Lufadas com o sabor e as marcas do agreste injetam, de forma cíclica, quinhões de inspirações na asséptica produção roqueira midiática nacional. Não é de hoje que ventos soprados de Pernambuco são responsáveis por novas safras e cataclismos renovadores vindos da marginália do mangue de Recife. Pequenas tormentas que indicam novos ares na cena independente.
E a primeira faixa revelada de Pineal, segundo disco autoral do Tagore, é rajada e fúria em doses homéricas de psicodelia capazes de varrer quarteirão. O single Mudo tem cores vibrantes em predominante ar retrô setentista, mas absorvendo o que há de vanguarda no cenário atual. Como Terral, é apenas um presságio do que virá.
Ouça o single Mudo
Pineal tem lançamento previsto para outubro deste ano. As 12 faixas do álbum foram gestadas em seis meses de produção em estúdio caseiro, no Recife.
Tagore está dividido em dois mundos: o dos riffs distorcidos e sintetizadores eletrônicos; e o universo popular da poesia regional sertaneza. O projeto pernambucano teve o efeito de uma bomba. O encontro de Tagore Suassuna com o multi-instrumentista João Cavalcanti resultou no EP Aldeia, de 2010.
A dupla convocou alguns amigos e caiu na estrada para participar dos principais festivais alternativos do país. Quatro anos depois, Movido a Vapor, o primeiro álbum da banda, saiu das prensas do selo independente Cósmica.
Ouça Movido a Vapor
Caldeirão de influências, o trabalho trouxe um empolgante indicador para o cenário roqueiro brasileiro. Letras espertas, que costuram um mosaico diálogo das complicações da modernidade e o epicentro do caos de cada dia. E, claro, timbres setentistas vindos do rock rural e o admirável mundo novo dos BPMs.
As referências da trupe estão escancaradas. A melodia marcante cheira ao agreste psicodélico da turma do udigrudi. Salada de fruta temperada com ácido lisérgico a unir Ave Sangria, Lula Cortês, baião, soul, riffs, efeitos, distorções e o Verão do Amor californiano. Os curtos versos muito bem costurados germinam as sementes plantadas por Tom Zé.
Agora, o grupo é uma das joias da multinacional Sony – uma das grandes que apostou no mangue-beat, na década de 1990. A faixa revelada pinta uma aquarela interessante do futuro álbum.