Foto: Ruivo Lopes
Impossível falar de anarco punk na Baixada Santista sem citar a Abuso Sonoro (AS). A banda teve grande destaque no underground nacional, gravou bons discos e embarcou para uma turnê europeia. O início das atividades foi em 1993 e o término em 2006. Três anos depois, a AS ainda retornou para um encontro.
A banda foi formada por integrantes de outros grupos, como o Leucopenia, do qual Arilson tocava guitarra. Até 1998 passou por algumas formações, mas foi após a saída do primeiro vocalista, Beto, que a Abuso Sonoro permaneceu como um quinteto até 1999. Elaine Campos (vocal), Arilson Aparecido (guitarra/vocal), Juquinha (bateria), Rui (guitarra) e Angelo (baixo). Com a saída de Angelo e Rui, a banda decidiu ficar apenas como quarteto, com Luiz assumindo o baixo.
“Toda banda que surge na cena punk geralmente já chega com alguns valores e objetivos, mas talvez o mais comum entre todos está na vontade de reunir amigos que querem tocar. Não foi diferente com a AS. E os nossos objetivos foram sendo construídos nesse processo, pouco a pouco. A cada chegada de um novo integrante íamos pensando em alguns pontos em comum. Um dos pontos em comum era que queríamos ter um “espaço” onde pudéssemos tocar a música que gostávamos de ouvir, conhecer outras pessoas que se identificavam com o anarquismo (a maioria dos integrantes do AS já militava em grupos anarquistas na época), circular por outros lugares, fazer novas amizades, basicamente compartilhar ideias”, diz Elaine.
A Abuso Sonoro era uma banda que se identificava com os princípios anarquistas, e suas letras buscavam relacionar o entendimento dos integrantes sobre o anarquismo, lutas sociais por direitos básicos e até processos revolucionários. A formação original contava com Arilson (baixo), Angelo (guitarra), Nino (bateria) e Beto (vocal). Pitu (bateria) e João Veloso Junior, ex-White Frogs, também tocaram na banda.
O som da Abuso Sonoro era definido como uma combinação de influências, que vai do crust, punk ao metal, segundo Elaine. “Sempre frequentávamos shows na cena punk/metal e consequentemente também éramos influenciados pelas bandas que íamos conhecendo, algumas outras só conhecíamos pelos discos ou gravações de fita K7, de coletâneas”.
A partir do final dos anos 1990, a AS levou seu som para muitos lugares fora da Baixada Santista. Tocou no Sul e Sudeste do Brasil e realizou duas turnês internacionais: uma na Europa (1998) e outra na Argentina e Uruguai (1999). “Eu particularmente lamento muito não termos conseguido ir tocar pelo Centro-Oeste, Norte e Nordeste do País. Uma pena, pois sempre tivemos muitos amigos e contatos por diversas cidades nessas regiões”.
O nome da banda era fortalecido a cada registro lançado. E não foram poucos. K7, CDs, 7’EP, 12’LP, tudo devidamente bem divulgado. “Gravamos muita coisa e que atualmente estamos num processo de resgate da memória da banda disponibilizando tudo isso. Embora tivéssemos um MySpace que era onde colocávamos algumas músicas, víamos a necessidade de reunir todo material e disponibilizá-lo para baixar com as informações corretas, pois existem muitos blogs que criaram discografias da banda, mas muita coisa ficou incompleta, com nomes de músicas errados”, diz Elaine sobre o bandcamp da banda, onde também é possível obter todas as letras das músicas e datas de lançamentos.
Mesmo com o reconhecimento em várias áreas do Brasil e do mundo, a Abuso Sonoro sempre teve um carinho especial pela região de origem. “Certamente a Baixada Santista, que foi berço de diversas bandas punk e metal que marcou a cena local e nacional. A Baixada Santista foi o lugar comum onde boa parte da banda morava, onde nos conhecemos e frequentávamos a maior parte dos shows da cena punk/metal Do it Yourself (DIY). Também foi o lugar onde começamos a militar politicamente, conhecemos muitas pessoas, fizemos amizades que duram até hoje e tivemos muitas experiências que nos marcaram para o resto de nossas vidas”, diz Elaine.
Ideais permanecem
Elaine afirma ter perdido o contato com alguns ex-integrantes da banda e diz que não mora na região há 17 anos. “Houve um distanciamento natural, outros mudaram de País e estão tocando suas vidas”, diz a ex-vocalista do Abuso Sonoro.
Rui, por exemplo, mudou-se para Europa. Tocou em diversas bandas por lá, atualmente está na Bad Luck Rides On Wheels e é pai de duas meninas. Arilson também mudou-se para Europa e tocou na Sangre (Holanda), mas atualmente se dedica a um café vegano chamado Café Vux, que montou junto com sua companheira. Juquinha até pouco tempo tocava na banda A Phoyce (Guarujá); e Luiz atualmente toca no O Cúmplice.
“Desde que o Abuso Sonoro acabou me envolvi muito pouco em projetos musicais, embora ainda tenha vontade. Por outro lado continuei me dedicando à militância feminista e anarquista, participo de alguns grupos e há sete anos venho me dedicando à fotografia”.
A distância inviabiliza um reencontro da banda. “Acho que todos já se convenceram que é preciso pensar em dar continuidade aos projetos que fomos nos envolvendo durante ou depois do fim da banda”, diz Elaine.
Para quem quiser relembrar ou conhecer o trabalho da Abuso Sonoro, pode acessar o Bandcamp do AS. Lá, dez registros fonográficos da banda estão disponíveis para audição. Das fitas K-7 aos últimos discos cheios.