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Strokes encerra o Lollapalooza no modo banda de garagem

Duas das bandas de rock mais importantes das últimas décadas décadas foram ‘headliners’ da edição deste ano do Lollapalooza. O Metallica fez o grande show que se esperava no sábado. O Strokes fez um show esculhambado, caótico e fuleiro. Como também era previsível.

O Strokes não é uma banda de estádios, nem de festivais. É uma banda de lugares pequenos, apertados, mal iluminados e cheirando a mofo. Essa é a mística que a banda tenta criar com seu som, diretamente inspirado no punk nova-iorquino do final dos anos 70.

É um som perfeitamente executado para soar sujo. Seus integrantes não vieram da rua. Longe disso – o pai do vocalista Julian Casablancas era dono de uma agência de modelos. Mas todos têm uma fascinação óbvia pelo por pelo menos dois modelos musicais, a eficiência melódica do Velvet Underground e as texturas de guitarras em contraponto do Television.

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E o que eles aprenderam com ambos, além dos álbuns clássicos que produziram, foi a ter uma atitude compatível com o espirito desse tipo de som. Se você quer soar como uma banda de rua, comporte-se como uma.

O show dos Strokes que fechou o Lolla 2017 foi de uma banda que se não é fiel às suas origens privilegiadas, se agarra como pode a um ethos rock and roll idealizado que, se não se confirma na vida real, acontece no palco.

A banda ostenta suas credenciais de discípulos do ‘cool’. O baterista (brasileiro) Fabrizio Moretti tocou usando uma camiseta de David Bowie na fase ‘Thin White Duke’. A abertura do show é tirada do álbum póstumo ‘An American Prayer’, de Jim Morrison. Os óculos escuros quadrados de Casablancas lembravam muito os adereços de outra banda punk/new wave americana, o Devo.

O próprio jeito de cantar do vocalista é uma apropriação tão descarada do estilo abrasivo do Lou Reed solo da década de 70 que só pode ser entendida como um jogo de referências pós-moderno. Até seus comentários debochados entre as músicas lembram o tipo de interação que Reed tinha com o público.

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Tudo isso poderia não passar de um exercício inconsequente de estilização se o Strokes não fosse, de fato, uma banda capaz de criar rock de verdade. Is This It, lançado em 2001, é um dos melhores e mais influentes álbuns de estreia.

‘Is This It’ é tão bom, faixa por faixa, que mais parece um ‘greatest hits’. Eram dele as músicas que a maioria do público em Interlagos queria ouvir e foi daí que a banda tirou a maior – e melhor – parte do seu repertório na noite. Não dá pra errar, nem ficar parado, com Last Nite, Hard to Explain e The Modern Age, ou Reptilia, do segundo álbum.

A execução propositalmente desleixada da banda e a presença de palco ‘blasé’ de Julian Casablancas dão a impressão que o show vai implodir a qualquer momento.

Esse tipo de opção estética é no mínimo duvidosa em festivais, onde o público vai em busca de uma certa catarse em massa. O Metallica entende isso com perfeição e embala o seu metal num populismo inteligente e numa precisão técnica à prova de decepções.

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Casablancas passou boa parte dos intervalos entre as músicas reclamando do som que vazava da tenda eletrônica. O vocalista do Metallica, James Hetfield, no lugar dele, teria simplesmente tocado mais alto que qualquer coisa, ou qualquer um.

A apresentação de ontem ajuda a entender por que o Strokes nunca chegou perto de superar seu álbum de estréia. É uma banda que cresceu demais para o próprio bem, e encabeça ‘line-ups’ de festivais, quando seu som exige tudo, menos um Lollapalooza. Faltaram algumas temporadas num pulgueiro moralizador a Julian Casablancas.

Fotos: Camila Cara/MRossi

Set list
The Modern Age
Soma
Drag Queen
Someday
12:51
Reptilia
Is This It
Threat of Joy
Automatic Stop
Trying Your Luck
New York City Cops
Electricityscape
Alone, Together
Last Nite

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Bis:
Heart in a Cage
80s Comedown Machine
Hard to Explain

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