não tinham o foco em dar aula, não tinham horário fixo, desmarcavam, não ligavam muito para isso”, argumenta.

Rafa, hoje com 57 anos, conta que o seu professor era Humberto Lage, um violonista de alto nível, arranjador da Fermata. “Um estilo antigo, só violão, nada de palheta etc. Um baita músico, aprendi muito com ele”, comenta.

O dono da Blaster afirma ainda que sempre teve o cuidado de se manter legal e simples com os alunos, o que pode ter ajudado a transformá-lo em uma referência para tantos músicos. “Não tinha nada daquela postura do tipo de se colocar em pedestal eu sou o professor, preste atenção, fique na sua”.

O que chama mais atenção quando Rafa busca na memória o início da sua trajetória como professor é uma revelação divertida.

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“Comecei a dar aulas enquanto eu mesmo aprendia. Era longe de ser um músico formado, aliás, nem mais tarde me tornei”, responde ele, mantendo a humildade, também reconhecida pelos seus ex-alunos.

Vários fatores levaram Rafa a investir na música. O primeiro deles, e o crucial, foi a mudança de escola, saindo do Independência para o Oswaldo Cruz.

“Lá me enturmei com um pessoal que, por acaso, gostava de rock, entre eles o Johnny Hansen (falecido ex-integrante do Vulcano e Harry), e dali para tocar foi um pulo”.

Na sequência, contribuiu para sua formação The Song Remains The Same, filme-concerto do Led Zeppelin que foi exibido nos cinemas.

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“Assisti em uma tarde, sozinho, no Praia Palace (antigo cinema em Santos). Voltei a assistir diversas vezes nas sessões de meia-noite de sábado (era comum reprisarem nessas sessões esse do Led, outro clichezão era Warriors: Os Selvagens da Noite)”.

E as sessões de The Song Remains The Same, claro, levaram Rafa a escolher o seu guitar hero desde sempre, Jimmy Page, a quem tem como maior referência.

“Mas confesso que os shows do Van Halen em São Paulo, nos anos 1980, também contaram muito. Fora os amigos próximos, que tocavam bem”, enumera.

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Diferente dos outros músicos listados nos nossos especiais com guitarristas, Rafa nunca chegou a tocar em um grande nome do cenário regional. Sua trajetória é resumida às aulas mesmo. Bandas foram poucas, mas sem relevância.

“Talvez tenha rolado comigo algo que hoje rola com o músico da noite. Aulas davam retorno, na época era cobrado por aula, acabava a aula, o aluno me pagava. Então era dinheiro certo, diário. Se hoje já está tão difícil fazer dinheiro com música, imagine na época. Tocar por aí, carregar amplificador, equipamento, para tocar grátis ou por muito pouco? Acabei me acomodando nas aulas talvez”, justifica.

Mas antes de se acomodar nas aulas, Rafa teve algumas experiências muito ruins. “Definitivamente não me senti à vontade naquelas ocasiões, era tudo errado: som ruim, saía tudo pior do que ouvia em casa, tudo ligado no mesmo amplificador, pouca gente, zero de grana na hora de receber. Tinha que adorar a experiência para seguir tentando, e ficou muito longe disso”.

Tímido, o guitarrista sempre teve uma postura mais retraída. Em sua loja, costuma conversar com os amigos e clientes, indicar bandas, contar histórias, mas quem o conhece sabe que tem suas travas.

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“Claro, contava muito minha personalidade tímida também, não dava certo comigo aquilo de estar no palco: olhem pra mim, vou fazer algo e quero que vocês vejam. Mas é óbvio que faltou um certo ímpeto a mais da minha parte também”.

O guitarrista brinca, ainda, com as diferenças entre a turma que ia para o estúdio e a galera que ouvia discos com ele.

“Eram coisas tão distintas. Tocava com músicos bons e curtia muito mais som que não era tanto pela técnica, como punk, pos-punk, synth, gótico, pop 80s, além de classic rock. Os caras com quem eu tocava estavam muito mais para Spyro Gyra”.

Renovação

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Mesmo distante dos shows, Rafa comenta que tem visto uma boa renovação entre os guitarristas da região. E acredita que as facilidades atuais contribuem para esse cenário.

“Seja com professores, dicas em Youtube e similares, com certeza está cheio de cara novo bom por aí. Às vezes, casualmente, assisto vídeo ou ouço CD de banda nova daqui, e muitas vezes tem guitarrista bom, que nem sequer sei quem é”, comenta.

“Ali do meu lado mesmo, na Blaster, tem o Luiz Oliveira, um guitarrista destruidor! O Ricardo, do Tosco, que está sempre ali na área também, só para citar os que vejo ali do meu lado. O Raphael Matos, do Shadowside, é ótimo também. Tenho certeza de que tem um monte de moleques bons por aqui que não conheço”, completa.

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