Depois de 13 anos de banda e cinco álbuns de estúdio lançados, o Alter Bridge, infelizmente, ainda é reconhecido no Brasil como o grupo dos ex-integrantes do Creed. Foi assim que a mídia e boa parte do público identificaram os caras antes da chegada ao Brasil.
Escalada para abrir a primeira noite do São Paulo Trip, na última quinta-feira (21), no Allianz Parque, o Alter Bridge conseguiu acabar com essa imagem, pelo menos perante ao público presente, que estava lá para acompanhar o The Cult e The Who, que vieram na sequência.
De fato, o som nada lembra aquela chatice da banda liderada por Scott Stapp. É muito mais pesado e não tem espaço para a choradeira como no maior hit do antigo grupo de Mark Tremonti, Scott Phillips e Brian Marshall, With Arms Wide Open.
O experiente Myles Kennedy no vocal também ajuda a acabar com essa identificação com a antiga banda. Carismático, ele conversou com o público, dançou e ainda conseguiu fazer coro com o público em algumas faixas do Alter Bridge.
Kennedy, por sinal, tem uma história bem interessante. Antes do Alter Bridge, ele tocou em nomes do underground como Citizen Swing e The Mayfield Four, que chegou a excursionar com o Creed, no auge da carreira de Stapp e companhia.
Quando o Mayfield encerrou as atividades, Kennedy enfrentou uma depressão por conta de um problema de audição. Praticamente desistiu das bandas para dar aulas de guitarra. Incentivado por Slash, ele quase assumiu o vocal do Velvet Revolver, em 2002, antes de Scott Weiland (Stone Temple Pilots) ser oficializado. O vocalista do Alter Bridge agradeceu, mas declinou do convite.
Entre 2008 e 2009, já no Alter Bridge, Kennedy viu seu status aumentar ainda mais, quando foi descoberto que ele havia ido para o estúdio com dois ex-integrantes do Led Zeppelin, Jimmy Page e John Paul Jones, e Jason Bonham (filho de John Bonham, falecido, ex-baterista do Led). À época chegou a ser cogitado como novo vocalista da clássica banda, já que Robert Plant não estava disposto a gravar e excursionar com os ex-parceiros.
E se não rolou em 2002, Slash insistiu mais um pouco e conseguiu trazer Kennedy para ser o seu vocalista em sua carreira solo. Juntos, excursionaram por vários países e gravaram dois discos: Apocalyptic Love (2012) e
World on Fire (2014).
Voltando ao show de quinta-feira, o Alter Bridge soube aproveitar bem o tempo curto disponível. Em uma hora de apresentação, tocou 11 faixas, com destaque para Open Your Eyes, muito festejada pelo público, ainda tímido dentro do estádio. Blackbird, Waters Rising (cantada por Tremonti) e Rise Today, que encerrou o show, também tiveram boa receptividade.
A lamentar somente o fato do último disco, The Last Hero, do ano passado, ter sido lembrado apenas uma vez, com a faixa Crows On a Wire. Mesmo sem um apelo comercial forte, o registro mostra uma banda mais madura, consistente e com canções que devem funcionar muito bem ao vivo. Que retornem logo para terminar o que começaram por aqui.
Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Set list
Come To Life
Addicted to Pain
Ghost of Days Gone By
Cry of Achilles
Crows On a Wire
Waters Rising
Isolation
Blackbird
Open Your Eyes
Metalingus
Rise Today
