Francisco, el Hombre apresenta nova versão da canção “Apesar de Você”

“Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaEu pergunto a vocêOnde vai se esconderDa enorme euforia” Os versos acima ecoam na voz de Chico Buarque, e tantos outros artistas, há mais de 50 anos. Composta em 1970, Apesar de Você carrega a potência que driblou a Ditadura Militar no Brasil, e que, mesmo agora, se faz tão atual. Como um ato de celebração e esperança pelos novos tempos pós-eleições, a Francisco, el Hombre apresentou uma releitura da canção. O lançamento chegou às plataformas de streaming e integra um EP com outras duas versões inéditas da faixa — uma a capella e outra instrumental. “É para dar um gás nessa reta final, falando desse amanhã que a gente já vê ali brilhando. Queremos que seja uma celebração e também um tributo a todos aqueles que não chegaram até aqui, mas que nos dão força para conseguir virar essa página da história”, reflete Mateo Piracés-Ugarte, que forma o conjunto ao lado de LAZÚLI, Helena Papini, Sebastianismos e Andrei Kozyreff. Compreendendo a força que a canção carrega, a Francisco, el Hombre optou por uma ideia um pouco ortodoxa para o mercado musical. Criar outras duas versões bases para que o público possa entregar novas perspectivas sobre aquela obra, seja em formato de remix ou com novos vocais, assim, eles também disponibilizam a faixa a capella e instrumental como um convite para colaboração. “Apesar de Você tem um significado tão importante, especialmente agora, que a gente queria que ela fosse ao máximo reproduzida”, conta o vocalista. O produtor Felipe Vassão foi o responsável por traduzir a versão original para a linguagem da Francisco, el Hombre e fez isso de uma forma bastante única. “Ele conseguiu esculpir o nosso arranjo de uma maneira minimalista, mas tendo o necessário para a música ter a cara da banda. No final, ela reflete a gente ao vivo: é brincalhona e feliz”, comenta Mateo. Esta é a segunda regravação que o grupo faz de uma obra de Chico Buarque. A primeira foi Roda Viva, que integra a trilha-sonora de A Fantástica Fábrica de Golpes (The Coup d’État Factory), documentário que destrincha o colapso da democracia brasileira a partir do golpe que resultou no impeachment de Dilma Rousseff. Essa releitura, inclusive, já traz uma citação a Apesar de Você, o que criou um elo ainda mais forte com as duas obras e culminou no atual lançamento. “Essa reta final todo mundo tem que olhar para o trabalho de resiliência e resistência que rolou nos últimos anos para que agora pudéssemos virar a página. O amanhã está quase lá”, finaliza Mateo.
Entrevista | Daymé Arocena – “Quero fazer o jazz popular novamente”

Destaque da nova cena do afrojazz cubano, a cantora e compositora Daymé Arocena, de 30 anos, abraçou de vez o Brasil em seu último single, Dançar e Voar. A faixa, um samba, foi inteiramente composto em português. Aliás, recebeu a produção do carioca Kassin. Produzida entre Porto Rico e Rio de Janeiro, a composição de Arocena ganhou o conhecimento de Kassin, que mergulhou em uma balada samba inspirada em artistas como Djavan, Luedji Luna, Ed Motta e Gal Costa. A banda é formada por Kassin no baixo junto de grandes músicos: Danilo Andrade (teclados), Davi Moraes (guitarra), Alexandre Siqueira (percussão) e Daniel Conceição (bateria). Em entrevista ao Blog n’ Roll, Daymé Arocena falou sobre Dançar e Voar, música brasileira e o que a levou para Porto Rico. Confira abaixo. Impossível não iniciarmos essa conversa sem falarmos sobre Dançar e Voar. A canção é inteiramente em português. Como surgiu esse interesse pelo samba e o idioma? Não era minha intenção escrever essa música em português. Para mim, a linguagem é apenas o canal, o jeito que conecto a minha música, meu mundo. É um jeito de me expressar, mas o mais importante é a música. Eu tinha a melodia, a música, a harmonia, a vibe, o ritmo, e soava como um samba para mim, e aí então decidi fazê-la em português. Só agradeço ao Google Tradutor, pois sempre me ajuda com as línguas que não sou fluente. É uma ferramenta muito boa de se ter, pois agora tudo que eu imaginar posso colocar no tradutor. Aliás, do espanhol para o português, geralmente é muito simples. Apenas faço a letra em espanhol e depois ponho no tradutor, e me ajuda a dar forma a ela. Você sempre ouviu música brasileira? Quais artistas você mais admira no Brasil? Muito. Gosto de muitos compositores e cantores, como Djavan, Ed Motta, Jair Oliveira, Antônia Carlos Jobim e Arlindo Cruz. Também amo cantoras, como Gal Costa, Elis Regina, Maria Rita, claro, Bebel Gilberto. Para mim são como dois mundos, a composição é muito importante, mas a interpretação é o principal objetivo. O Brasil tem ótimos compositores e intérpretes. Quando era mais nova gostava de escutar uma banda chamada Zuco 103 (grupo holandês com vocalista brasileira). Marcos Vale também, pude conhecê-lo pessoalmente, em um festival em Montenegro. Como foi trabalhar com Kassin? O que ele trouxe de bom e inovador para o seu trabalho? Ele é um doce de pessoa. Acho que já tínhamos nos conhecido pessoalmente há alguns anos, mas toda a comunicação foi feita por chamadas de vídeo no Zoom, devido a pandemia. Não tivemos a possibilidade de estar juntos, sentar para trocar ideias na mesma sala fisicamente. Mas, honestamente, a comunicação entre nós foi muito boa, me senti muito conectada com ele desde o começo. Ele entendeu meu mundo, meu jeito, minha missão com a música, e trabalhar com ele foi muito fácil. Atualmente você mora em Porto Rico. Qual foi o motivo dessa escolha? Tem algo a ver com a sua produção? Primeiramente, deixei Cuba em 2019. Foi uma decisão muito difícil, mas foi devido a situação política, uma ditadura que vem oprimindo nosso país há mais de 60 anos. Ficou muito difícil para artistas tornarem seus sonhos realidade. Também enfrentei alguns problemas com o Ministro da Cultura, pois não mantenho minha boca fechada, digo o que penso, o jeito que penso. Meu marido e eu decidimos sair e fomos para o Canadá, que é um lugar muito diferente, uma cultura diferente. Toronto tem uma grande comunidade brasileira. Honestamente, era a melhor parte de morar em Toronto. A comunidade brasileira, as padarias, amava comer sonhos. Era um grande abraço acolhedor para mim. Moramos na região portuguesa, mas todos são brasileiros, chamam de Little Portugal, eu amo Little Portugal. No entanto, houve um momento que o Canadá era muito frio, especialmente para uma mulher caribenha como eu. Gosto de pessoas sorrindo, dançando, gosto de sair, odiava os casacos, o clima frio, tudo isso não era para mim. Mas não planejei sair do Canadá, fui convidada a fazer uma colaboração com um produtor musical de Porto Rico muito bom e respeitado, Eduardo Cabra, conhecido como Visitante do Calle 13. Calle 13? Calle 13 foi um fenômeno musical muito forte, misturando hip-hop com ritmos latinos. Eles eram um duo. Residente que é o René, o rapper, que movia o público, e o outro cara era o Eduardo Cabra, o cérebro musical por trás. Tem uma música muito influente para os latinos, que teve colaboração com a Maria Rita. Então, o Calle 13, fez muito barulho, foi muito grande, mas em certo ponto decidiram fazer cada um seu próprio projeto. O Eduardo continuou focado na produção. Vem fazendo história por sua produção e o jeito que enxerga a nossa música regional. Ele tem 28 Grammys, é um gênio. Trabalhando com ele e vendo sua paixão, vejo que é por isso que tem tantos Grammys. A mente dele é explosiva. Você percebe conexões entre Porto Rico e Cuba? Sou muito mandona com minha música, pois sou compositora, mas vejo que com ele (Eduardo) minhas músicas estão sempre em boas mãos. Então vim para Porto Rico para trabalhar com Eduardo Cabra. Mas desde o primeiro dia, quando coloquei meus pés em Porto Rico, me senti de volta a Cuba. Tive flashbacks de como se estivesse voltando para casa, um sentimento forte, liguei para meu marido e falei para mudarmos para Porto Rico, pois não iria voltar para o Canadá, é melhor vir para cá. E isso foi em novembro, então faz basicamente um ano que mudamos para cá. É difícil achar um lar quando se parte da sua terra natal. É um processo pesado, não vejo minha família há quatro anos. Difícil, mas fica mais fácil quando se encontra um lugar que se parece com a nossa terra, onde se sente uma conexão, para mim é muito importante. Está nos planos fazer shows no Brasil para divulgar seu trabalho? Temos vários festivais relevantes de jazz. Seria uma ótima
Entrevista | Gabrielle Aplin – “Fiz essas canções de maneira muito real”

A cantora e compositora britânica Gabrielle Aplin segue aquecendo o público com singles de seu quarto álbum de estúdio, Phosphorescent, que tem previsão de lançamento para 13 de janeiro de 2023. Aliás, para se aproximar ainda mais dos fãs brasileiros, ela tem investido em lyric video com as músicas em português, como fez recentemente com a dançante e introspectiva Never Be The Same. Never Be The Same é a síntese perfeita entre as duas faces do som de Gabrielle, misturando suas raízes no folk e uma sonoridade que se aproxima do pop alternativo. Ela é um dos destaques do novo álbum da artista, Phosphorescent, que não é necessariamente um produto da pandemia, mas é o da solidão e estranheza que a artista, como muitos de nós, experimentou ao longo desse tempo. Após uma mudança para o interior, com maior conexão com a natureza, Gabrielle descobriu que estava escrevendo canções com uma libertação recém-descoberta. Em entrevista ao Blog n’ Roll, Gabrielle Aplin conversou sobre o novo álbum, a pandemia e a ligação com o Brasil. Anteriormente, a artista participou da novela Totalmente Demais, da Globo, com música na trilha sonora e uma ponta na reta final. Phosphorescent, seu novo álbum, será lançado em janeiro. Como está sua expectativa? Eu espero que seja o maior álbum do mundo. Não diria que tenho expectativas disso, mas gostaria que fosse. Sem dúvida, o meu favorito de todos que fiz, acho que é o mais detalhista, o que mais coloquei carinho em tudo. É meu quarto álbum, então sei do que gosto e não gosto, o que eu faria e o que não faria, então espero que isso transpareça também. Em resumo, é uma união de fatores, espero que pareça muito verdadeiro e tenha muito espaço físico. Então espero que isso apareça quando meus fãs o escutarem. E também terei que viajar por causa dele, então me levará a lugares. Como foi o processo de criação desse trabalho? O que precisou fazer de diferente na comparação com os três primeiros? Escrevi músicas no isolamento do lockdown. Estava apenas escrevendo por diversão, não tinha planos de fazer um álbum. Então meu amigo, Mike Spencer, que produziu o álbum, veio e me perguntou se queria fazer um álbum, e eu tinha todas essas canções que fiz. Pareceu tão natural, tão real, e estava escrevendo canções apenas por diversão, como quando trabalhava em uma cafeteria e compunha, era a mesma vibe. Fiz essas canções de maneira muito real, orgânica, mas também muito isolada. Eu queria que o processo de gravação fosse muito humano, com o máximo de instrumentistas possível, pelo menos para a gravação. E tudo que não fosse real, como por exemplo um simulador de bateria, teria que sair por um alto-falante e uma sala, para dar ambiência, ter uma sensação de espaço físico, isso foi muito importante para mim. Por fim, também queria uma conexão forte com a natureza, queria que tudo fosse muito natural e real. Me esforcei muito para ter certeza de que estava sendo eu mesma. Esse tempo sem álbum novo, quase três anos, traz algum sentimento curioso para você? Com certeza, me sinto como no meu primeiro álbum, English Rain, novamente. Só que com mais conhecimento, e confiança para dizer o que quero e o que não quero. Sinto a sensação de fazer um álbum pela primeira vez, mas já tendo feito antes. Não teve ninguém da gravadora vindo falar comigo e perguntando se podem ouvir algo, mudar algo, se posso fazer uma música de um jeito para ser mais popular, não houve interferência, e não tive que pedir para ser desse jeito, apenas foi desse jeito. Artisticamente fiquei muito grata. No Brasil, você conquistou um grande alcance quando teve o single Home na trilha sonora de uma novela. O que representou para você? Foi muito divertido, eu amei. E tive a oportunidade de fazer uma participação no último episódio, foi doido. É a razão pela qual tenho que voltar para o Brasil, fazer shows, foi uma experiência incrível. Algo que eu nem sabia que existia, e de repente estou no meio de tudo isso. Acho incrível a quantidade de maneiras que uma música pode estourar. Não temos nada equivalente a isso aqui, temos novelas, mas não é a mesma coisa. É muito único do Brasil o que vocês têm com as novelas. Pude ir até o estúdio e ver a gravação, foi uma experiência incrível. Deu tempo de conhecer alguns lugares do Brasil? Na verdade não, preciso voltar, preciso voltar. Foi muito rápido, fiz um show em São Paulo e passei no Rio onde ficavam os estúdios de gravação. Mas amo fazer shows para conhecer fãs, acho que música e fãs são as duas coisas mais importantes. Então adoraria voltar para fazer mais shows pelo país, e tiraria alguns dias para explorar também. A pandemia aflorou muitos sentimentos nas pessoas. A solidão foi um dos mais impactantes. Você passou esse período em Brighton mesmo ou foi para outra região? Como lidou com esse período? Poderia ter sido pior, tive muita sorte, não posso reclamar, mas encontrei muita dificuldade. Eu sofro de TOC, então na época minha pior sensação era de ser uma pandemia global respiratória, e eu pensava que meu pior pesadelo tinha se tornado realidade, então foi bem assustador. Estava em Brighton e tinha acabado de lançar um álbum, e os outros artistas estavam pensando que ia ser um bom período para compor em nossas casas, e eu já tinha feito um álbum e não sabia o que fazer. Então me mudei para uma área mais rural, me senti desanimada, era inverno também, e foi aí que comecei a compor, pois não tinha mais nada para fazer, e nesse ponto já me sentia pronta para compor novamente. Obviamente, agora, estou feliz que fiz isso, mas na época me senti estranha. Foi uma época estranha para todos, tenho certeza que afetou meu álbum de uma maneira interessante, pois como disse, foi uma época onde estava muito isolada, que quando chegou