Entrevista | Richie Kotzen: “Adrian e eu temos pensamentos em comum e outros diferentes”
Dois grandes guitarristas unidos em um projeto de tirar o fôlego. Adrian Smith e Richie Kotzen estrearam o álbum Smith / Kotzen, projeto gravado nas Ilhas Turcas e Caicos, um pouco antes do início da pandemia. Composto por nove faixas, Smith / Kotzen é uma perfeita colaboração entre os dois músicos altamente respeitados que escreveram todas as músicas, compartilharam os vocais principais e também trocaram as funções de guitarra e baixo ao longo do disco. Repleto de melodias e harmonias poderosas, o disco incorpora a atitude espirituosa do rock clássico dos anos 1970 com um caldeirão de influências que vão do blues, hard rock, R&B tradicional e mais, misturando as origens e experiências de cada um do par para resultar em um som totalmente contemporâneo. Kotzen conversou com o Blog n’ Roll sobre a parceria com o guitarrista do Iron Maiden, carreira, gravação do álbum na ilha, Brasil e lockdown. Confira o papo abaixo. Como surgiu essa parceria com Adrian Smith? Nós nos conhecemos há uns nove ou dez anos. É difícil dizer exatamente como nos conhecemos, porque em Los Angeles você vê e conhece pessoas com frequência. Mas, ao longo dos anos, nossa amizade foi crescendo, nossas esposas ficaram amigas, e sempre falamos muito sobre música. E sempre nos feriados, a gente se encontrava para fazer uma sessão e tocar algumas músicas. Mais recentemente, em uma dessas sessões, alguém sugeriu que eu e o Adrian tentássemos fazer uma música juntos. E, felizmente, isso aconteceu, e hoje estamos aqui. O que permeou a montagem desse set? Todas as músicas são idênticas… brincadeira (risos). As faixas me lembram muito aquele rock clássico que cresci ouvindo. É um álbum agradável, que tem um flow muito bom. É um daqueles álbuns legais de rock clássico, e cada música tem sua personalidade. O single Taking My Chances é uma faixa forte, que queríamos mostrar primeiro, mas todas são importantes. Você percebe que as canções são da mesma banda, mas a vibe muda, claro. Cada música representa nosso sentimento quando as escrevemos. Como foi gravar o álbum em uma ilha paradisíaca do Caribe? Cara, isso foi muito divertido. Eu nunca tinha ido para lá. É um lugar lindo, tropical, com um mar maravilhoso. Foi incrível! O único problema foi que eu não queria fazer nada além de ficar deitado na praia (risos). Tivemos alguns dias de folga, e depois começamos os trabalhos. Foi bem legal, e gostei muito de ter feito dessa forma. Espero que o próximo seja assim também. Tiveram problemas na hora de voltar por conta da pandemia? Não tivemos problemas, porque saímos de lá antes de tudo começar por aqui. Eu lembro que tive minha festa surpresa de aniversário em Las Vegas, depois fiz shows em um cruzeiro em Miami, e em seguida encontrei o Adrian para gravarmos o álbum. Quando terminamos, já estávamos planejando a turnê mundial e marcando os shows. Nossa ideia era lançar o álbum em março ou abril de 2020 e começar a turnê logo em seguida. Mas, obviamente, a pandemia chegou e tudo isso mudou. Como estão os planos para a divulgação de Smith / Kotzen com esse impedimento? Estamos fazendo o que podemos. Divulgamos algumas músicas, o álbum completo está pronto para ser lançado, estamos dando muitas entrevistas e contando nossa história. Eu sou um cara das antigas, então não vejo a hora de poder tocar ao vivo. No Texas, por exemplo, eles liberaram shows, então talvez a gente faça uma turnê por lá. O lockdown dificultou algo em sua vida? Para mim, não foi tão ruim como para muitas pessoas. Eu sou grato por ter conseguido descansar um pouco, porque precisava de um tempo livre. Quando você é um cara como eu, se te oferecem três semanas de shows da América do Sul, você vai. Ou então, meses na Europa, eu vou também. Então, é difícil dizer não quando essas oportunidades surgem. Eu não queria tirar essa folga, mas senti uma tranquilidade quando as coisas pararam. Claro que odeio a covid-19, obviamente, mas ficar em casa nesse lockdown funcionou para mim. Voltando ao álbum, como foi cruzar as influências de vocês dois? Adrian e eu temos pensamentos em comum e pensamentos diferentes. Por exemplo: nós dois amamos bandas clássicas de rock. Mas, por outro lado, eu também gosto de alguns elementos, e o Adrian de outros, como jazz e blues. Eu não curto tanto, mas tenho muita influência do soul e do r&b. E isso foi bom, porque tivemos muitos pontos onde nos conectamos bem, e outros que nos ajudaram a trazer algo diferente para o álbum. Você é um cara com muita bagagem no rock, ainda mais pelas passagens pelo Poison e Mr Big. Acredita que ainda carrega algo dessas vivências no seu som? Todas as coisas que você faz como músico ajudam a formar suas características. Para mim, eu não sei ao certo o que aprendi com cada membro de cada banda que passei, porque são anos na estrada, e períodos relativamente curtos com as bandas. Mas, certamente, para um cara jovem que tocava na garagem, tocar com outros grandes artistas e interagir com eles é um aprendizado enorme. Conheci muita gente gigante, e essas pessoas me ensinaram muitas coisas que começaram a fazer parte da minha personalidade musical. Você tem uma relação legal com o Brasil, certo? Brasil é um dos lugares que mais gosto de visitar e tocar. Sempre tenho experiências incríveis quando vou ao Brasil, com ótimos públicos e pessoas apaixonadas por música. Minha esposa é brasileira e a conheci em São Paulo. É um lugar importante para mim, e espero voltar logo. Já aprendeu a falar em português? Só frases ridículas e palavrões (risos). Mas vou parar de ser preguiçoso e tentar aprender algo útil.
Entrevista | Mark Jansen (Epica): “Temos que mudar principalmente nossa humanidade”
Depois de cinco anos sem um álbum de inéditas, a banda holandesa Epica, enfim, presenteia os fãs com uma novidade. O oitavo disco de estúdio de Simone Simons, Mark Jansen e companhia, Omega, foi lançado no fim de fevereiro e traz 12 músicas divididas em 70 minutos. Dentre as canções está a continuação antológica de Kingdom of Heaven, com pouco mais de 13 minutos. O metal sinfônico de Simone Simons (voz), Mark Jansen (guitarra e gutural), Isaac Delahaye (guitarra), Coen Janssen (sintetizadores e piano), Ariën Van Weesenbeek (bateria) e Rob Van Der Loo (baixo) segue com uma referência mundial. Aliás, sem esquecer os fãs brasileiros, a Epica aproveitou o lançamento do álbum para presentear os apaixonados pela banda com novidades. Em resumo, a turnê Ωmega BrasileirΩ e a loja pop up na Galeria do Rock, em São Paulo, com produtos exclusivos. O guitarrista Mark Jansen conversou com o Blog n’ Roll sobre a produção de Omega, os desafios e a ligação com o público brasileiro. Confira o resultado abaixo. A pandemia atrapalhou de alguma forma o processo de criação de Omega? Nós demos sorte porque todo o processo de composição foi feito antes da pandemia. Até mesmo boa parte das gravações foi feita antes das coisas ficarem severas. As coisas começaram a entrar em lockdown justamente quando eu e a Simone íamos começar a gravar os vocais. Então, eu tive que gravar minha parte do meu estúdio caseiro, o que não foi um problema, porque tenho todo o equipamento necessário. Já a Simone alugou um estúdio perto da casa dela na Alemanha, e tudo caminhou bem. Não tivemos grandes problemas com a pandemia enquanto estávamos trabalhando no álbum. Como foi a comunicação entre os integrantes da banda na pandemia? Nós já fazíamos reuniões virtuais antes da pandemia, porque moramos em países diferentes. Temos três caras na Holanda, um na Bélgica, a Simone na Alemanha e eu na Itália. Então, temos muitas reuniões assim o tempo todo. Claro que o lockdown atrapalhou, principalmente porque algumas coisas precisavam ser feitas pessoalmente, mas não pude comparecer porque a Itália está muito fechada até hoje. E lançar o álbum sem poder fazer turnê? O quão complicado é isso? Nós discutimos se seria válido lançar o álbum sem poder sair em turnê na sequência. Eu sempre tive uma crença grande de que deveríamos lançar, sim. Porque se você atrasar o lançamento por mais um ano e meio, ainda tem o risco de não poder fazer turnê da mesma forma. Então não faria sentido ficar esperando o momento certo, até porque as pessoas precisam de novas músicas para enfrentar esses tempos difíceis. Não poder fazer turnê é uma pena, mas tem coisas mais importantes na vida. Você imagina que o mundo será muito diferente pós pandemia? Sim, acho que o mundo vai ser diferente. Essa situação aumentou muito a preocupação das pessoas e causou muito trauma. Vamos sentir isso no futuro. Temos que mudar as coisas, principalmente nossa humanidade. Temos que entrar em equilíbrio com a natureza e reencontrar nosso lugar no mundo. Se você encurrala a natureza, ela revida, e isso vai acontecer. Temos que achar mudanças para um futuro melhor. Por falar em natureza, vocês têm uma ligação especial com lobos, certo? Nós temos uma música que fala sobre lobos para apoiar a fundação que os protege. Para nós, foi algo ótimo, porque já fizemos diversas campanhas, e sempre que podemos ajudar pelo menos um pouquinho, podemos ajudar o mundo a ficar ligeiramente melhor. Se todos fizerem o mesmo, a diferença será enorme. Essas ações motivam o público? Acredito que sim! Converso com muitas pessoas online que me perguntam sobre esses projetos e se mostram interessadas. Não tem problema as pessoas não apoiarem a mesma causa dos lobos, mas ajudar qualquer iniciativa que ajude animais é algo lindo. Omega ainda traz um bônus com faixas acústicas, certo? Nós sempre tentamos fazer faixas extra para cada CD. Tentamos aceitar o desafio de fazer versões diferentes de algumas músicas. Não só acústico, mas também com uma atmosfera totalmente diferente. Nessas faixas, quando você escuta, sente uma vibe diferente. É bem legal fazer algo totalmente novo a partir de uma outra música. Como estão os planos futuros da Epica? É difícil dizer quanto tempo isso tudo ainda vai durar, mas eu tento ser otimista. Quando tudo isso for resolvido, espero que as pessoas assumam uma posição de mudança. Eu tenho muita esperança nisso. Então, acho que tudo acontece por uma razão. Tempos de caos vêm para mudar a forma como as pessoas veem as coisas. Acredito que daremos um passo como humanidade. Mark Jansen, quer deixar uma mensagem para os fãs brasileiros? Primeiro, quero desejar saúde para todos e para todas as famílias. Sei que a situação está ruim por aí, sei que falta oxigênio em hospitais, e isso é muito devastador. Desejo muita saúde e quero dizer para que tentem apoiar uns aos outros nesses tempos difíceis. Mesmo sem poder visitar, podemos ligar, mandar mensagem… isso é crucial.