2017, definitivamente, vem sendo um ano muito especial para os fãs de algumas bandas gringas que tanto influenciaram o cenário hardcore/emocore nacional do fim dos anos 1990 e início da década 2000. Depois do Jimmy Eat World, que nos transportou para esse período durante seu show no Lollapalooza, em março passado, o The Get Up Kids fez o mesmo, no último fim de semana, no Carioca Club, em São Paulo. E sem esquecer do Hot Water Music, programado para dezembro.
Tal como o Jimmy Eat World, influência do Get Up Kids, por sinal, a banda de Matt Pryor também estreou no Brasil somente mais de 20 anos depois do início da carreira. A longa espera resultou numa comoção incrível dos fãs. Não teve momentos de interrogação ou de conversas paralelas. Todos estavam concentrados em cantar as músicas, dar seus stage dives (praticamente liberados pela banda) ou mesmo pensar em seus relacionamentos amorosos.
Abrir a apresentação com Holiday, um dos seus principais sucessos, fez com que o The Get Up Kids colocasse o Carioca Club abaixo. E essa foi a tônica do show, quase todo focado nos dois principais discos da banda: Four Minute Mile (1997) e Something to Write Home About (1999). Canções como Valentine, Action & Action, Don’t Hate Me, Ten Minutes, I’ll Catch You e Lowercase West Thomas, além das guitarras oitavadas, marcantes desses discos, foram muito festejadas pelos fãs.
À vontade no palco, Matt Pryor (vocal/guitarra), Jim Suptic (guitarra) e James Dewees (tecladista) foram os integrantes mais extrovertidos do show. O vocalista recolheu vários cartazes vindos do público e levou para o camarim. Já no fim da apresentação, chegou a receber um beijo no rosto de um fã completamente bêbado e sorriu com a ousadia do cara.
Suptic, que em alguns momentos assumiu o vocal, conversou bastante com os fãs, agradeceu o retorno positivo e prometeu retornar ao Brasil sem demorar mais 20 anos. Em determinado momento do show, ele chegou a ser parabenizado pela banda, que puxou até um happy birthday. Vale ressaltar, no entanto, que o músico só comemora 40 anos no dia 14 de outubro. Mas valeu pela bagunça.
Deslumbrado com a empolgação do público, Dewees chegou a filmar os fãs enquanto Matt Pryor puxava o coro para a clássica Don’t Hate Me. A presença de palco do músico, que tem em seu histórico contribuições para o New Found Glory, My Chemical Romance, One Direction e Imagine Dragons, é um dos pontos positivos do Get Up Kids ao vivo. Impossível não se divertir com o cara em cena.
O repertório do Get Up Kids, que teve pouco menos de 1h30m de duração, ainda reservou espaço para duas covers muito aguardadas, ambas na reta final: Close to Me (The Cure) e Beer for Breakfast (The Replacements).
Hateen e Horace Green abrindo para o Get Up Kids
Lembradas pelos integrantes do The Get Up Kids durante o show principal, Horace Green e Hateen, as representantes nacionais do evento, fizeram bonito.
Com a casa ainda um pouco vazia, o Horace Green passou o seu recado. O vocalista, Shamil, veterano do cenário underground paulistano, mostrou muita disposição em cena. Com o ótimo disco Jazz Depois da Meia-Noite como base do repertório, os caras empolgaram em faixas como Gasolina.
No fim da apresentação, a banda passou uma mensagem, óbvia, mas que precisa ser reforçada sempre: “Não tem espaço para racismo e machismo no punk”.
O Hateen, um dos principais representantes do cenário hardcore/emocore/alternativo nacional, conseguiu um público maior. Na ativa desde 1994, a banda de Rodrigo Koala optou por um set somente com canções em inglês, reforçando a tese que era um evento de volta aos anos 1990. Para combinar mais ainda com a proposta, um cover do Sunny Day Real Estate foi tocado, In Circles.
Fotos: Marcela Mattos/Zona Punk