ZÉ VIRGÍLIO BBMP
Em agosto de 1969, no histórico Teatro Vila Velha, em Salvador, foi realizado o primeiro show dos Novos Baianos, que fora batizado como O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal. Foram três noites com todos os ingressos vendidos para um espetáculo dirigido pelo meu amigo Galvão Poeta. Acontecia ao mesmo tempo música, artes plásticas e teatro. Minha ligação com essa galera vem dessa época. Pepeu, Baby, Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Jorginho Gomes, Dadi e meu compadre Moraes Moreira, padrinho do meu filho Rudá.
Era a época em que vivíamos sobre a cruel ditadura militar, lutávamos pela liberdade e contra a censura. Os Novos Baianos foram fundamentais com suas canções e atitudes de comportamento libertários nesta luta. Quem viveu esse período de perto, sabe disso.
Voltando ao show, foi o maior “barato” ver a galera no frisson da fila para entrar no Teatro. Rolava de tudo naquele momento, nos sentíamos livres. A Banda Leif’s (futuramente viria a se transformar em A Cor do Som), composta pelos irmãos Gomes, Pepeu e Jorginho, além de Lico e Carlinhos, acompanhava os Novos Baianos e mandou muito bem.
Em um determinado momento do show, o iluminador jogava um foco de luz para o teto do Teatro e eis que surgia a figura do cartunista baiano Super Boy, falecido recentemente, que aparecia com a corda amarrada na cintura e a outra ponta no teto, levando ele a sobrevoar a plateia, voando como se fosse um super boy mesmo.
Do lado de fora, a polícia que rondava os arredores do Teatro foi expulsa através da paz, com as pessoas cantando canções e falando palavra de ordem. O show foi um dos espetáculos mais maravilhosos que tive a oportunidade de assistir!
Daquele show surgiu o primeiro disco dos Novos Baianos, o É Ferro na Boneca! Expressão criada pelo genial radialista baiano falecido França Teixeira, que transformou o Rádio AM no Brasil.
Caetano, quando foi exilado, escreveu o seguinte texto na capa do disco: “Vocês me pedem que eu os apresentem. Mas eu estou indo embora e só aceito deixar um bilhete para vocês mesmo. Estive esse tempo pensando aqui e vi que vocês estão respondendo a nova Bahia com o mesmo humor terrível com que ela questiona. Mandem brasa, Brasil Varandá. Mais um. Mais dois. Enquanto nós cantarmos Ferro na Boneca, Ferro na Boneca. Mesmo que não dê em nada, eu quero seus lábios abertos numa sujeita geral”.
De 1969 para 2017 são quase 50 anos de estrada e os Novos Baianos continuam lotando os teatros e estádios das cidades por onde passam. Outras histórias que vivi e vi com eles vou contar depois, por enquanto é Ferro na Boneca.
https://www.youtube.com/watch?v=gbkEmsOzUww