Por Cássio Barco
Se alguém ainda tinha alguma dúvida, o lançamento do AM esclareceu. O último disco dos Arctic Monkeys colocou a banda no topo da atual geração. Liderando os charts na Inglaterra e no Mundo nos últimos dez anos, os – já não tão – garotos de Sheffield são máquinas de hits. Dá pra apontar dezenas que não saem das nossas cabeças, mas talvez o mais interessante seja reparar nas extraordinárias diferenças entre as duas pontas, de When The Sun Goes Down a Snap Out of It.
Quem acompanha a banda desde o começo pôde acompanhar de perto essa evolução. A mudança de temas nas músicas, das farras irresponsáveis pelas ruas de Londres, aos one night stands e as descobertas sexuais de Alex Turner. É interessante observar como Riot Van se tornou Why’d you only call me when you’re high, e fez com que os caras conquistassem o mundo e se tornassem extremamente populares.
Algumas dessas mudanças chocaram os fãs – a do Humbug é mais explícita – mas os Monkeys sempre deixaram pistas do que estavam se tornando em canções obscuras, no espaço que usam para experimentar e testar novos sons: as side-Bs dos singles.
O curioso é que, pela recente popularização do grupo – o que eu sou sempre a favor – muita gente que converso, e curte a banda, nunca nem ouviu falar destas músicas. Fiz essa lista com dicas para quem ainda não conhece essas faixas perder horas dos próximos dias ouvindo, ou para os já admiradores das Side-Bs me ajudarem no exercício de colocar isso tudo em uma ordem nos comentários.
Vamos lá, então? Só valem canções que não entraram em nenhum álbum completo. Algumas estão dentro de outras, inclusas como sugestão, porque são MUITAS – outras tiveram de ficar fora mesmo. De bônus, como sou grande fã do compositor Alex Turner, separo a frase preferida de cada canção. Bora lá, countdown.
15. IDST (Don’t sit Down Cause I Moved Your Chair, 2011)
Tem muita ousadia escancarada nestes singles. I.D.S.T parece uma canção punk perdida dos anos 90. A repetição do título, o baixo aglutinador, e a guitarra estridente, são elementos perfeitos do estilo. Nada tem a ver com o som que os caras estavam fazendo no momento, mas dá uma boa ideia do que poderia ter sido a banda se tivesse seguido em um estilo diferente. Pros fãs do punk é um prato cheiaço.
Melhor verso: Essa é a letra mais pobre do Arctic Monkeys, apesar de justificável pelo estilo. Fica a curiosidade I.D.S.T nada tem a ver com doenças venéreas e significa If Destroyed Still True.
14. Evil Twin (Suck it and See, 2011)
O maior retrato da influência de Josh Homme no trabalho de amadurecimento e produção dos Arctic Monkeys. Apesar do período mais presente ter sido durante o isolamento do deserto e o ressurgimento com o Humbug, Evil Twin é um resquício do trabalho de Homme. Tem cara de Queens of The Stone Age e cheira a Them Crooked Vultures. Mas é Arctic Monkeys e dos bons.
Melhor verso: It’s just your love is not what I need / So don’t give it to me
13. You’re So Dark (One For The Road, 2013)
You’re So Dark é menos uma experiência diferente e mais uma música que não foi boa o suficiente para entrar no álbum. Ruim? De jeito nenhum, um negócio que o Arctic Monkeys não sabe fazer é música ruim. A voz abafada e grave de Alex Turner sempre vale ser ouvida. You’re so Dark não não te prende, você não vai tocar para uma garota, mas é um bônus perfeito para quem tem mais vontade de AM. A ideia de dizer a alguem o título da canção é o principal atrativo, junto com a escalada no final.
Melhor verso: I saw you driving your Prius / And even that was Munster Koach-esque
12. Bigger Boys and Stolen Sweethearts (I Bet you look good on the Dance Floor, 2005)
Essa é para matar a saudade da melodia infantil, da letra mais ainda, e de tudo que a gente mais gostava daqueles Arctic Monkeys que chegaram nos conquistando com seus moptops, frases feitas e músicas pegajosas. Um mistura de Fluorescent Adolescent e A Certain Romance. Enough said, hit play.
Melhor verso: I know you thought she were different and you thought she were nice / But she’s not nice, she’s pretty fucking far from nice / She’s looking at ya funny, rarely looking at ya twitce
11. Bad Woman (Teddy Picker, 2007)
A discplicência e inexpressão no vocal estão carregadas de influência do final dos anos 80. A sutil mudança no tempo e até referência de outros estilos, como até o country, fazem desta faixa um daqueles anúncios de mudanças mencionados no começo. Este foi o último single antes do lançamento do Humbug, dois anos depois, e já dava grandes indícios da evolução que a banda passava. A única contramão é a letra, fraca. Do Humbug para frente elas parecem melhores trabalhadas. Alguém brincou bastante com o coração de Alex Turner quando ele escreveu Bad Woman.
Melhor verso: Não há. Olha o nível do chororô: I see another man / And it’s this waiting I just can’t stand / You are a bad bad woman
10. The Death Ramps (Teddy Picker, 2007)
Um negócio que eu sinto falta nos sons mais novos do Arctic Monkeys é a ousadia e criatividade dos caras para interludes e instrumentais. No AM tudo ficou mais simples, e só me vem na cabeça aquele meio de Fireside. Pra quem gosta, The Death Ramps é uma destas experiências, só que prolongada. Toda instrumental e viajada. Se curtir, escute as side-Bs Matador e Chun Li’s Spinning Bird Kick, na mesma pegada: muito som e pouca letra.
https://www.youtube.com/watch?v=5HIamcQn_lg
Melhor verso: Rá.
9. Electricity (R U Mine, 2012)
Prepare-se para viciar nessa Side-B desde a primeira nota do riff da guitarra – que aliás lembra o de Woman do Black Sabbath. Mas a vibe da canção é outra. O balanço entre o ritmo acelerado dos instrumentos e o vocal mórbido de Turner é perfeição. A bateria de Matt Helders é daquelas de dar vontade de jogar as mãos ao vento e tocar junto, como fazem ele e Alex no clipe de R U Mine, música título do single de origem dessa faixa.
Melhor verso: My heart was breaking and got left unlocked / didn’t see you sneak in but I’m glad you stopped
8. I haven’t got my strange (Crying Lightning, 2009)
Começa a bater a preocupação. Tem muita música boa e algumas vão ficar fora. É difícil até escolher entre músicas do mesmo single. I Haven’t got my strange vai te fazer passar o dia inteiro repetindo a frase do título, mas Red Right Hand é grande também. Na mesma pegada, mas mais para trás, escute também Tempations Greet You Like Your Naughty Friend, side-B de Brianstorm.
Melhor verso: Essa música tem dois geniais, o primeiro: I had a hole in the pocker of my favourite coat and my love dropped into the lining / Not on me. I haven’t got my strange. E esse aqui: You can’t sleep until you’ve sat on the steps to weep until you feel like you’ve wept.
Mensagem do Boat do futuro: Terminei a lista e percebi que esqueci de colocar a ótima Stickin to the floor, do primeiro single, When The Sun Goes Down. Encaixei ela aqui porque se você gostou das que estão acima, vai curtir essa também.
7 – Catapult (Cornerstone, 2009)
Se você não é fã, já deve ao menos ter ouvido falar do projeto paralelo de Alex Turner com Miles Kane, The Last Shadow Puppets. Se não conhece, vá ouvir já. Se gosta e lamenta até hoje que só lançaram um álbum, The Age of the Understatement, Catapult é um bônus. O vocal suave e o violão, invadido por sons atordoantes durante a música, lembra muito o som dos Puppets, embora os versos sedutores sejam muito AM material.
Melhor verso: And if his whispers split the mist / just think of what he’s capable with a kiss / nice try, you cannot turn away but nice try / turns your legs to little building blocks
6 – Don’t Forget Whose Legs You’re On (My Propeller, 2010)
O primeiro sinal do que poderia vir no AM veio antes mesmo do Suck It And See, ainda nesse single de My Propeller, que aliás é uma obra de arte. Don’t Forget Whose Legs You’re On é simples, sem fogos de artifício, e incrível – técnica que os Monkeys dominaram em seu último álbum. Façam um favor a vocês mesmos e também escutem a balada Joining the Dots, do mesmo single.
Melhor verso: Stone blower, blow me a stone and show me that handsome enhancer / She had a rock on her throttle and a brown glass bottle full of shavings from the sun / Although those shoes affect your step don’t forget whose legs you’re on
5- The Bakery (Fluorescent Adolescent)
Joining the Dots, mencionada acima, é uma balada intimista e fantástica. Mas a mais ‘fofa’ entre todas as side-Bs é definitivamente The Bakery, uma espécie de Mardy Bum, mais simplória e tão apaixonante quanto. Lá do começo da carreira deles, com alternância entre os solos simplistas e os acordes abertos e carregados de reverb, essa faixa é daquelas pra ouvir no repeat, tomando água de côco com ‘mozão’ na praia e vendo o sol se pôr.
Melhor verso: And the more you keep on looking / The more it’s hard to take / Love we’re in stalemate / To never meet is surely where we’re bound
4- Despair In The Departure Lounge (Who the Fuck are Arctic Monkeys)
Who The Fuck Are Arctic Monkeys não é um single com side-b’s mas um ‘mini-álbum’ com músicas que não entraram nos outros discos, mas igualmente incríveis. Talvez o melhor trabalho dos Monkeys em seu universo obscuro e alternativo. Despair In The Departure Lounge tá aqui no top para representar as outras porque é a mais viciantes das faixas dessa obra de arte, mas ouça também a incrível No Buses e a enérgica Cigarette Smoker Fiona.
Melhor verso: It seems as we become the winners / You lose a bit of summat / And half wonder if you won it all
3 – Afternoon’s Hat (My Propeller, 2010)
Vai lá, aperta o play, ouve esse Lá Menor soando na guitarra e a primeira frase de Alex Turner nos 10 segundos iniciais, volta aqui, e me diz se isso não é puro ouro. Não precisa de mais que isso para perceber o quão magnífica é Afternoon’s Hat. Se tivesse entrado para o Humbug seria uma dos melhores do álbum. Mas não fique só no começo não, lá pro final tem uma quebradeira meio Dance Little Liar meio Perhaps Vampires que vai te jogar pra fora do sofá, da poltrona, ou de onde estiver ouvindo.
Melhor verso: Was away the evening, the afternoon, the afternoon’s hat / Together we’ll fin something to direct some laughter act.
2 – Leave before the lights come on
Essa música é totalmente desencorajante de escrever sobre enquanto se escuta a própria. Dá vontade de colocar qualquer frase aqui, levantar e dançar, com a mão no coração, os olhos fechados e tudo. Foi escrita para o primeiro álbum, não entrou, e lançada depois como single. Poderia ter o título “por que one night stands não viram uma pizza no dia seguinte”, sentimento que muitos de nós, homens ou mulheres, já tivemos. Essa tem até clipe!
Melhor verso: Vou colocar dois. She’s thinking he looks different today / And oh there’s nothing left to guess now. E esse aqui: And how can you wake up / With someone you don’t love? / And not feel slightly fazed by it / Oh, he had a struggle.
1 – Stop The World I Wanna Get Off With You
Abre-te, Sésamo! Chegou a número um. Arctic Monkeys consegue pegar frases bobas e batidas como essa primeira, ou a do título, e fazer um musicaço. É a melhor Side-B do AM e impossível de entender como não entrou para o álbum. Para o mundo que eu quero ouvir Arctic Monkeys. Queremos mais side-B’s. Enquanto os próximos singles não chegam, preparei uma playlist no Spotify com as descritas nesta lista e outras boas músicas que ficaram fora, tá aí no final também.
Melhor verso: Well I know that getting you alone isn’t easy to do / But with the exception of you I dislike everyone in the room.