JONATHAN VINCENT
É incrível como a banda liderada pelo vocalista Greg Graffin ultrapassa gerações se mantendo relevante entre os fãs de punk rock. Eles começaram ganhando destaque na cena musical de Los Angeles ao lado de bandas como Circle Jerks e Black Flag no começo dos anos 80. Na década seguinte, eles ainda conseguiram espaço em um cenário de gravadoras grandes sedentas por bandas independentes após o sucesso de artistas que vieram do underground como Nirvana, Green Day e The Offspring. Os anos 2000 chegaram e a volta do guitarrista original Brett Gurewitz consagrou a banda como um ato atemporal e ativo entre os fãs do estilo.
Seja em 1988 com o clássico disco Suffer, nos anos seguintes com o comercial porém bem executado Stranger Than Fiction ou ainda o surpreendente The Process of Belief (2002), uma coisa é clara: na cartilha de bandas obrigatórias que um fã de punk rock deve ouvir, o Bad Religion está sacramentado em uma posição bem alta.
Eu poderia acabar o texto neste primeiro parágrafo e dizer que isso já resume a apresentação dos caras na tarde de sábado (12) no Lollapalooza Brasil. Às 16h10, eles subiram no palco Skol (o maior e principal do festival, aliás) e já logo mandaram a empolgante Fuck You, do disco True North (2013), para agitar a enorme plateia composta por gente de todas as idades.
Tendo sido presença constante no País desde os anos 90, o quinteto sabe bem como o público brasileiro é um dos mais animados do mundo e tratou de tocar na sequência o sucesso noventista 21st Century (Digital Boy). Ao continuar, eles emendaram com músicas não tão badaladas (entretanto, excelentes) como Sinister Rouge e New America – que ganhou o adaptado refrão “we need a new Brasília/open your eyes Brasília” e combinou bem com o atual cenário político conturbado do Brasil.
“Eu não sei se os bilhões sobreviverão, mas acreditarei em Deus quando um mais um for igual a cinco”, proclama a letra do hino Do What You Want, iniciando a sequência de músicas pertencentes ao mais do que clássico Suffer. Essa parte do show fica latente como a banda é digna de aplausos por ainda se manter viva e interessante em quase décadas de carreira.
Assim como esse que vós escreve, mais gente da plateia não havia nem nascido quando foi lançado o álbum que estabeleceu a gravadora Epitaph como o lar das melhores bandas de punk rock. O pessimismo de versos como “as massas da humanidade sempre terão de sofrer” parecem ter saído de uma alguma postagem da página Niilinguido e representam bem as ponderações filosóficas contidas em boa parte do catalogo da banda.
Em seguida, os veteranos tocaram canções mais recentes como New Dark Ages, Prove it e Los Angeles is Burning. No meio, ainda encontraram espaço para colocar a boa e velha Atomic Garden (pertencente ao subestimado disco Generator, de 1992). A crua e direta I Want to Conquer the World veio na sequência, motivando gritos dos fãs com a letra megalomaníaca.
Um dos principais motivos da banda ter fãs na faixa dos 20 e poucos anos de idade foram as músicas licenciadas para uma série de mídias diferentes no final dos anos 90 e começo da década seguinte. Isso ficou bem claro quando You, presente no clássico jogo Tony Hawk’s Pro Skater 2, agitou até mesmo os ouvintes passivos de Bad Religion no público.
Infelizmente, apenas uma música do debute How Could Hell Be Any Worse? figurou no setlist. Menos mal que a escolhida foi o hino Fuck Armageddon… This is Hell! e representa o humilde inicio de carreira da banda quando ainda tocava em apertados palcos da cidade de Los Angeles.
Para fechar a conta, a perturbadora Infected, a balada Sorrow, a classe de Generator e a extremamente popular American Jesus fecharam a apresentação. Falo por muitos fãs do grupo quando afirmo que as letras questionadoras assim como a sonoridade mudaram minha vida em algum ponto dela. Naquela época, fui apresentado às mensagens de protesto contra religião, política e sociedade contemporânea escritas pelo genial Greg Graffin. O som me fez procurar outras excelentes bandas de estilo similar pertencentes às eras em que o grupo manteve sua relevância no alto escalão do punk rock (fato que persiste até hoje).
Que as visitas constantes ao Brasil continuem por um bom tempo. As próximas gerações de ouvintes necessitam disso, mesmo que “nenhuma canção do Bad Religion irá completar sua vida” – trecho de No Direction, uma sentida ausência no setlist dessa vez.
Setlist:
Fuck You
21st Century (Digital Boy)
Overture
Sinister Rouge
Come Join Us
New America
Do What You Want
You Are (The Government)
Delirium of Disorder
Suffer
New Dark Ages
Supersonic
Prove It
Can’t Stop It
Atomic Garden
Los Angeles Is Burning
I Want to Conquer the World
Punk Rock Song
You
Fuck Armageddon… This Is Hell
Infected
Sorrow
Generator
American Jesus