Fotos: Rafael Kent/Divulgação
Um festival de roqueiro para roqueiro. Assim pode ser descrito o Santos Rock Festival, que terá sua primeira edição, neste sábado (11), a partir das 21h, no Mendes Convention Center, em Santos. Capital Inicial, Dado Villa-Lobos, Murilo & o Bando, com participações de Cristopher Clark e Tite Franco, são as atrações do evento idealizado pela produtora Shows em Santos.
E a atração principal da noite carrega esse lema, inclusive, nas entrevistas. Em conversa com o vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, o músico ressaltou esse pensamento e levantou a bandeira do gênero.
“Sou roqueiro e só olho para o meu próprio umbigo mesmo. Respeito o trabalho de todos os artistas, não importa a vertente, mas no meu universo só tenho espaço para o rock and roll. É o som que eu gosto, o que escuto e vivo diariamente”.
Na reta final da turnê de divulgação do Acústico NYC, de 2015, Dinho conta que o público santista terá uma apresentação bem diferente da que veio para cá, no ano passado.
“Nos últimos seis meses abandonamos aquela ideia de tocar sentado. O Capital deixou pra trás o formato tradicional, com violões apenas. Está algo mais roqueiro ainda. Além disso, incluímos algumas músicas do primeiro acústico, lá de 2000, que estavam esquecidas. Quem for ao show certamente assistirá a algo bem diferente de 2016”.
E dentro do repertório previsto para Santos, o cantor não descarta uma homenagem ainda maior ao Charlie Brown Jr. Um dos guitarristas da banda santista, Thiago Castanho, acompanha o Capital Inicial desde o início da turnê. E, curiosamente, uma faixa do grupo tem sido incluída nos shows.
“Vai que ele se empolga e manda mais de um som do Charlie Brown. Quem sabe? Santos é a cidade dele, o cara pode tudo com a gente. Temos um carinho imenso pelo Charlie Brown Jr. Dividimos programas de TV, rádio, fizemos shows juntos, tínhamos uma relação bem próxima. Foi assim com o Chorão e o Champignon, com o Marcão, Pelado, Thiago. O Graveto tocou com a gente, o Heitor também”.
Comparação do Rock Brasília com CBJR
Peça importante do Rock Brasília dos anos 1980, Dinho acredita que o Charlie Brown Jr e o cenário brasiliense daquela época guardam uma coincidência e uma característica bem diferente.
“A atitude é a mesma. Tanto as bandas de Brasília como o Charlie Brown Jr sempre tiveram uma pegada bem poderosa, de contestar, tocar pesado. Mas o Charlie Brown Jr era uma banda pronta quando surgiu. Não sei te explicar, algo como Suicidal Tendencies, os instrumentistas detonavam na técnica. Nós, quando surgimos, não sabíamos tocar direito, éramos todos punks, não nos importávamos em fazer nada muito elaborado, era mais passar a mensagem mesmo. Nossa influência veio do punk rock que estava estourando nos Estados Unidos e Inglaterra, com reflexos na América do Sul”, comenta o músico.
Renovação do rock nacional
Questionado se enxerga uma renovação no rock nacional, Dinho esbanjou conhecimento, citando diversas bandas, como Far From Alaska, Scalene, Supercombo, Selvagens à Procura da Lei, Ego Kill Talent e Dona Cislene.
“Nós temos uma renovação poderosa. Falta pouco para essas bandas passarem a arrebentação e chegarem ao mainstream. A grande diferença dessa geração para a turma dos anos 1980 é que o vento não está favorável. Mas isso não pode influenciá-las, tirar o ânimo. Pra mim, as bandas que citei são as futuras Capital Inicial, Titãs, Legião Urbana. Esses caras vão pegar o nosso lugar, torço por isso”.
E visando esse apoio ao rock nacional, Dinho revela ter dois projetos, um próximo de ser concretizado e outro ainda nos sonhos. “No início do próximo ano darei início a um selo para apoiar bandas novas. Chega muito som novo pra mim, quero fazer uma triagem e levar os caras para gravarem comigo no estúdio, lá no Rio”.
O foco principal são bandas que ainda não gravaram nenhum disco, sem apoio de gravadora e com pouca visibilidade. E esse trabalho levará ao segundo projeto do roqueiro.
“Quero promover um festival itinerante com as bandas, uma espécie de Lollapalooza com bandas consagradas, de médio porte e as menores. Vamos colocar os caras para rodarem umas dez capitais e fortalecer esse cenário”.
Para o músico, colocar bandas nacionais para abrir shows de medalhões em estádios, como U2 e Coldplay, não parece ser uma boa ideia.
“Ninguém vai notar essas bandas lá, sem contar que não terão um apoio de infra como o Noel Gallagher teve, por exemplo, como artista de abertura do U2. O melhor é entrar nos festivais. Vi várias bandas legais nas últimas edições do Rock in Rio e Lollapalooza. Esses espaços são mais democráticos”.
Durante a nossa conversa, o vocalista da Capital Inicial ainda comentou a banalização dos elogios e títulos proferidos pela imprensa. Falavámos sobre o quanto alguns críticos faziam questão de forçar a barra colocando Anitta como o segundo nome nacional de maior alcance no mercado externo em todos os tempos, tal como foi citado na época do Rock in Rio.
“Não tenho nada contra Anitta, funk ou sertanejo, apenas não conheço os trabalhos deles. Não têm nada a ver comigo, foge do meu universo. Meu foco é o rock and roll, mas claro que é bizarro quando leio algumas coisas. Quem somos perto do Sepultura? Olha o que os caras conquistaram. Isso sem falar do Caetano, Gil, Mutantes e tantos outros”.
Novo disco
A partir de janeiro, o público poderá conhecer alguns sons novos do Capital, segundo o vocalista. “Já tenho umas dez composições prontas, todas feitas aqui em casa. Vamos gravar isso em breve. Queremos lançar um single por mês e o disco cheio em abril”, diz.
“Consumir o streaming nos levou a algo que era muito comum nos anos 1960, o lançamento de singles. Hoje todo mundo solta os singles primeiro, depois vem o disco. Foi assim com o Queens of the Stone Age, The Killers, Foo Fighters”, completa.
O novo trabalho não contará mais com Thiago Castanho. “Ele está com o disco solo pronto, acabando a nossa turnê, esse será o foco dele. Mas tenho certeza que voltaremos a tocar juntos. Thiago é um guitar hero, um cara muito legal”.
Entre os futuros projetos, Dinho ainda falou sobre um desejo muito grande que envolve bandas consideradas de “porte médio” para ele.
“Quero reunir essas bandas tipo Scalene, Far From Alaska e Ego Kill Talent para compormos músicas juntos e gravarmos. Um disco inteiro assim, imagina? Ou mesmo, regravar um som de cada uma dessas bandas que acompanho. Seria incrível”!
Serviço
Para quem quiser curtir a primeira edição, ainda há ingressos disponíveis. Eles custam entre R$ 100,00 (pista) e R$ 200,00 (área vip com open bar) e podem ser adquiridos no site Ingresso na Net. O Mendes Convention Center fica na Avenida Francisco Glicério, 206, em Santos.