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SÃO PAULO, SP, 22.04.2018 - SOUNDHEARTS FESTIVAL - A banda Radiohead durante o Soundhearts Festival, no Allianz Parque, em Sao Paulo; turnê que já passou pelo Rio de Janeiro conta ainda com o DJ americano Flying Lotus, do grupo Junun e dos brasileiros da Aldo the Band. (Foto: Carla Carniel/Codigo19/Folhapress)

Faro de Rock - Bruna Faro

As experiências de um grande show: da limpeza ao backstage

BRUNA FARO
Foto: Carla Carniel / Folhapress

Todo grande fã de música sonha em um dia ver seu artista favorito ao vivo. Ir a um show vai muito além de somente assisti-lo. É uma montanha-russa de sentimentos que começa bem antes do músico pisar no palco. A alegria que sobe com um pulo quando aquela banda que tanto ama anuncia um show em seu país. A contagem regressiva junto às sinfonias que tocam sem parar nos seus fones.

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Chega o grande dia e sua mente está pura adrenalina e ansiedade. A cada passo que dá está mais perto do palco, até que encontra o lugar perfeito. Banheiro e comida? Podem esperar, todo esforço vale a pena.

Depois de horas em pé a iluminação diminui e em um piscar de olhos seu grande ídolo aparece ao som da sua música favorita. Seu corpo é só arrepio em uma atmosfera cheia de energia e por duas horas você vive o momento sem se preocupar com nada, só com a emoção em sentir aquela arte que sempre admirou. Muitos já passaram por essa experiência fantástica aqui no Brasil, onde há cada vez mais eventos como esses.

Somos o segundo maior país da América Latina quando o assunto é produção ao vivo, ficando atrás somente do México. No mercado de entretenimento e música estamos em primeiro entre os países latinos e no ranking mundial em nono lugar, de acordo com estudo da PwC.

O local do Carnaval sempre gostou de espetáculo, mas montar um custa caro, leva tempo e é preciso muito esforço.

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No começo do ano tive a oportunidade de trabalhar em shows e experimentar algumas das diversas áreas que existem em sua execução. Muita gente tem curiosidade de saber como funcionam os bastidores, por isso, como uma amante da música, resolvi contar essa experiência de fã para fã.

Katy Perry – acesso
Muitos dizem que quem faz o artista são seus apreciadores, posso dizer que os de Katy Perry são extremamente apaixonados e fiéis. Em seu show, trabalhei com o acesso da pista premium.

“Acesso” é basicamente ficar nos portões guiando as pessoas para a entrada certa, ajudar com os itens que podem ou não entrar, checar os ingressos e tirar dúvidas.

Essa é uma das funções de operacional que abrange os trabalhos que lidam com as necessidades do público e são de extrema importância para a organização e conforto, como segurança, limpeza, grades, filas, entre outras.

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É um cargo que aparenta ser calmo, mas na verdade exige muita agilidade, conhecimento das normas do local e muita voz. Já reparou que na entrada, antes da revista, tem pessoas gritando “homens para um lado, mulheres para o outro”? Isso é acesso. Inclusive berrei muito!

Momentos de tensão também fizeram parte da experiência. Haviam várias pessoas chorando pois estavam com ingressos falsos. Tinham outros com comida ou bandeiras que eram barradas e jogadas no lixo. Muitos deixavam tudo no chão, o que gerava um acúmulo enorme de sujeira. Era preciso ser ágil para pegar tudo antes que a próxima leva de pessoas chegasse.

O momento do ápice aconteceu quando os portões abriram. Havia centenas de fãs desesperados querendo alcançar a grade. Para não correrem o risco de se machucarem, os policiais fizeram uma barreira contendo as pessoas de forma pacífica. Foi gratificante presenciar tudo isso e ver que a primeira menina da fila foi a escolhida por Katy Perry para subir ao palco!

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Soundhearts Festival com Radiohead – limpeza
Mais uma das funções do operacional, a que mais me surpreendeu de todos os trabalhos. Exige muita estratégia, organização e rapidez. Até o local da lixeira tem que ser programado antes!

É importante pensar bem onde vai colocar cada uma para não atrapalhar as passagens, muito menos as de bombeiros. Também é necessário que as latas fiquem perto dos containers para depositar os sacos que estão cheios com mais facilidade, assim não precisa ficar andando com lixo durante o evento.

Como me disseram no dia, “limpeza é algo que todos exigem mas ninguém quer ver sendo feita”. Poucos dão o devido valor. É um trabalho difícil, cansativo e importantíssimo.

Problemas no banheiro fazem parte da higiene, como quando uma privada entope e o toalete é interditado até que seja resolvido. A sujeira nos portões é mais uma responsabilidade para essa função. Sempre achei que a arrumação era da porta para dentro, mas aprendi que não.

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Toda a calçada em volta do local também é supervisionada pelos profissionais do evento. Garantir que não tenha objetos cortantes, nem lixeiras no meio do caminho, são só alguns dos cuidados. A limpeza precisa ser uma ação discreta e acima de tudo eficiente.

The Kooks – backstage
O famoso backstage. Fiquei extremamente feliz quando descobri que trabalharia arrumando o camarim do The Kooks, uma banda que gosto demais.

Alguns profissionais da área falaram que não é bom ficar em uma posição dessas quando é alguém que você admira, pois o nervosismo pode surgir e naquele momento é necessário manter a calma para trata-lo como outra pessoa qualquer.

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Meu trabalho foi seguir os requisitos dos músicos e organizá-los dentro de cada sala que tinha no camarim.

Todo artista tem um “ride”, ou seja, uma lista que mandam para a produção com as exigências da equipe. Alguns pedem extravagâncias como plantas específicas ou bebidas importadas. Outros pedem esquisitices como uma determinada cor de M&Ms só para testar se o encarregado leu todo o texto.

Geralmente, o responsável por esse setor deve arrumar o ambiente e garantir que tudo que foi pedido esteja lá dentro. Muitas vezes acaba algo e é preciso ir correndo no mercado mais próximo para comprar o que falta.

A primeira vista ficar no backstage parece glamouroso, mas para quem organiza, a correria é a mesma de qualquer outra área.

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Exige muito cuidado e atenção para que o ambiente esteja impecável quando a banda chegar, pois é nesse momento que terão seu tempo sozinhos para relaxar e se concentrar antes da apresentação.

Com essas pequenas experiências percebi que um show é muito mais do que parece. São vários profissionais de iluminação, montagem, segurança, divulgação… Gente que não acaba mais.

É normal que a maioria não repare no trabalho coletivo que existe além do palco. Na hora em que as luzes apagam todos os olhares se voltam para a atração principal.

Porém, enquanto o público vibra com suas músicas favoritas, aqueles que de alguma forma ajudaram a organizar o evento, estão correndo para transformar a experiência daqueles fãs na melhor possível.

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