RICARDO AMARAL
1966. Havia uma expectativa que só não era maior do que a certeza de que seria muito bom. Este espírito dominou os anos sessenta no que se refere aos lançamentos de novos discos e sucessos. Mas o ano de 1966 seria então o grande salto para o “futuro”. O som ainda andava meio preso entre o “and roll”, o folk de protesto de Dylan, Baez e Pete,Paul e Mary e a alucinação de Beatlemania.
As influências vindas do flower power já eram enormes e, o primeiro grande impacto viria em maio, com o lançamento de Pet Sounds, a grande guinada do espetacular Brian Wilson, guru dos Beach Boys. O abandono da estrutura simplória dos arranjos por minuciosos devaneios orquestrais surpreendia o que havia até então.
Mas Pet Sounds não nasceu à toa. Em dezembro de 1965, os Beatles criaram o primeiro grande álbum de mudanças, Rubber Soul, repleto de influências orientais, das quais se destaca Norwigean Wood, primeira canção pop a utilizar a cítara, instrumento indiano, em seu arranjo.
Brian Wilson se referiu ao álbum como a “grande mudança”, despertando nele o interesse em decompor a imagem praiana de sua banda. Pet Sounds é um disco intimista e ousado, cujas canções alteram o casuísmo e recriam a poesia do então grupo adorado pelos surfistas. Destaque para God Only Knows, na voz de Carl Wilson. Notem-se as trompas a abrir a canção e a percussão totalmente nova para a banda. O corte melódico preparando os vocais incomparáveis da banda californiana criam um épico inédito para aquela época.
Caroline No, na voz de Brian, cria um ambiente suburbano e com dissonância necessária. A “pegada” Beach Boys aparece na excelente Wouldn’t it be Nice. Rubber Soul havia criado um “cisma” no pop e Pet Sounds definiu que nada mais seria como antes. Nada! Dai, viria Revolver, direto da fonte. Os Beatles preparavam então a introdução à nova música pop. Mas isso é conversa pra depois.
5 Comments
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Julio Martins
7 de fevereiro de 2017 at 14:48
Excelente Ricardinho!! Só vc mesmo! Não esperava menos!!! Rsrsrs esse “duelo” entre Beach Boys e Beatles pela disputa de harmonia e arranjos só enriqueceu e deixou-nos com essas obras de arte! Parabéns e aguardo mais.
Samir Khoury
7 de fevereiro de 2017 at 17:13
Noto que o autor traça comentários abalizados e com rara percepção. Isso nos provoca um deleite, sobretudo por sua sensibilidade acústica e notável exposição de conhecimentos.
Vivi o auge desse enredo glorioso e imortal. Sei que muitos estavam alí, independente da dispensável presença física.
Parabéns pela iniciativa!
Ricardo Amaral
9 de fevereiro de 2017 at 16:27
Julinho, meu querido! Estarei por aqui contando sobre cantar e ouvir. Obrigado por seu carinho!
Ricardo Amaral
9 de fevereiro de 2017 at 16:29
Conto muito com vc e sua maravilhosa capacidade de se emocionar. Vamos viver essas lembranças juntos!
Zeca Papa
14 de agosto de 2017 at 12:51
Parabéns Ricardo
Gostei muito. Vc sempre direto e certeiro.
Continue assim.
ABS
Zeca Papa