Natural de New Jersey, nos Estados Unidos, o Gaslight Anthem tem uma trajetória recente. Iniciou suas atividades em 2006, lançou o debute (Sink or Swim) no ano seguinte, alcançou um status mais popular com The ’59 Sound (2008), seguiu com mais quatro discos entre 2010 e 2014 (incluindo um de b-sides) e fechou sua jornada com o anúncio de um hiato por tempo indeterminado (2015).
Nesse período produtivo de seis discos em nove anos, o Gaslight entrou no meu radar de bandas que precisava, necessitava e implorava por um show. Como eles nunca foram ao Brasil, o mais próximo que cheguei foi de uma apresentação em Hamburgo, na Alemanha, em 2014, logo após o lançamento de Get Hurt. A proximidade citada foi apenas na data. Vi um cartaz do show na loja do St Pauli (time de futebol), criei minhas expectativas, mas fui frustrado quando descobri que não poderia estar lá no dia.
Com o anúncio do hiato e Fallon seguindo uma carreira solo altamente produtiva, vi minhas chances irem para o ralo. Mas para a minha surpresa, o Gaslight divulgou que faria alguns shows especiais para celebrar os dez anos do meu disco favorito, The ’59 Sound. Era chegada a hora do planejamento. Troquei a cobertura do Lollapalooza Chicago por uma semana em Toronto, no Canadá. Consegui acompanhar Arctic Monkeys e Camila Cabello (atrações do festival) em shows individuais, mas o plus mesmo seria o Gaslight.
A Rebel, casa que recebeu o Gaslight, fica nas docas de Toronto, o que proporciona um belo visual do skyline moderno da cidade. A capacidade total é de 2,5 mil pessoas. Cientes da popularidade da banda e importância dos shows comemorativos, os donos da Rebel agendaram duas apresentações (dias 9 e 10 de agosto), ambas sold out!!! Michael, assessor de imprensa da casa, garantiu o meu ingresso.
Quem abriu os trabalhos da noite foi o local Matt Mays, um veterano do indie canadense. Confesso que me senti um estúpido por desconhecer o trabalho do cara, aparentemente bem popular por aqui. O ex-guitarrista do The Guthries segue uma linha que transita entre o folk e o indie rock do início da década 2000. Boa parte do seu repertório foi cantado pelo público, sempre com refrões marcantes.
Mas os fãs estavam lá pelo Gaslight mesmo. Sem tempo a perder, Fallon abriu a apresentação com quatro faixas em sequência, sem espaço nem para um “boa noite”. A primeira interação com o público veio com um recado bem humorado para os seguranças da casa: “O que vocês estão fazendo aqui? Podem ir embora, olha o nosso público. É um monte de tiozão de 40 anos ou mais, eles estão sentados nesses camarotes, tomando uma cerveja. Não se preocupem com eles”, brincou o vocalista.
E o recado irônico veio em boa hora. A partir daquele momento, o Gaslight tocaria o ’59 Sound na íntegra. Quando surgiram os primeiros acordes de Great Expectations, muitos dos “tiozões”, até então comportados, correram para a frente do palco, trocando empurrões, pulando e cantando junto com a banda. E o ritmo frenético se manteve inalterado até The Backseat, canção que fecha o disco e essa parte do show.
O que já estava de bom grado, ouvir esse discão na íntegra, ficou ainda melhor quando a banda ainda mandou mais 11 canções, equilibrando bem todos os seus lançamentos.
Em National Anthem, a banda ainda convidou Matt Mays para cantar junto. Bela pedida! O cara mandou muito bem no vocal de apoio, não escondeu a alegria de dividir o palco com a atração principal da noite e foi ovacionado (mais uma vez) pelos fãs.
American Slang, do disco homônimo (2010), para fechar a gig de 1h40, mostrou que os músicos sabem equilibrar bem os momentos mais esperados durante o tempo todo. Um set longo que passa rápido, muito bem tocado (parece que os caras seguem ensaiando de forma ininterrupta desde a pausa) e sem espaço para lamentações dos fãs.
Ao todo, a banda fez 21 shows entre América do Norte e Europa para comemorar o aniversário de ’59 Sound. Não se sabe ainda qual será a sequência, muito menos se teremos um disco novo. Mas vamos torcer por um show desse no Brasil.