LUCAS KREMPEL E ISABELA TAYLOR
Fotos: Flávio Hopp
Headliner sem peso nas guitarras e algumas batidas eletrônicas, uma veterana com show brutal, protesto político e um duelo entre fantasma e zumbi com participação especial de dois alienígenas. A segunda edição do Maximus Festival, que aconteceu no último sábado, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, teve tudo isso durante 11 horas e 15 apresentações.
Linkin Park
Atração responsável por levar a maior parte do público (40 mil pessoas assistiram ao festival), a norte-americana Linkin Park passou por uma prova de fogo em São Paulo. Faltando menos de uma semana para o lançamento do novo álbum, One More Light, Chester Bennington, Mike Shinoda e companhia testaram quatro faixas desse trabalho: Heavy, Talking to Myself, Battle Symphony e Good Goodbye.
Se nas redes sociais, muitos fãs criticaram as faixas, alegando que a banda havia perdido peso e virado um grupo pop, em Interlagos o cenário foi completamente oposto. O guitarrista e vocalista, Mike Shinoda, chegou a brincar com os comentários dos fãs antes de tocar Heavy. As canções receberam apoio incondicional e foram cantadas com muita emoção.
É inegável, no entanto, que o grande suporte veio com os hits do início da carreira, como One Step Closer, Breaking the Habit, In the End, Numb, Papercut e Crawling, que ganhou uma versão reduzida e no piano.
Felizes com a recepção dos fãs, o Linkin Park encerrou a apresentação, que teve 1h25 de duração, com Bleed It Out. A alegria dos integrantes era nítida. Eles agradeceram o tempo todo o suporte do público e classificou o público brasileiro como o mais apaixonado e intenso.
Agora, o Linkin Park segue com a turnê para os dois principais mercados: Europa e Estados Unidos, onde devem encabeçar os principais festivais.
Set list:
Fallout / Roads Untraveled (Intro mecânica)
The Catalyst (versão curta)
Wastelands (com “War” de sample)
Talking to Myself
Burn it Down
One Step Closer
Castle of Glass (Experience version; 2017 Ending w/ ‘A Place For My Head’ Verse 1)
Good Goodbye
Lost in the Echo (versão curta)
Battle Symphony
New Divide
Breaking the Habit (with a capella outro)
Crawling (versão curta ao piano)
Leave Out All the Rest
Somewhere I Belong
What I’ve Done
In the End
Faint
Numb
Heavy
Papercut
Bleed it Out
Slayer
No final da tarde, a veterana Slayer, uma das quatro do Big Four do thrash metal norte-americano (ao lado do Metallica, Megadeth e Anthrax), fez um show impecável e intenso. O início com Repentless, faixa-título do último álbum da banda, deu provas que a discografia sempre atualizada empolga os fãs de várias gerações.
Diferente dos líderes do Linkin Park, Tom Araya, baixista e vocalista do Slayer, não gasta o tempo conversando com o público ou enrolando entre uma música e outra. Prefere uma sequência mais devastadora: enfilerando seus principais sons com o máximo de peso possível.
Ao fim da apresentação, que contou com faixas de vários momentos da carreira, alguns fãs deixaram o Autódromo de Interlagos. A missão estava cumprida. Para eles, o Slayer era o verdadeiro headliner do Maximus Festival.
Set list
Delusions Of Saviour (Introdução mecânica)
Repentless
Disciple
Postmortem
Hate Worldwide
War Ensemble
When the Stillness Comes
Mandatory Suicide
Fight Till Death
Dead Skin Mask
Seasons in the Abyss
Hell Awaits
South of Heaven
Raining Blood
Black Magic
Angel of Death
Prophets of Rage
Quem se manteve no local após o show do Slayer conferiu um revival do Rage Against the Machine (RATM). O virtuoso guitarrista Tom Morello e outros dois integrantes do RATM (o baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk) tocaram os principais sucessos do extinto grupo: Guerrilla Radio, People of the Sun, Bulls on Parade e Killing in the Name.
Na linha de frente do Prophets of Rage, B-Real (Cypress Hill) e Chuck D (Public Enemy) deram uma nova roupagem aos sucessos do Rage Against the Machine. Não fizeram feio. Mas ficou nítido que os dois se sentiram muito mais à vontade no momento que rolou um medley de faixas dos grupos dos dois, incluindo Insane in the Brain, do Cypress Hill.
Unfuck the World, faixa inédita do Prophets of Rage, foi acompanhada de um anúncio muito esperado: o álbum de estreia da banda, que iniciou a carreira no ano passado, sairá em setembro.
O show do Prophets ainda reservou momentos marcantes, como a participação especial de Tim McIlrath, vocalista do Rise Against, que cantou Kick Out the Jams, cover da emblemática MC5. Em outro, Morello levantou sua guitarra para tocar com a boca e mostrou um papel colado com a mensagem Fora Temer.
A veia política dos integrantes, por sinal, não chega a ser uma novidade. Sempre esteve presente nas canções. Antes de um dos grandes sucessos do Rage Against the Machine, B-Real mandou o recado: “Take the Power Back, Brazil!” (em português, pegue o poder de volta, Brasil).
Set list
Dj Lord (Intro)
Prophets of Rage (Public Enemy)
Testify (Rage Against the Machine)
Take the Power Back (Rage Against the Machine)
Guerrila Radio (Rage Against the Machine)
How I Could Just Kill A Man (Rage Against the Machine)
Bombtrack (Rage Against the Machine)
People of the Sun (Rage Against the Machine)
Fight the Power (Public Enemy)
Kick Out the Jams (Cover do MC5, com Tim Mcllrath e Zach Blair do Rise Against)
Hand on the Pump / Can’t Truss it / Insane in the Brain / Bring the Noise / I Ain’t Goin’ Out Like That / Welcome to the Terrordome / Jump Around
Sleep Now in the Fire (Rage Against the Machine) / Cochise (trecho do cover para o Audioslave)
Bullet in the Head (Rage Against the Machine)
Know your Enemy (Rage Against the Machine)
Unfuck the World
Seven Nation Army (The White Stripes, trecho)
Bulls on Parade (Rage Against the Machine)
Killing in the Name (Rage Against the Machine)
Ghost e Rob Zombie
Assim que o Ghost pisou no palco e começou a tocar Square Hammer, já tomamos um susto: O vocalista Papa Emeritus III não veio vestido de papa. Instantes depois reparei também na ausência do(a) baixista, apesar do som do baixo estar claramente presente nas músicas. Algumas músicas depois, Papa Eremitus III pediu que o público aplaudisse “the bassist” que estava machucado(a) e estava tocando (aparentemente) da cochia.
Muito bem, passados os estranhamentos, o show foi emocionante. O público cantando todas as músicas, a banda em clima de celebração, tocando uma missa (dessa vez) diurna. O set list ainda teve From the Pinnacle to the Pit, Ritual , Cirice, Year Zero, Absolution e fechou com Mummy Dust. Sensacional!
De fato é sempre um pouco estranho assistir a shows como do Rob Zombie às quatro da tarde. Existe um certo tipo de teatralidade intrínseca que a luz do dia quebra. De toda forma, Rob é mestre e, como tal, contornou o fato com facilidade. Abrindo com Dead City Radio and the New Gods of Supertown, com seu figurino de franjas, seus dreads longos e sua incrível presença de palco, Rob ganhou a plateia que já chegou junto, respondendo com os punhos pro ar. Foi uma conexão imediata.
O mais legal foi ver que o Rob Zombie trouxe mais que um show, trouxe uma aula de história do heavy metal. Teve espaço pra tocar More Human Than Human, da sua banda White Zombie, teve solo de guitarra longo, teve Living Dead Girl e pra fechar, ainda rolou um cover de School’s Out, do Alice Cooper, emendada com Thunder Kiss ’65. Foi uma honra poder ver isso tudo de perto!
Ghost – Set list:
Masked Ball (Jocelyn Pook song – intro)
Square Hammer
From the Pinnacle to the Pit
Ritual
Cirice
Year Zero
Absolution
Mummy Dust
Rob Zombie – Setlist:
Dead City Radio and the New Gods of Supertown
Superbeast
Demonoid Phenomenon
In the Age of the Consecrated Vampire We All Get High
Living Dead Girl
Scum of the Earth
Well, Everybody’s Fucking in a U.F.O.
More Human Than Human (White Zombie)
Never Gonna Stop (The Red, Red Kroovy)
The Hideous Exhibitions of a Dedicated Gore Whore
House of 1000 Corpses
John 5 guitar solo
Thunder Kiss ’65 / School’s Out (White Zombie / Alice Cooper)
The Lords of Salem
Get your Boots on! That’s the End of Rock and Roll
Dragula
Nem Liminha Ouviu
Nem o Liminha, nem ninguém. Além do horário dificílimo de 12h, basicamente a hora da abertura dos portões do evento, e de ter tocado no palco Thunder Dome, que é bem mais afastado do centro do evento, a banda gerou pouco interesse da maioria do público que entrava no festival e passava direto para se posicionar na grade dos palcos principais.
Oitão
O ótimo show que de fato abriu o dia com o pé na porta. Famoso no mundo gastronômico e por sua participação no programa Masterchef, Henrique Fogaça também é o vocalista de uma das bandas de metal brasileiro que mais vem se destacando nos últimos anos: Oitão. E não é à toa. Com um show de cunho político, a banda tocou músicas como 4° Mundo e Não Me Entrego Não, intercaladas com discursos contra a desigualdade social, a corrupção e o poder que as grandes mídias exercem em quem às consome. Por mais que a apresentação tenha sido curta, valeu cada minuto.
Red Fang
Cumprindo a promessa feita para este blog, a banda norte-americana fez sua apresentação com o que há de melhor no seu repertório para tirar o maior proveito possível de seus 30 minutos de show. Com hits como Wires, Prehistoric Dog e Blood Like Cream, o Red Fang incendiou a plateia, que abriu rodas e entoou os solos de guitarra em coro.
A banda ainda tocou a música Flies, de seu disco mais recente, o Only Ghosts, a qual também foi bem recebida pelo público, que em parte até cantava a letra. Os dois pontos negativos foram: O som baixo e o fato do show ter acabado tão rápido.
Set list:
Blood Like Cream
Malverde
Crows in Swine
Wires
Flies
Dirt Wizard
Prehistoric Dog
Hatebreed
Antes de mais nada, vale citar o número impressionante de pessoas que foram assistir ao Hatebreed. Se formos comparar com a edição anterior do festival, ou mesmo com outros eventos do porte, não é comum ver uma plateia lotada às 14h. A banda, por sua vez, respondeu com um show intenso, pesado e destruidor.
Com um set list que mesclou tanto Looking Down the Barrel of Today, do álbum mais recente The Concrete Confessional, com as mais importantes da sua carreira como I Will Be Heard e Destroy Everything, os caras também mostraram que entendem do lance e fizeram seus 40 minutos de show renderem o máximo possível. E como em todo bom show do gênero, não faltaram rodas de pogo e punhos no ar. Foi bonito de ver!
Set list:
To the Threshold
Destroy Everything
Looking Down the Barrel of Today
Empty Promisses
Beholder of Justice
As Diehard as They Come
Driven by Suffering
Tear it Down
This is Now
Last Breath
Honor Never Dies
Live for This
I Will be Heard
Böhse Onkelz
O interessante de acompanhar festivais como o Maximus é ter a oportunidade de assistir ao vivo bandas que outros festivais não trariam para o Brasil, como o Böhse Onkelz. Talvez por serem alemães e cantarem em alemão, ou por terem um destaque menor no Brasil, não é fácil assisti-los por aqui. Por isso, era imperdível!
Acho que o público também estava louco para assistir a este show, porque estava praticamente impossível entrar no meio da plateia de tão cheio. Além de que foi surpreendente ver o tanto de gente que cantava as músicas da banda, especialmente 52 Wochen, do disco mais recente, Memento e as mais famosas como Auf gute Freunde, que fechou o show. Espero poder vê-los ao vivo novamente. Valeu muito!
Set list:
10 Jahre
Hier Sind Die Onkelz
Finde Die Wahrheit
Danke Für Nichts
Bomberpilot
Kirche
52 Wochen
Irgendwas Für Nichts
Auf Gute Freunde
Five Finger Death Punch
A noite já estava começando e o Five Finger Death Punch trouxe o peso perfeito para dar o clima para a próxima banda que vinha pela frente, no caso, “apenas” o Slayer. Uns podem achar que seria muita responsabilidade tocar antes dos dinossauros do thrash metal, mas deu para perceber que a banda tomou como uma oportunidade e veio com tudo. Das 11 músicas do setlist, é até difícil saber o que ressaltar pois foram muitos momentos marcantes.
Já abriram com a Lift Me Up, do disco novo The Wrong Side Of Heaven and The Righteous Side Of Hell. Músicas como Wash it All Away e Coming Down já eram esperadas neste setlist, mas claro que quando rola dá até um arrepio. Outros pontos altos do show foram o cover de Bad Company e a versão acústica de Remember Everything.
Set list:
Lift me Up
Never Enough
Wash it All Away
Got your Six
Bad Company (Cover do Bad Company)
Jekyll and Hyde
Solo de bateria
Burn MF
Remember Everything (acústica)
Wrong Side of Heaven (acústica)
Coming Down
Under and Over it
The Bleeding
The House of the Rising Sun (outro – som mecânico)
Moral da história
Ocupando um espaço menor que o Lollapalooza, o Maximus segue como referência de organização. Ainda é um festival caro para o público, tanto no preço do ingresso quanto no valor dos produtos vendidos lá dentro do evento. Talvez isso faça com que a gente ache que “nem todo mundo quer ir em um evento de metal”, mas fica a sugestão de um teste: Que tal tentar diminuir estes valores, para que a gente veja que a verdade é que todo mundo PODE ir em um Maximus. Mesmo com tudo isso, o Maximus Festival segue sendo um dos festivais musicais mais bem produzidos do país. Bravo!