Um dos momentos mais marcantes do cenário roqueiro de Santos, enfim, ganhará as telas de cinema. O filme Califórnia Brasileira – O Hardcore Punk em Santos – 1991 a 1999 terá uma première no Cine Roxy 5 (Av. Dona Ana Costa, 443) na terça-feira, a partir das 22 horas. Antes, às 20 horas, a banda Sonar fará um pocket show para o público. A entrada é grátis.
Dirigido por Rodiney Assunção e Wladimyr Cruz, o documentário conta com a participação de 25 personagens que ajudaram a construir aquele cenário marcante. O recorte apenas nos anos 1990, segundo Cruz, tem um apelo pessoal.
“É a década que eu e o Rodiney vivemos de forma mais intensa o cenário local. Foi quando tivemos bandas, quando fiz fanzine, organizei shows, coletâneas, entre outras coisas”.
Mesmo em uma época pré-internet, o que dificultava o acesso às bandas estrangeiras, Santos recebeu a alcunha de Califórnia Brasileira. Tal apelido não ficou restrito apenas aos locais. Como recebia grupos de várias regiões do Brasil, o apelido se espalhou por todos os cantos. O motivo? A combinação do skate, surfe, hardcore e punk rock, tal como ocorria no estado norte-americano, que viu a explosão de nomes como Rancid, Nofx, Sublime, No Doubt, Offspring, Green Day, No Use For a Name e Lagwagon, entre tantas outras.
“O distanciamento histórico deixa claro o quanto aquilo realmente foi especial para os envolvidos. E hoje também conseguimos mensurar o quanto o cenário de Santos foi influente e era conhecido nacionalmente, mesmo em uma época em que a internet engatinhava ou mesmo não existia no Brasil. É surpreendente também entender como estávamos atualizados e alinhados com o que se fazia fora do País, em total sintonia com algumas das principais cenas punk do mundo”, diz Cruz.
À época, nomes como CPM 22, Street Bulldogs, Holly Tree, Blind Pigs (SP), Dead Fish, Mukeka di Rato (ES), Beach Lizards, Carbona (RJ) e Dread Full (MG), incluíam Santos como rota obrigatória de suas turnês. A vinda delas, muitas vezes, estava condicionada a um intercâmbio com nomes da região. E Santos teve muitos expoentes, caso do Garage Fuzz, do White Frogs, do Sonic Sex Panic, do Sociedade Armada, do Psychic Possessor, do Safari Hamburguers e de The Bombers.
“Acho muito importante o registro de uma época que foi uma das mais férteis do rock da região, em termos de shows, bandas e interação com o resto do Brasil e o que estava acontecendo lá fora naquele momento. Torna o registro muito válido”, diz Fabrício Luiz de Souza, baixista do Garage Fuzz.
Além de tocar em uma das principais bandas do hardcore nacional, Souza também dividiu uma função importante com João Veloso Jr (White Frogs) e Pepinho Macia. Esses três foram os responsáveis por trazerem grandes nomes do hardcore e do punk mundial para Santos. Por meio deles, a Cidade pode assistir, em locais pequenos, apresentações clássicas de Nofx, Millencolin, No Use For a Name, Satanic Surfers, Down by Law, Shelter, Lagwagon, Bad Religion, Backyard Babies, No Fun at All, Bambix, Exploited, Fugazi e Agent Orange.
Mas outros fatores também contribuíram para um cenário rico. Diversos fanzines registravam o que ocorria localmente. Rebel Magazine, Alienação, Paranoia, Geração HC, Bravo Leader, Descarga, Surf Core. Era uma infinidade de publicações.
A região também contava com selos / gravadoras independentes. Uma delas, a Orphan Records, chegou a lançar nomes de peso como Sonic Sex Panic, Beach Lizards e Dread Full.
E mesmo que Califórnia Brasileira exclua os primórdios e o atual cenário local, o filme é um prato cheio para entender o auge do movimento, além de servir como chave para quem quer saber o que acontece atualmente. Bayside Kings, Blackjaw, Surra, Disenteria e Asco, entre outros, mantém o cenário vivo.
“Tem que existir dezenas de Califórnia Brasileira. Cada um deveria fazer, com os recursos que tem, seu próprio filme, sobre a cena de sua cidade, a turma de amigos, a época que julga mais legal”, diz Wladimyr Cruz.
Show marca lançamento do documentário
Comemorando o lançamento do filme Califórnia Brasileira – O Hardcore Punk em Santos – 1991 a 1999, três bandas da época se reunirão para shows exclusivos na próxima sexta-feira, no Boteco Valongo: Sonic Sex Panic, White Frogs e Sociedade Armada.
O Sonic Sex Panic faz sua segunda reunião em pouco mais de um ano, desta vez relembrando seu álbum mais emblemático, Inside Reflex, lançado pela Orphan Records.
Já o Sociedade Armada se reencontra e promete uma tour – a ser iniciada no show de Santos – onde serão relembradas músicas de seus três discos de estúdio. A banda não toca junta há pelo menos cinco anos.
Completando a trinca, o White Frogs, que não se encontra há mais tempo ainda. Desde 2004, o grupo santista não se reúne. Com a formação que fará o show, contando com o vocalista Gustavo Porto, esse período aumenta consideravelmente. O quinteto apresentará um set baseado no clássico álbum Urban Songs, de 1997, e outros hits.
Fechando o time dos anos 1990, os punk rockers do The Bombers – que seguem na ativa desde 1995 – dão um gostinho do que será seu novo disco, Embracing The Sun, com lançamento planejado para julho deste ano.
Embracing The Sun sucede o elogiado All About Love, também lançado pelo selo paulistano Hearts Bleed Blue (HBB).
A festa do filme contará ainda com a novata O Circo, que fará sua estreia nos palcos, contando em sua formação com ex-integrantes de outro nome dos anos 1990, como o Scargot Surfers.
O Boteco Valongo fica na Rua São Bento, 43, no Valongo, Centro Histórico de Santos. O ingresso, que será vendido somente na porta, custa R$ 20,00.