Pioneiro do rock brasileiro, Erasmo Carlos morre aos 81 anos

O cantor e compositor Erasmo Carlos faleceu nesta terça-feira (22) aos 81 anos. O artista havia passado por uma internação há mais de uma semana em um hospital na cidade do Rio de Janeiro, porém, voltou a ser entubado na última segunda-feira (21). A causa oficial da morte ainda não foi divulgada. Conhecido por ser um dos pioneiros do rock brasileiro, Erasmo Carlos deixa um grande legado para a música no Brasil. Foram 50 anos de estrada, mais de 500 canções e muitos sucessos, como Além do Horizonte, É Preciso Saber Viver, O Bom. Na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, o garoto Erasmo Esteves cresceu cercado por elementos que tornariam sua identidade musical singular. Já adolescente, fez destacar sua personalidade no meio de um bando de fãs de rock´n´roll e bossa nova que se reunia no hoje famoso Bar Divino, na Rua do Matoso. Tim Maia e Jorge Ben, ambos maníacos por música, faziam parte dessa turma. Logo depois, conheceu o capixaba aspirante a cantor Roberto Carlos, em um concerto de Bill Haley no ginásio do Maracanãzinho. Aquela visão do herói do rock americano em solo brasileiro abriu a mente de Erasmo. De volta ao bairro, formou os Snakes com os dissidentes de outro grupo local, os Sputniks – que encerraram atividades após lendária briga entre dois de seus integrantes, Roberto Carlos e Tim Maia. O grupo vocal de Erasmo estrelou algumas aventuras no underground do mercado musical, até ser contratado pela gravadora pernambucana Mocambo como “concorrentes” dos Golden Boys. Na Mocambo, os Snakes gravaram um bolachão de 78 RPM e também um compacto duplo em 1960, antes de chegarem, por fim, a um único LP, Só Twist, pela CBS em 1961. Como nem nesta oportunidade o grupo alcançou o sucesso, seu final foi decretado. Sem seu conjunto e sem a perspectiva de gravação como artista solo, Erasmo foi arranjar trabalho como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial – por intermédio de quem viria a tornar-se crooner do grupo Renato & Seus Blue Caps, em 1962. Com Erasmo dividindo os vocais com o baixista Paulo César, Renato & Seus Blue Caps publicaram seu primeiro LP para a Copacabana. Curiosamente, não muito depois, os Blue Caps acompanhariam o próprio Roberto Carlos na gravação de Splish Splash, numa versão para o português feita por Erasmo. O sucesso do disco garantiu não só a contratação de Renato & Seus Blue Caps pela CBS, como também o nascimento da lendária parceria entre Roberto e Erasmo. Ao mesmo tempo, Erasmo – já com o nome artístico Erasmo Carlos – tornou-se versionista para diversos artistas. Isso, somado ao sucesso de suas parcerias com Roberto, o levou no final de 1964 até a gravadora RGE (mais direcionada à MPB e ao samba), para ser o nome do selo no já disputado mercado do iê-iê-iê. O pop-rock brasileiro, que começara com o rock´n´roll dos anos 50 e havia passado pelo twist do início dos anos 60, chegava ao iê-iê-iê naquele 1964 como um reflexo comportamental local à beatlemania. A Jovem Guarda agrupou as influências do pop britânico e ganhou popularidade definitiva a partir de setembro de 1965 – quando a TV Record estreou o programa Jovem Guarda. Apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa em São Paulo por três anos seguidos, o programa deu visibilidade para que Erasmo e Roberto se tornassem os principais nomes e também compositores da Jovem Guarda, com talento de sobra para garantir material de qualidade até para os colegas. Em pouco mais de cinco anos na RGE, que se estenderam até o final dos anos 60, Erasmo gravou discos com acompanhamento dos amigos Renato e seus Blue Caps, os Fevers, The Jet Black´s e The Jordans, além do Som Três de César Camargo Mariano. Com o fim do programa (e do movimento) Jovem Guarda, Erasmo mergulhou ainda mais na bossa e na MPB que vinha tangenciando ao longo dos anos. Ele, que havia composto para festivais e até gravado Aquarela do Brasil em 1969 -, voltou a morar no Rio de Janeiro e foi contratado pela PolyGram. Naquele início dos anos 70, a gravadora formou um elenco invejável de MPBistas e lá Erasmo deixaria gravados discos que bem mesclaram suas raízes roqueiras com as tendências da MPB. Influenciado pelo movimento tropicalista e pela música negra americana, cravou seqüência antológica de discos durante toda a década de 70, como Carlos, Erasmo… (1971), Sonhos & Memórias 1941-1972 (1972) ou Pelas Esquinas de Ipanema (1978). Tal fase desembocaria, já no início dos anos 80, em período de grande sucesso comercial, com os discos Erasmo Carlos Convida… (1980), Mulher (Sexo Frágil) (1981) e Amar Pra Viver ou Morrer de Amor (1982). Após trabalhar mais esporadicamente durante a década de 90 (quando regravou antigos sucessos, participou de homenagens à Jovem Guarda e de discos-tributos vários), em 2001, completou 60 anos e lançou seu 22º disco, Pra Falar de Amor. O show desse álbum foi lançado depois em CD e DVD: Erasmo Ao Vivo, que, além de registrar um momento histórico de um mito da música brasileira. No final de 2002, os 40 anos de carreira de Erasmo foram comemorados com o lançamento da caixa Mesmo Que Seja Eu – contendo toda a sua discografia no período 1971-1988, recheada de material bônus raro e inédito. No ano seguinte, ao final do 10º Prêmio Multishow de Música, Erasmo foi o grande homenageado da noite – com um prêmio especial pelo conjunto da obra. Sua discografia teve continuidade em 2004 com Santa Música, só com material inédito e nos coroando em 2007 com Erasmo Carlos Convida II reunindo feras da MPB em torno de sua obra. A escalação dessa autêntica “seleção brasileira” passa por nomes como Chico Buarque, Lulu Santos, Zeca Pagodinho, Skank, Los Hermanos, Os Cariocas, Djavan, Adriana Calcanhoto, Simone, Marisa Monte , Kid Abelha e Milton Nascimento. Nesse período, começou a escrever o seu petardo literário Minha Fama de Mau reunindo suas memórias e que veio a ser lançado em 2009. Neste mesmo ano, lançou seu

Crítica | O Milagre

Engenharia do Cinema Filmes com temática religiosa normalmente dividem e muito público, não só pelo seu aspecto técnico, mas pelo seu roteiro. Apesar de termos um caso recente com “Nada é Por Acaso“, “O Milagre” facilmente poderia entrar neste quesito, principalmente por se tratar de uma obra que nos faz questionar os atos dos personagens, ao invés de embasar uma diretriz óbvia em seu roteiro. E isso fica bastante explícito desde sua abertura, onde uma narração em off deixa enfatizado isso para o público leigo (tanto que alguns desavisados, achavam que se trataria de um filme de terror/suspense devido ao material promocional acidentalmente mirar eles).      Inspirado no livro de Emma Donoghue, a história se passa em 1862, quando a jovem enfermeira Lib (Florence Pugh) é enviada ao norte da Irlanda, para investigar o estranho acontecimento de Anna (Kíla Lord Cassidy), uma menina que não estava se alimentando há quatro meses. Desafiando a igreja e vários médicos, ela é encarregada de tentar descobrir se tudo aquilo é uma farsa ou verdade. Imagem: Netflix (Divulgação) Sob direção de Sebastián Lelio (“Uma Mulher Fantástica“), este é mais um projeto do cineasta que fala sobre perdas e como o ser humano reage com relação a isso. Como dito no primeiro paragrafo, estamos falando de um projeto cujo propósito é fazer o espectador raciocinar sobre o quão a fé é uma questão individual, e como a Igreja é realmente um grande divisor de águas, quando o assunto se trata de milagres. E para isso o mérito vai para o talento da própria Pugh e Cassidy, que além de conseguirem transpor emoções pesadas, em momentos chaves (há duas cenas em específico, que ambas realmente estão ótimas ao transpor o drama da situação), possuem uma excelente química necessária para este contexto. “O Milagre” acaba sendo um interessante retrato reflexivo, que consegue se segurar por mérito de suas ótimas atuações.