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Blog n' Roll na AT - Lucas Krempel

Blog n’ Roll na A Tribuna #11 – 23 anos do M2000 Summer Concerts

Fotos: Carlos Marques / A Tribuna

No verão de 1994, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro aguardavam ansiosamente pelos shows de Robert Plant, Ugly Kid Joe, Poison e Aerosmith (à época, ainda inédito no Brasil) no Hollywood Rock, as praias do Boqueirão (Santos), Barra da Tijuca (Rio de Janeiro), Capão da Canoa (Rio Grande do Sul) e Camboriú (Santa Catarina) receberam uma sequência de grandes apresentações nas areias. Todas gratuitas. Era o M2000 Summer Concerts. Santos e Rio de Janeiro foram as únicas com duas datas.

A maratona do M2000 (marca de tênis) reuniu em 8 de janeiro daquele ano, no Boqueirão, nomes como Chico Science e Gabriel, o Pensador (ambos em início de carreira), Cidade Negra, Fito Paez, Shabba Ranks, Chaka Demus & Pliers, Inner Circle e Three Walls Down.

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A segunda etapa, em 5 de fevereiro, mais voltada para o rock, contou com Deborah Blando, Raimundos, Dr Sin, Mr Big, Lemonheads e Rollins Band. Em cada noite, cerca de 180 mil pessoas rumaram até o palco do Boqueirão. O Helmet também veio, mas não incluiu Santos na rota do M2000.

O baixista do Raimundos, Canisso, lembra do show com muito carinho: “Antes de lançarmos nosso álbum de estreia (homônimo, saiu em 2 de abril) fizemos o nosso primeiro grande show. Praia do Gonzaga, em Santos, lotada, vários leões (Mr Big, Lemonheads, Henry Rollins) em cena e uma apresentação histórica. Lembro que anunciaram o Raimundos como uma banda que misturava rock com forró. Éramos uma banda de hardcore. Entramos com um set bem pesado”.

O guarda portuário Marco Casado Lima (Surfcore Zine), hoje com 46 anos, à época trabalhava como garçom. Não pensou duas vezes, deu uma escapada do trabalho e correu para assistir Raimundos e Rollins Band.

Nêga Jurema (primeiro hit da banda brasiliense) tocava muito nas rádios. Entre o pessoal da FM (rádio) Raimundos e Mr. Big eram os mais aguardados. No meio dos alternativos, Lemonheads. No meu caso era o Rollins Band. As pessoas da cena hardcore até conheciam Rollins Band, mas meu conhecimento se restringia ao álbum End of Silence. Estava lá com a ilusão de ouvir eles tocando músicas do Black Flag (banda de origem de Henry Rollins).

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Um dos mais aguardados na segunda noite do M2000 em Santos, o Rollins Band desapontou muitos fãs por não tocar os clássicos do Black Flag, banda que tinha o mesmo vocalista da atração do festival, Henry Rollins.

Mas se o músico de Washington D.C. deixou a desejar nesse ponto, o mesmo não pode dizer da entrega dele. Estava tão empolgado no palco que arrebentou o próprio nariz ao dar uma joelhada em si próprio. O incidente aconteceu logo na primeira música do set, Low Self Opinion.

O repertório, que ignorou o Black Flag, ainda deu sinais do disco que estava por vir do Rollins Band, Weight, lançado em abril daquele ano. Faixas como Civilized, Disconnect e Liar foram algumas das novidades tocadas.

“Acho que tocamos bem naquele show. Mas para a nossa carreira não foi um grande acontecimento. A banda nunca teve um grande público no Brasil e percebemos isso em Santos. Encontramos um público que não se interessava pelo o que estávamos fazendo. Justo!”, comentou em entrevista concedida por e-mail.

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Mas se Henry Rollins não considera o M2000 um grande acontecimento em sua carreira, a cantora Deborah Blando não pode dizer o mesmo. Certamente não esqueceu as sonoras vaias.

Filha de pai italiano, com mãe brasileira. Deborah até tentou agradar os roqueiros com as covers de Decadence Avec Elegance (Lobão) e You Really Got Me (The Kinks), logo na abertura de sua apresentação. Mas parou por ai.

Garrafas de água, latinhas de cerveja e refrigerante e tudo mais que estivesse por perto foram arremessados para o palco. O repertório convencional da cantora destoava completamente da noite e o público santista não teve perdão. A crítica também não. O jornalista Eduardo Cavalcanti, que cobriu o festival por A Tribuna, ressaltou isso em seu texto: “Roqueiro não é besta”.

De Boston para Santos, o Lemonheads passou bem por aqui. Não enfrentou apuros e conseguiu mostrar alguns hits de MTV como Into Your Arms (canção de Robyn St Clare, gravada primeiro pelo duo de indie pop australiano Love Positions) e Mrs Robinson (cover de Paul Simon).

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Na bagagem de Evan Dando, vocal do Lemonheads, tinha o recém-lançado Come on Feel the Lemonheads, sexto de estúdio da banda e o que teve maior alcance comercial.

Mr Big consagrado
Quem não enfrentou apuros com a plateia foi o Mr Big. Em entrevista ao site Território da Música, em 2014, o guitarrista Paul Gilbert relembrou a participação no festival. “Eu nunca vou esquecer a primeira vez no Brasil. Foi um show enorme em Santos, num festival ao ar livre. Foi o maior show que já toquei, a maior quantidade de pessoas. Foi muito divertido”.

Com cerca de 1h30m de show, os californianos fizeram um show que soube equilibrar o repertório existente até aquele momento.  Foram três faixas do álbum homônimo (1989), cinco do Lean Into It (1991), incluindo o mega hit To be With You, além de seis canções do recém-lançado Bump Ahead (1993). Entre solos de guitarra, bateria e baixo, o Mr Big ainda encaixou dois covers: Wild World (Cat Stevens) e Baba O’Riley (The Who), que encerrou o show.

À época da apresentação, o vocalista Eric Martin concedeu entrevista exclusiva para o jornal Folha de S. Paulo e mostrou deslumbramento com o título de headliner do M2000. “A gente já abriu para bandas como Aerosmith, Scorpions e Rush, tocando em lugares gigantes, mas nunca foi o headliner num show gigante. Então, faça chuva ou 40 graus, não vejo a hora de tocar”.

https://www.youtube.com/watch?v=5QD5n98R_nk

E sobre as bandas que dividiriam o palco naquela noite, Martin mostrou um pouco do seu humor para comentar Henry Rollins e Lemonheads.

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“Por algumas entrevistas que li, Henry Rollins parece ser um cara legal. Acho que ele era o cantor do Black Flag, não? Quando ele diz que um show de Ted Nugent o impressionou, eu penso que, ainda que faça um tipo de música um pouco diferente da minha, esse cara ainda é um grande fã de rock’n’roll. O mesmo vale para o Lemonheads, que me lembra o Jefferson Airplane. Acho engraçado a gente ser o headliner, mas não sei se o Lemonheads tem meia hora de material. Talvez tenha. Não sei droga nenhuma sobre eles. Mas deve ser uma banda legal de ver. Se o líder do Lemonheads, Evan Dando, ao saber que eu sou o cantor do Mr. Big, me der aquele olhar tipo “meu Deus, heavy rock”, vou ter que dar um soco na cara dele. Mas, se ele vier e disser “e aí, como vai”, eu instantaneamente viro fã do Lemonheads”.

Etapa reggae teve muito amor e humor

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Antes de iniciar o circuito nacional do M2000, em janeiro de 1994, as atrações da primeira etapa do festival concederam uma entrevista coletiva no Hotel Transamérica, em São Paulo. Empolgados pela estreia no Brasil, os artistas deram declarações divertidas e de positive vibrations. A jornalista Fernanda Trigueiros, à época em A Tribuna, publicou muitas delas.

Primeiro artista de dancehall a conquistar um Grammy, o jamaicano Shabba Ranks, por exemplo, declarou: “Eu amo sexo, minha mãe e meu pai amam sexo. Por causa do sexo estou aqui, é parte da vida. Sem ele ninguém existiria nem seria feliz. Esse é o meu jeito de falar da vida”.

O bom humor de Shabba Ranks, então com 27 anos, não durou muito após a passagem pelo Brasil. Antes de voltar para a Jamaica, ele ainda participou como convidado especial do álbum Sobre Todas as Forças, da banda Cidade Negra, que também tocou no M2000. Mas parou por ai. Na sequência, colecionou críticas por conta de suas letras homofóbicas. Perdeu espaço no mercado fonográfico e viu Shaggy assumir a posição de grande nome do ragga jamaicano.

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https://www.youtube.com/watch?v=zYoAeFq1HBU

Chaka Demus, também da Jamaica, optou pelas mensagens positivas, característica do reggae. “Queremos passar mensagem do tipo dê uma chance para a paz, amor e felicidade para todo mundo, enfim, só coisas boas”.

Embalada pelos mega sucessos de Sweat (A La La La La Long) e Bad Boys, a veterana Inner Circle, que iniciou as atividades no fim dos anos 1960, mostrou conhecimento da música brasileira. Citou Skank, Tom Jobim, Milton Nascimento e Gilberto Gil. “Cantamos o amor que percebemos no mundo todo. Um exemplo é quando as pessoas escutam nossa música no rádio e nos querem ao vivo. Foi o caso do Brasil, uma resposta imediata.

https://www.youtube.com/watch?v=HkAUrka9bJY

No meio da gringaiada, surgiu um pernambucano bem desconhecido para a coletiva de imprensa. Na época, claro. Chico Science, que trouxe boa parte do repertório de Da Lama ao Caos, disco de estreia da sua carreira, lançado três meses depois, mostrou muita simpatia com os jornalistas.

“Faço as músicas em linguagem bem simples para que todas as pessoas possam entender”, declarou em um momento. Em outro, disse algo que continua bem atual: “É necessário reciclar, diversificar e misturar ritmos como o maracatu, coco, samba de roda, ciranda, embolada, funk”.

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3 Comments

3 Comments

  1. Marco

    7 de fevereiro de 2017 at 11:36

    Jamais esquecerei aquele sábado em 05/02/1994, foi uma noite insana mesmo! Não consigo imaginar outro evento similar e tão foda sendo oferecido ao público roqueiro em plena praia de Santos e ainda na faixa! Obrigado por mais esse resgate histórico, Lucas!

  2. Audrin

    11 de fevereiro de 2017 at 19:29

    Esse dia foi inesquecível!

  3. Leandro Verdani

    8 de abril de 2020 at 00:47

    lembranças desses shows… ver Os Raimundos pela primeira vez foi demais, não entendi muito o vocal do Rodolfo sei lá por estar muito baixo mas o som dos caras foi ótimo mesmo, não me lembro do Dr. Sin, Lemonheads e Mr. Big sim. A apresentação do Henry Rollins segurou mesmo o público presente, lembro do rosto ensanguentado.
    Eu e meu sobrinho mais velho saímos de São Paulo ele junto de sua namorada na época alugamos um kit net que nem gás tinha só para ver os shows.

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