Satan’s Satyrs: os filhos bastardos dos Stooges

Satan’s Satyrs: os filhos bastardos dos Stooges

A cena hardcore mundial, ao meu ver, está parcialmente dominada por uma leva de bandas que aderiram a uma vertente mais leve do estilo – o hardcore melódico. Pudera: a demanda por uma música mais pesada, ainda que radio friendly, explodiu nos EUA, especialmente nos últimos anos da década de 2000. Neste dilema de seguir as raízes ou se adaptar à indústria, surgiram bandas controversas ótimas como A Day to Remember, We Came as Romans, entre outras. No entanto, ainda há quem prefira a loucura e a violência do hardcore punk tradicional, cru e impiedoso.

Na premissa de ser, de acordo com a própria banda, “um encontro do metalpunk à lá Venom e da demência do garage rock”, a americana Satan’s Satyrs surgiu basicamente do nada com o LP Wild Beyond Belief!, fruto do trabalho do então único membro Clayton “Claythanas” Burgess.

Burgess já havia lançado duas demos e um mini-EP ao vivo na rádio WMUC entre 2010 e 2011. No entanto, o ponto crítico para o lançamento estratosférico da banda foi o convite para abrir o show do Electric Wizard no Roadburn Festival de 2013, banda na qual Claythanas controla o baixo desde 2014.

Com essa aparição à frente de um público enorme como o do Wizard, Satan’s Satyrs explodiu em sucesso e seu álbum, que recebeu excelentes críticas de sites como Metal Blast e Terrorizer.

Apesar de pouco amigável, Wild Beyond Belief! é uma obra prima para qualquer fã de uma série de bandas que passeia entre nomes como The Stooges, Black Flag, e outros como Venom, Celtic Frost, e, óbvio, Black Sabbath. O álbum tem como características gritantes a péssima (porém gloriosa) produção lo-fi, o riff-fest setentista, a velocidade, e, acima de tudo, o péssimo (num bom sentido) vocal gritado de Burgess. Tudo contribui para que a experiência seja, do início ao fim, pura insanidade. Assim como eram os trabalhos dos Stooges.

Com as novas aquisições da banda, sendo elas o baterista Stephen Fairfield e o guitarrista Jarrett Nettnin, a sonoridade dos álbuns seguintes foi drasticamente modificado. Agora, a recepção mista para os dois títulos, Die Screaming e Don’t Deliver Us é que expressam a reação do público quando um artista resolve fazer o que todos deveriam fazer: não ligar para absolutamente nada. Apenas fazer sua música.

Pessoalmente, acho ambos os trabalhos recentes incríveis. Cada um com suas particularidades. O insolente Die Screaming, de 2014, no entanto, se destaca pelas camadas de instrumentação extra (piano, órgão) que fazem com que a experiência se assimile a um Stooges puro-sangue. Apenas filho de um relacionamento extraconjugal.

Don’t Deliver Us resgata a insanidade do primeiro LP, porém traz consigo o amadurecimento dos músicos e torna tudo uma mistura irresistível de velho e novo, analógico e digital. É pura loucura.

Fecho a coluna desta semana com uma frase retirada do excelente (e muito parecido com qualquer coisa que os Satan’s Satyrs produziram) Axeman Cometh, da britânica Wicked Lady:

“No espírito de Wicked Lady, pedimos que coloque seu amplificador em volume máximo, consuma substâncias ilícitas e relaxe numa poltrona… Duração: 60,24 minutos de wah-wah infernal.”

Recomendações extras: RutAcrylics, Raspberry Bulbs, Absolut