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Retrovisor#9 – Astralplane: a lisergia tropical que vem da Bahia

Aos adeptos das visões filosóficas metafísicas, Astralplane pode remeter à jornada solitária da alma em seu corpo astral do nascimento ao inexorável caminho à morte. Já para os amantes do som que transcende a mera limitação física impregnada de medo e limitações demasiadamente humanas, o nome carrega uma atmosfera que cheira meio século atrás.

Como numa espécie de buraco de minhoca, o caleidoscópio multifacetário adianta a um futuro com aromas e cenas de um filme repetido, que alocamos carinhosamente na memória afetiva – e dela seja feita uma fuga provisória dos dias maquinais. Camadas sobre camadas em fatias de overdubs a comprovar que o psicodelismo sob os trópicos vive sua fase áurea após a primeira dentição.

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Perigo – Clipe

Esse choque entre o futuro próximo aos olhos cansados de imagens que explodem com frequências e o passado idealizado pela geração que por ele não passou é a linha mestra de Redevout. Não por acaso – nesse universo carregados de acasos – , o disco do quarteto baiano Astralplane faz parte da lista dos 15 discos nacionais lançados no primeiro semestre que você precisa ouvir.

A sonoridade carregada de influências que fazem derreter o cerebelo de 11 em 10 fãs do subgênero cunhado às portas da percepção é uma (r)evolução do EP de 2015, Pales Tantral, que abriu o admirável mundo retrô-moderno do quarteto baiano para o eixo Rio-SP.

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Mais maduros, o trabalho cheio traz raízes – porquê não o DNA da banda – presente no belíssimo registro inaugural da trupe. O grupo se embriaga de doses homéricas da nata da psicodelia brasileira – que esse humilde escriba viciado nessa vertente roqueira acredita ser a mais intensa e multicolorida.

Orí – Clipe

https://www.youtube.com/watch?v=MFyts_hbAB8

Por esse rio de águas profundas, Astralplane mergulha de cabeça nas mais transloucas (des)venturas de Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso – na fase Tropicalista –, Mutantes, Terço, Som Nosso de Cada Dia… e pitadas de progressivo, rock sinfônico e muita originalidade. Guitarras embriagadas de ecos e reverberação num intrínseco emaranhado ácido. Viagem sem escala para o paraíso, baby.

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O disco abre com uma das mais criativas suítes da nova geração: Astral adianta ao nascer do sol que se avizinha, numa base simples recheada de um esperto sintetizador e enigmática guitarra a repetir notas soltas. Arrepia! Sol, a segunda faixa, tem um quê do primeiro registro de Mombojó, soando como a um primo distante que se cruza algumas vezes pelos desfiladeiros da vida cotidiana.

Pujante e anacrônico, Revertério mostra a capacidade técnica minimalista o quarteto, com quebras de andamentos e arranjos vocais sutis esbarrando em terrenos além das camadas típicas do universo roqueiro. Perigo, faixa escolhida para a divulgação do disco, pende para um lado mais intimista do grupo formado por Lucas Pereira, Savio Magalhães, Rodrigo Amorim e Gabriel Sanches.

A (proto) balada-piscodélica-beatnik Chão de Algodão nasceu pronta para catapultar a banda ao estrelado repentino. A forte canção é, de certa forma, a linha mestra do trabalho etéreo e sofisticado, que escorre por exatos 28 minutos de dietilamida do ácido lisérgico da mais pura qualidade sonora. O maduro trabalho comprova que apontar as antenas para o passado pode ser a travessia mais duradoura para rever o futuro.

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