Versões Brasileiras de Músicas Gringas

Versões Brasileiras de Músicas Gringas

Desde os primórdios da música nacional convivemos com o fenômeno das versões. Não se sabe ao certo quem começou, quem teve a ideia, mas de fato, as versões se enraizaram na nossa cultura, desde Fascinação, passando por O Astronauta, chegando a outros exemplos que vamos citar aqui.

É muito importante deixar bem claro que versão é algo totalmente diferente de plágioque também é diferente de sample.

Sample é quando um artista ou produtor escolhe um pequeno trecho de uma música e transforma em algo novo, dando os devidos créditos e até pagando os direitos devidos. Um exemplo bem famoso é o sample de You Are My Love, do Liverpool Express, utilizado em Vida Loka Pt I  do Racionais Mc’s.

https://www.youtube.com/watch?v=mOZ6QW0l5ps


O plágio ocorre quando alguém tenta dar um famoso jeitinho, e rouba uma ideia que já existiu, sem ao menos mencionar o compositor, ou em alguns casos, se trata de uma ridícula coincidência.

Quem não se lembra da famigerada polêmica entre NX Zero Taking Back Sunday?

Teve aquela também entre o Angra e o Parangolé


O caso da versão entra em algo um pouco parecido com o sample. Ocorre em casos onde o artista paga os direitos de composição para utilizar da melodia e estrutura principal de uma música para traduzi-la ou escrever algo completamente novo por cima.

A prática gera controvérsia, e muitos críticos acusam de falta de criatividade. Um cara que tem como rotina esse tipo de crítica é o aniversariante desta sexta-feira (2), o Latinão, ou para quem não é íntimo, só Latino mesmo.

A lista de versões assinadas por Roberto de Souza Rocha, El Latinón, é imensa, sendo o seu caso mais famoso Festa No Apê, uma versão de Dragostea Din Tei do grupo moldávio O-Zone.

Porém, a festa acabou para Latino em 2012, quando ele resolveu lançar sua releitura de um dos maiores sucesso do momento e da história da música.

Gangnam Style, do cantor Psy, se tornou um dos maiores fenômenos da música, chegando a entrar para o Guinness como o vídeo mais curtido no YouTube em 2012.

Na letra original, Psy utiliza do sarcasmo para criticar o estilo de vida fútil da high society coreana, e aqui no Brasil, Latino a transformou em Despedida de Solteiro (Laçar, Puxar, Beijar), narrando as “aventuras” de quem está prestes a se casar.

Ao lançar esse clipe, Latino foi criticado pelo conteúdo apresentando em sua versão, especialmente por contradizer o original, e a internet se voltou contra Latino, não perdoou. O clipe de Despedida de Solteiro recebeu mais de 100 mil dislikes, fora diversas denúncias de usuários até o canal oficinal do cantor ser fechado.


Quem também adora uma versãozinha é o eterno papito Supla. O cara já regravou Gary GlitterSex Pistols e mais uma porrada de banda de glam e punk rock.

Exemplo é a faixa São Paulo, presente no disco Charada Brasileiro, que marcou o auge de sua carreira, e teve como participação especial, o saudoso Holly Tree. A faixa é uma versão de Teenage Kicks do The Undertones.

Aquela moça que vendia produtos eróticos de madrugada na TV também aparece nesse clipe.

Nesse mesmo disco, Supla se envolveu em uma polêmica, pois uma dessas versões foi comparada a um dos hinos da supremacia branca e do RAC. Tratava-se da própria Charada Brasileiro, que era muito parecida com White Power, do Skrewdriver.

Não vou colocar Skrewdriver aqui por razões óbvias.

Embora Supla nunca tenha confirmado se sim ou se não, o fato é que as duas músicas são muito parecidas.


Outro que se lascou nessa de versão foi Felipe Dylon. Após anos sem lançar nada, o dono do sucesso Musa do Verão retornou no ano passado com Para Tudo!, uma versão de Ride do Twenty One Pilots.

Caindo no mesmo caso do Latino, com críticas massivas em relação à sua versão, Dylon removeu a faixa de todas as suas contas em redes sociais, e hoje você só pode escutá-la em uma conta no Twitter. O que nos restou foi esse mashup fantástico.


Mas nem tudo no mundo das versões é roubada. Algumas versões foram muito bem aceitas, e até hoje há quem nem saiba que algumas músicas são regravações, ou outras ficaram tão famosas quanto as originais.

É o caso de Batendo na Porta do Céu, gravado pelo lendário Zé Ramalho. O cantor estava com sua popularidade baixíssima no final da década de 1980 até a metade dos anos 1990, quando lançou Antologia Acústica, uma compilação da regravações de seus maiores hits das décadas passadas.

O box de disco triplo, muito bem trabalhado com uma arte de encarte fantástica, era encerrado com essa versão de Knockin’ on Heavens Door, a música mais regravada do mestre Bob Dylan. A versão foi uma das responsáveis pela reconstrução da carreira de Zé, que ganhou fãs inclusive de gerações que não o conheciam.


Com o Capital Inicial também funcionou muito bem, obrigado. Após o sucesso que foi seu Acústico MTV, a banda lançou Rosas & Vinho Tinto, e seu carro chefe foi A Sua Maneira, que continuou a puxar a caravana do sucesso anterior.

O que muita gente não sabe, é que a música é uma versão do grupo argentino Soda Stereo, da faixa De Musica Ligera.

O Capital também já havia registrado sua própria versão de uma das músicas mais regravadas da história. O Passageiroversão de The Passenger, do Iggy Pop.

Uma versão mais fiel a original está no disco Eletricidade, de 1991, mas a versão presente no Acústico MTV é minha preferida.


Titãs também regravou diversas músicas, a mais famosa talvez seja Marvin, uma versão de Patches de Chairmen on The Board.

https://www.youtube.com/watch?v=nT4fG7atrwA

Também na voz de Nando Reis, a banda lançou Querem Meu Sangue, no seu primeiro disco, e quando foram gravar o seu Acústico MTV, contaram com a inusitada presença do compositor original da música, ninguém menos que Jimmy Cliff, em uma histórica junção da versão em português, e a original The Harder They Come do jamaicano.

https://www.youtube.com/watch?v=4XmxXN6kKdE

Esse acústico até hoje é um dos mais bem sucedidos, tanto que os fãs da banda os pressionaram a gravar uma segunda edição, resultando em Volume Dois lançado 1 ano depois.

Volume Dois tem É Preciso Saber Viver como seu maior hit, um cover do Rei Roberto Carlos, música baseada em It’s Over de Elvis Presley.


Menções Honrosas:

Só Pra Contrariar – A Minha Fantasia/Lenny Kravitz – It Ain’t Over Till’ It’s Over:

Seu Jorge & Ana Carolina – É Isso Aí/Damien Rice – The Blower’s Daughter:

Angélica – Se A Gente Se Entender/Cranberries – Linger:

Skank – Tanto/Bob Dylan – I Want You:

Seu Jorge – Rebel Rebel (Zero a Zero)/David Bowie – Rebel Rebel:

Rosana – Amor e Poder (Como uma Deusa)/Jennifer Rush – Power Of Love:

O Rappa – Hey Joe/Jimi Hendrix – Hey Joe:

Ultraje a Rigor – Eu Não Sei/The Who – Can’t Explain:

Ira! – Pra Ficar Comigo/The Clash – Train In Vain:


Essas foram as maiores versões, controversas, adoradas e odiadas da música brasileira. Faltou alguma? Comenta aí.

Até o mês que vem em mais uma Romper Stomper. Beijos Brasil.