Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Nove anos se passaram desde a primeira e única apresentação dos ingleses do Radiohead no Brasil. E quem foi ao Allianz Parque no último domingo, durante o Soundhearts Festival, que tinha a banda de Thom Yorke como headliner, viu um grupo renovado de espírito e sonoridade. E mais do que isso, voltaram ousados. Diante de 30 mil pessoas, eles não pensaram duas vezes em sacar do repertório dois dos seus grandes sucessos: Karma Police e Creep. Incomodou alguns fãs certamente, mas nada que tirasse o brilho do show, marcado por uma iluminação que sincronizava bem com o som da banda.
Confesso que a ausência de Creep, que já havia ficado fora do show no Rio de Janeiro, dois dias antes, me surpreendeu no primeiro momento. Mas quando se pensa no conjunto de canções apresentadas, faz sentido a exclusão. O Radiohead prioriza os seus últimos trabalhos como Hail to the Thief (2003), In Rainbows (2007), The King of Limbs (2011) e A Moon Shaped Pool (2016). Desses trabalhos vêm 16 canções de um repertório com 26 faixas.
E os últimos discos do Radiohead vêm se notabilizando pela experimentação dos integrantes. Batidas eletrônicas foram introduzidas e a guitarra muitas vezes é uma coadjuvante. Mas nada disso tira o brilho do incrível Jonny Greenwood. Enquanto um olho fica fixo nas dancinhas e interpretação de Yorke no palco, o outro fica firme no habilidoso guitarrista, que tem uma penca de funções: toca guitarra, baixo, sintetizador, piano, percussão e por aí vai.
Greenwood, por sinal, tem se destacado há anos por seus trabalhos paralelos, principalmente em trilhas de cinema. No início do ano, foi indicado ao Oscar com o seu som para o filme Trama Fantasma.
Prova que existe uma coerência nas decisões do repertório do Radiohead está na completa ausência do disco Pablo Honey, trabalho de estreia da banda, que foi o único a não emplacar um som sequer no set. Você consegue imaginar How Do You?, Ripcord e I Can’t nessa nova fase? Impossível!
Mas Yorke não esquece completamente o passado do Radiohead. Os fãs mais antigos e que não acompanharam a evolução sonora dos ingleses também conseguem curtir alguns momentos da apresentação.
OK Computer, que no ano passado completou 20 anos de seu lançamento com uma versão remasterizada e com vários b-sides, apareceu com quatro canções: Exit Music (for a Film), Let Down, Paranoid Android e a linda No Surprises.
The Bends, de 1995, teve apenas duas faixas incluídas no setlist: My Iron Lung e Fake Plastic Trees, um dos maiores sucessos da banda e responsável pelo encerramento do show.
Um fã que estava próximo de mim na pista premium chegou a imaginar o “cenário dos sonhos”. “Os caras vão emendar com Creep e Karma Police. Incrível”. Ledo engano. Após concluir Fake Plastic Trees, os integrantes deixaram o palco, as luzes foram acesas e Egyptian Fantasy, de Sidney Bechet, assumiu o som ambiente. No fim, 15 minutos a menos do que o show do Rio de Janeiro.
Mas volto a dizer, muitos fãs saíram satisfeitos. Afinal, a única vez que o Radiohead havia tocado por aqui foi há nove anos. Um disco novo dos caras sai a cada três ou quatro anos.
Abertura
O Soundhearts apostou em nomes não tão badalados para a abertura do show do Radiohead: Aldo The Band, Junun e Flying Lotus. E mesmo que esses artistas tivessem que enfrentar um público crítico e ansioso pela banda principal, a receptividade foi ótima. Aplausos, gritos de incentivo e até algumas dancinhas puderam ser observadas na pista premium.
Boa parte do público, no entanto, deixou para entrar no estádio somente na hora do Radiohead, o que causou um pequeno congestionamento na entrada. Mas nada que incomodasse os fãs, que conseguiram acompanhar o show na íntegra.