Sumidouro é o álbum de estreia de Rafael Baldam e apresenta uma jornada instrumental construída a partir de seis interpretações que funcionam como capítulos de uma mesma narrativa. Mais do que um disco, o projeto nasce como uma obra multimídia que integra música, texto e colagens visuais, ampliando a experiência para além do áudio e propondo diferentes camadas de leitura e escuta.
A ideia do trabalho surgiu da inquietação criativa de Baldam, interessado em transitar por linguagens diversas como composição, interpretação, escrita, colagem e vídeo. Ao perceber que essas práticas não eram paralelas, mas complementares, o músico passou a integrá-las em um único processo criativo. O resultado é um álbum que se organiza em três dimensões interligadas: a música que conduz, o texto que orienta e as imagens que completam o percurso narrativo.
O ponto de partida de Sumidouro está na escolha de composições de nomes centrais da cena paulista da música brasileira contemporânea. As versões instrumentais criadas por Rafael abriram espaço para a construção de um conto em prosa poética que acompanha o disco. Cada faixa ganhou também uma colagem própria, reunidas em um livro que estabelece o elo entre som e imagem e reforça o caráter conceitual do projeto.
O repertório reúne obras de Maurício Pereira e Daniel Szafran, Marcelo Cabral e Rômulo Fróes, Dandá Costa, Rodrigo Campos, Thiago França e Kiko Dinucci. Todas as faixas foram rearranjadas e executadas por Rafael em formato solo, criando um panorama coeso de referências que dialogam entre si e ajudam a desenhar o universo sonoro do álbum. Segundo o músico, a escolha desses compositores reflete tanto uma afinidade estética quanto um gesto simbólico de filiação artística.
A travessia sonora começa com Pra Marte, que desloca elementos originalmente vocais e de sopro para o violão, aproximando a faixa do choro. Invente o Amor apresenta mudanças sutis de timbre e sinaliza novos caminhos. Em “Bandeira”, o tom menor e a entrada da guitarra ampliam o espaço sonoro e marcam outra etapa do percurso.
Single do disco, Na Memória Vida Outra sintetiza aspectos centrais do projeto ao alternar o protagonismo entre violão e guitarra, reorganizando a tensão da faixa. Dentro da Pedra aprofunda a exploração de efeitos e reverberações, com a guitarra assumindo papel central. O encerramento fica por conta de Ciranda do Aborto, que parte de arpejos contidos e avança para camadas mais densas, concluindo a narrativa proposta ao longo do álbum.
Gravado entre julho e agosto de 2025 no Juá Estúdio, em São Paulo, Sumidouro teve captação e mixagem assinadas por Leonardo Ost e Alencar Martins. Rafael Baldam responde pelos arranjos, interpretações, texto e colagens que acompanham o disco, articulando todas as etapas do projeto em uma obra que se completa na soma de suas linguagens e convida o público a construir sua própria relação com esse trabalho de estreia.