Entrevista | Aléxia – “Participar da turnê com o The Calling é uma oportunidade que muitas bandas independentes adorariam”

Entrevista | Aléxia – “Participar da turnê com o The Calling é uma oportunidade que muitas bandas independentes adorariam”

A cantora e compositora Aléxia vive um dos momentos mais importantes de sua carreira. Em outubro, ela será a atração convidada em quatro shows da turnê da banda norte-americana The Calling no Brasil, passando por Curitiba, Santo André, Belo Horizonte e Brasília. Além disso, a artista mantém uma agenda intensa como atração principal em cidades do interior e litoral paulista, como Sorocaba, Santos e Tatuí.

Em entrevista ao Blog n’ Roll, Aléxia contou sobre a expectativa de dividir o palco com um grupo que marcou gerações, falou do novo single Monstro e revelou os próximos passos da carreira, incluindo a preparação de seu primeiro álbum.

Imagino que para a geração 2000 é sempre uma vitória estar abrindo shows como esse, né? Como você recebeu esse convite?

Nossa, eu fiquei extremamente feliz, emocionada e honrada. Porque uma banda como o The Calling marcou a geração 2000 e influenciou muita gente que veio depois, inclusive nós. Então eu fiquei realmente honrada. Parece que ainda não caiu a ficha, acho que só quando estiver acontecendo vai cair de verdade.

No Brasil é sempre uma missão difícil abrir shows. O que você está preparando para essa apresentação? Vai focar mais no lado autoral ou nas versões? O que o público pode esperar do repertório?

Quero dar bastante ênfase para o autoral nesse show. Acredito que o principal objetivo é realmente poder mostrar o meu trabalho para as pessoas. Participar dessa turnê é uma oportunidade que muitas bandas independentes adorariam. Então quero aproveitar ao máximo para apresentar minhas músicas. Vou incluir duas ou três versões, dependendo da cidade, mas o set será formado principalmente pelas minhas autorais. Também penso em colocar alguma música nova que ainda não lancei, como uma surpresa.

E se por algum motivo fluísse bem o relacionamento de vocês na turnê, existe alguma música do The Calling que você gostaria de dividir o palco com o Alex Band?

Com certeza. A “Stigmatized”. É uma música que eu gosto muito e adoraria se ele me chamasse para cantar. Seria incrível.

Você foi recentemente ao ensaio aberto da Pitty para o The Town na Audio. A Pitty é da Bahia, você é de Apiaí, interior de São Paulo. Quais os desafios de ser mulher e fora das principais cidades no rock? Como você enxerga esse cenário no Brasil?

Aqui no interior a gente tem uma grande predominância do sertanejo, e o público não consome tanto rock. Existe essa dificuldade de levar as pessoas para os shows. Em São Paulo capital já acontece muito mais coisa, mas nós mulheres ainda precisamos ultrapassar grandes barreiras. Acho que já melhorou bastante, hoje vemos muitas bandas e artistas femininas como a Eskrota, The Mönic, Giovanna Moraes e Crypta, todas fazendo um baita trabalho. Mas ainda sinto falta do protagonismo, de ver festivais e eventos realmente liderados por mulheres. Também é importante o apoio da cena, de artistas que já estão consolidados. Existe muita artista feminina no underground, mas ainda há uma barreira grande. Torço para que uma dessas mulheres consiga estourar essa bolha. Hoje temos a Pitty no mainstream, mas seria incrível se tivéssemos muitas outras.

Temos inclusive aqui em Santos um evento chamado Chiquinha Gonzaga, organizado pela Carla Mariani, que dá visibilidade apenas para atrações femininas. Sempre é bom ver esse caminho sendo construído. Você mesmo começou cedo na música e só profissionalizou recentemente. Qual foi o momento em que decidiu investir de vez na carreira?

Eu cheguei a fazer faculdade de veterinária e trabalhei na área, mas a música sempre foi um sonho. Há quatro anos surgiu a oportunidade de cantar numa banda chamada Cherry Bomb. Eu agarrei esse convite, mesmo sendo uma banda cover de bar, porque era o que eu queria fazer. Depois começamos a compor autorais e o trabalho foi crescendo. Quando percebi que a música já estava me trazendo frutos, inclusive financeiros, maiores do que a veterinária, larguei a outra carreira para seguir só com a música. Não é fácil, mas fazer o que a gente ama é muito mais tranquilo do que quando eu trabalhava como veterinária, algo que eu não gostava.

É difícil definir seu som em um rótulo só. Tem rock, hard rock, emo, pop punk e até elementos eletrônicos. Como você se apresentaria para quem ainda não conhece seu trabalho?

Eu costumo dizer que se você gosta de rock vai gostar, se gosta de pop também vai gostar. Meu som transita pelo alternativo, pelo rock e pelo pop. Muitas pessoas que não eram fãs de rock ou tinham preconceito acabam curtindo o meu show. Tenho fãs que são ligados às divas pop, outros ao emo, outros ao rock mais tradicional. Eu gosto de misturar várias coisas e depois fica até difícil me nichar, mas é isso que me define.

Aproveitando que estamos chegando em outubro, mês do Halloween, e que você lançou o single “Monstro”. Vai aproveitar a turnê ou a data para criar algo temático?

Com certeza. Teremos shows depois da turnê em que quero manter esse clima, porque é um show que estou preparando com uma vibe mais dark e gótica. Estou planejando telão, figurino e elementos de palco que tragam essa atmosfera mais monstruosa. Também quero levar essa proposta para outros shows fora da turnê. Gosto muito de Halloween e, se puder, farei até festa à fantasia.

A letra de “Monstro” fala bastante sobre conflitos pessoais. Como é seu processo de composição? São histórias pessoais ou você se baseia em ficção?

Normalmente escrevo sobre experiências e vivências minhas. Desde nova tenho o hábito de escrever, então costumo criar a letra primeiro, depois penso na melodia e os meninos me ajudam com os arranjos. “Monstro” fala sobre sermos colocados como vilões na história dos outros, mas também sobre reconhecermos que somos vilões das nossas próprias histórias. Muitas vezes eu mesma fui o meu próprio monstro. Quis trazer essa reflexão para a letra, com uma inspiração também na Lady Gaga, que é uma artista que admiro muito.

Você já tocou em festivais importantes ao lado de artistas como CPM22, Fresno, Nando Reis, Stone Temple Pilots e Detonautas. Qual show mais te marcou até agora?

Todos marcaram de alguma forma. O Capital Moto Week foi especial porque foi a primeira vez que tocamos em outro estado, no palco principal, para um público enorme. Foi uma experiência incrível. Mas quando toquei com os Detonautas no Rock in Lago, em Jacutinga, teve algo diferente. Eles me receberam no camarim, conversamos bastante e até assisti ao show do palco. O baixista foi super atencioso, me incentivou e me deixou muito feliz. Me senti muito acolhida. Foi um momento que guardo com muito carinho.

E há planos para um álbum? Já pode me adiantar alguma coisa?

Estamos começando a trabalhar em faixas inéditas porque quero muito lançar um álbum coeso, que faça sentido como um todo. Eu gosto de ouvir álbuns completos, apesar de hoje as pessoas estarem mais acostumadas com singles. Minha ideia é lançar no primeiro semestre de 2026. Depois da turnê vamos entrar em estúdio para gravar e trazer um som mais maduro, com outras referências. Quero incorporar elementos de blues e rock clássico, mas de uma forma moderna.

Para esse lançamento, você sente alguma pressão de precisar fazer um som que “venda” ou você tem liberdade para seguir sua identidade?

Me sinto bem livre. Claro que pensamos se determinada música será bem recebida, mas nunca fazemos algo apenas para vender ou porque está em alta. Criamos o que gostamos e acreditamos. Acho que as pessoas se conectam comigo pela verdade, então é importante manter esse caminho. É melhor fazer do nosso jeito do que tentar agradar a todos, porque sempre haverá alguém que não vai gostar.

Você disse que gosta de álbuns completos. Quais são os três discos que mais te marcaram e que você levaria para ouvir do começo ao fim em uma turnê?

Eu escolheria “The Fame Monster” da Lady Gaga, que me marcou muito. “Americana”, do Offspring, que ouvi bastante com meu pai. E o “Riot!”, do Paramore, que também foi muito importante para mim. Esses três resumem bastante a minha identidade. Mas também curto Led Zeppelin, Black Sabbath, Cranberries, Guns N’ Roses… Todos eles fazem parte da minha formação musical.