Os reflexos da third wave do ska na Baixada Santista

Os reflexos da third wave do ska na Baixada Santista

Há alguns meses destacamos um pouco da história do reggae na região, citando seus pioneiros e os principais nomes em atividade na Baixada Santista, como Casa Rasta, Macaco Prego e Afrodizia, só para citar três dos mais conhecidos pelo público. E seus integrantes conhecem bem outro gênero semelhante, o ska.

O que muita gente não deve saber, entretanto, é que o ritmo jamaicano já impactou Santos e vizinhança no final dos anos 1990 e início da década 2000, muito influenciado pela third wave (terceira onda) do ritmo, uma febre nos Estados Unidos.

Antes de chegarmos a esses nomes é preciso fazer uma breve explicação sobre o ska. Muitos pesquisadores e publicações especializadas indicam que o gênero surgiu no final dos anos 1950, na Jamaica. Teria aparecido antes do rocksteady e reggae, e o ritmo carregava influências de dois sons típicos do Caribe: mento e calypso, mas com uma dose de jazz norte-americano e rhythm & blues.

https://www.youtube.com/watch?v=pZ28stet7-E

Os primeiros nomes a despontar no ritmo, que chegou a ser dominante na Jamaica nos anos 1960 e muito apreciado em outras regiões como o Reino Unido na mesma época, foram Desmond Deker, Toots & The Maytals, Derrick Morgan, Prince Buster e The Skatalites, esta última com vindas frequentes ao Brasil até hoje.

Dançante, o gênero logo encontrou uma geração bem disposta a dar uma nova cara ao som no Reino Unido, mais especificamente em Coventry, a cerca de 150 quilômetros de Londres. Foi nessa cidade que, a partir do fim dos anos 1970, a Two Tone Records (2Tone) virou uma referência.

Os jovens músicos adicionaram elementos de punk rock e new wave, à época bem em alta, para criar suas bandas. The Specials, The Selecter, Madness, The Beat e Bad Manners são alguns dos mais festejados. Entre idas e vindas, essas bandas se mantêm na ativa até hoje. Infelizmente sem muita presença pela América do Sul. Concentram suas turnês na Europa e na América do Norte.

A third wave veio a dar suas caras em meio ao frenesi do punk e hardcore nos Estados Unidos na segunda metade dos anos 1980. Diferentemente da 2Tone, a terceira onda não se concentrou em uma cidade ou estado. A Califórnia, que contava com um cenário poderoso que incluía Operation Ivy, Green Day, Nofx, entre outras, se destacava. Mas Boston (Mighty Mighty Bosstones), Nova Iorque (The Toasters) e Detroit (Suicide Machines) também mostravam sua força.

Já nos anos 1990, a third wave do ska virou fenômeno vendável com No Doubt, que iniciou a carreira como cover do Madness e lançou a bela cantora Gwen Stefani, Rancid, principalmente com os discos …And Out Come the Wolves (1995) e Life Won’t Wait (1998), além da turma que veio na esteira com hits nas rádios e MTV, casos de Sublime, Reel Big Fish, Goldfinger, Mighty Mighty Bosstones e até a sueca Liberator. Isso sem mencionarmos toda influência adquirida por Offspring e outros.

Reflexos na Baixada Santista

Obviamente, o título principal dessa página é uma brincadeira. Não existiu oficialmente na região uma quarta onda do ska, reconhecida mundialmente. Mas o Brasil viveu um momento especial nos anos 1990 e 2000. Como ignorar a coletânea Ska Brasil (1997), que popularizou nomes como Skamoondongos, Skuba e Boi Mamão? E o Sapo Banjo, que sempre fez bonito no underground? A lista é imensa.

Na região, os efeitos foram menores, mas perceptíveis. Skalibur, Psicogroselha e Atiradores, mesmo que não formassem um cenário exclusivo delas, souberam transitar entre as bandas de punk e hardcore. The Bombers e Riot 99 exploraram o ritmo em vários momentos de suas trajetórias também. Uma outra banda quase saiu do papel, a Skapuccinos, mas ficou apenas nos ensaios na garagem.

Atiradores
A vontade de fazer um som em português e com mais influências de ska foi a desculpa de Jean Marcell para criar a Atiradores, logo após a sua saída do The Bombers, em 1998. “Queria trabalhar um som ska em português, com direito a um belo naipe de metais, mas acabou apenas com um trompete”, lembra Marcell. Acompanharam o músico Rubens Lima (bateria), Fabiano Riot (baixo) e Denis (trompete).

Os trabalhos autorais da Atiradores não tardaram. Foram duas demos lançadas: Comi a Vizinha (1998) e Por Que Você Não Vem? (2002). O single Comi a Vizinha chegou a tocar nas rádios e a faixa Skaminhando virou vinheta em comercial da extinta Enseada FM. Outros sons conhecidos foram Em Algum Lugar, Então Diga e Ska Dance Tonight.

Entre 1998 e 2003, outros integrantes passaram pela Atiradores, entre eles Denis Pi (Savantes), Estefan (Bombers), Maccoy (Riot 99) e Felipe Peralta (Turn Away).

Apesar de tocar com várias bandas de punk rock no Chopp Chopp e Praia Sport Bar, a principal memória de show da banda foi em uma festa à fantasia. “Uma maré de gente invadindo até a piscina do local”, lembra Marcell.

Skalibur
Essa banda teve vida curta, não gravou nenhum som autoral e apenas uma canção própria foi tocada em show. Mas a Skalibur tem seus motivos para estar na lista de bandas marcantes. Um deles é a representatividade que tinha com o público amante de ska.

“Eu e o Rafael Santos estudávamos no mesmo colégio. Em 1997, começamos a nos encontrar na casa dele para fazer algum som juntos. Eu tocando guitarra e ele, bateria. Até que certo dia, o Rafael me apresentou bandas como No Doubt, Save Ferris, Mighty Mighty Bosstones, Sublime, entre outras, e agitou para montarmos uma banda de ska. Decidimos que eu assumiria apenas o vocal e ele chamou o Lucas Rios (guitarra) e a Leticia Alcover (teclado) para integrar a banda. O Lucas chamou o primo, Fernando Oliveira (The Bombers), para ser o baixista”, recorda Mariana Rezek Moruzzi.

A Skalibur colocou também metais no som, algo bem característico do ska. Rodrigo Simonsen (sax) e Rafael (trompete) assumiram as funções.