Mais de 50 milhões de discos vendidos em todo o mundo. Participações em várias trilhas sonoras em Hollywood. Homenagens em sua indução ao Hall da Fama do Rock n’ Roll pelas inúmeras contribuições na música. Esses são apenas alguns exemplos das conquistas que a Blondie alcançou em seus quase 44 anos de carreira, que contou com algumas interrupções no meio do caminho. A banda nova-iorquina que abriu espaço para o movimento new wave nos EUA foi muito além das expectativas, mesclando diferentes referências que resultaram em um som criativo e inovador.
Liderada pela frontwoman Deborah Harry, a banda começou quando conheceu o guitarrista Chris Stein. Debbie estava envolvida com o trio feminino The Stilettos, mas ao conhecer Stein, foi dado o pontapé inicial para o surgimento da Blondie. Se uniram a Clem Burke na bateria, Jimmy Destri no teclado e Gary Valentine no baixo, sobre o nome Angel and the Snakes. A mudança de nome veio por conta de experiências da própria Debbie, que era frequentemente chamada por caminhoneiros na estrada como “loirinha” (em inglês, blondie).
O desafio era complexo: num momento crítico de explosão do punk rock, o termo new wave era considerado até então um sinônimo do mesmo gênero. Com influências de power pop, disco, música eletrônica e até glam rock, o new wave chegava para sair do cenário underground de vez. A concentração no famoso clube CBGB, localizado em Manhattan, foi o berço que deu impulso à banda. Seu começo se deu junto a bandas como Talking Heads e Dead Boys.
Como uma das bandas mais populares do gênero, a Blondie teve duas vantagens em sua ascensão musical na época. A primeira delas foi o estilo musical totalmente livre de restrições, que englobava diversos elementos em suas canções. Blondie não tinha medo de inovar, ora nos vocais melódicos de Debbie em canções como Atomic, ora em canções mais velozes e cruas como One Way Or Another. Foram a única banda new wave a conquistar oito vezes o Top 40 com seus maiores hits, sendo Heart of Glass, Call Me, The Tide Is High e Rapture as que conquistaram a primeira posição.
A segunda vantagem era o visual da banda. O cabelo loiro, os lábios pintados de vermelho vivo e os looks com jaqueta de couro garantiram a Debbie um visual comparado a uma versão punk de Marylin Monroe. O estilo retrô-chique tornou-a um ícone de estilo, um retrato perfeito de sua época. Aliado ao visual estava um enorme senso criativo na performance de palco, que contou com o máximo de personalidade. Assim, a banda conquistou seu espaço pelo apoio popular.
Seu primeiro selo foi o Private Stock, com o qual lançaram o single X-Offender e seu primeiro álbum, Blondie, em 1976, com muita energia no ritmo e uma sensibilidade que remontava às canções dos anos 60. As vendas foram fracas, mas o selo Chrysalis percebeu o potencial da banda e apostou: com eles, lançaram seu segundo álbum, Plastic Letters (1977), que entonou seus primeiros grandes hits, como Denis. O baixista Valentine deixou a banda durante as gravações, resultando na adição de dois novos membros: Frank Infante em mais uma guitarra e Nigel Harrison no baixo. Com formação sólida, concluíram o projeto. O sexteto então observou seu sucesso no exterior, entrando no Top 10 do Reino Unido, enquanto em casa ocupavam o 72º lugar nas paradas norte-americanas. Mesmo anos depois, Blondie acabou tendo maior notoriedade fora dos Estados Unidos, construindo uma ótima reputação entre a crítica europeia.
O álbum sequência, Parallel Lines (1978), foi seu tíquete dourado. Considerado atualmente um dos discos mais influentes dos anos 70, o álbum abriu espaço para o new wave na indústria musical. Foi nele que surgiram Heart of Glass e One Way Or Another, considerados hinos da banda.
Bem no ápice da banda, veio a triste notícia: logo após o lançamento de seu sexto álbum de estúdio, The Hunter, em 1982, a banda anunciou sua separação. O hiato veio quando o guitarrista Chris Stein foi diagnosticado com pênfigo, uma rara doença de pele que exigiu seu afastamento dos palcos. Como mantinham uma relação amorosa na época, Debbie cuidou de Stein. No meio tempo, encabeçou sua carreira solo, que culminou em cinco álbuns entre 1981 e 2007 e uma vasta filmografia, incluindo alguns documentários sobre os Ramones, com os quais teve enorme amizade. Seu relacionamento com Stein terminou em 1989, mas continuaram amigos e colegas de trabalho. Desde então, ela manteve sua vida amorosa de forma privada, dedicando os holofotes à filantropia. Sua prioridade foram as lutas contra o câncer e a endometriose, causas que levanta até os dias atuais.
Falando sobre os Ramones, as afiliações de Debbie foram bem longe do rock, conferindo ainda mais versatilidade ao seu trabalho. Junto a Stein, se familiarizou com o trabalho do artista de grafite Fab Five Freddy, que os introduziu a cena emergente de hip-hop no Bronx. Também mantiveram conexões com o famoso DJ Grandmaster Flash. Debbie também se aproximou do artista plástico Andy Warhol, que produziu várias obras inspiradas na loira. Suas colaborações se estenderam à identidade musical, quando Debbie afirmou em entrevista à MTV para a série Andy Warhol’s Fifteen Minutes que Warhol a ensinou “a sempre estar aberta a coisas novas, músicas novas, estilos novos, bandas novas, tecnologias novas e a sempre seguir em frente. Nunca ficar perdido no passado e sempre aceitar coisas novas, não importa sua idade”.
Após 15 anos, a banda se reuniu com quatro dos membros originais (Debbie, Stein, Clem Burke e Jimmy Destri) embarcando em seu sétimo álbum, No Exit, lançado em 1999. O single Maria foi o número um no Reino Unido, além de alcançar o topo das paradas em 14 outros países. Nos Estados Unidos, ficaram no 17º lugar. A partir dai, a banda seguiu com novos lançamentos, sendo o mais recente Pollinator, lançado em 2017. A banda não perdeu sua essência ao longo da estrada, mesmo com a inserção de novos elementos e adaptação às novas tendências. A sonoridade de Pollinator é tão autêntica quanto qualquer outro disco da Blondie, acertando na dose de músicas dançantes e melodias cativantes.
Debbie continuou a trabalhar em projetos solo, pois acreditou ser necessário desvincular-se da persona “Blondie” que, segundo ela, teria sido sua única identidade durante todo o tempo com sua banda principal. Destacou a necessidade de haver uma distinção clara entre quem eram as pessoas “Debbie” e “Blondie”. Durante este conflito em que seu nome e o de sua banda eram frequentemente confundidos, o grupo lançou o slogan “Blondie is a group” (“Blondie é um grupo”), tentando oferecer à Debbie uma oportunidade de aflorar sua própria identidade em seus novos projetos. A resposta foi positiva, e a campanha lhe conferiu novas possibilidades. Explorou diferentes estilos e ideias entre participações com bandas como Arcade Fire, Jazz Passengers e Fall Out Boy.
Com a determinação da banda, poderosas influências na indústria musical e um grande apoio dos fãs, a Blondie se tornou um dos exemplos de maior sucesso do new wave e também um dos maiores ícones musicais dos anos 70 e 80. Emplacando nas rádios e garantindo seu lugar no coração de vidro do público, tão sensível às mudanças latentes dos anos 70, a Blondie mantém seu legado vivo e em constante atividade, trazendo identidade musical às novas gerações. Mesmo após tantos anos, a magia do new wave continua viva, com Blondie mantendo-se uma banda além de seu tempo e cheia de originalidade.