Stevie Nicks: entre amor, drogas e rock n’ roll

Ela está entre os 100 maiores cantores de todos os tempos na lista da Rolling Stone. É a única mulher a ser incluída duas vezes no Hall da Fama do Rock n’ Roll, como artista solo e parte de banda. Foi batizada a Rainha Reinante do Rock n’ Roll e detém 13 indicações ao Grammy, divididos entre banda e carreira solo.

Stephanie Lynn Nicks, mais conhecida como Stevie Nicks, é uma das cantoras e compositoras mais consagradas dos EUA. Em uma carreira sólida, dividida entre sua participação no Fleetwood Mac e fase solo, Nicks é uma das mulheres mais poderosas do rock.

Nascida em Phoenix, no Arizona, Nicks teve suas primeiras lições de guitarra aos cinco anos. Seu avô paterno, Aaron Nicks, uma estrela country local, lhe ensinou um vasto repertório country no violão. Mesmo tão jovem, a pequena já participava das apresentações do avô em alguns bares locais. Como não conseguia pronunciar seu nome direito, Nicks recorreu à pronúncia stee-dee – mais tarde, transformada em Stevie. O apelido pegou, tornando-se seu nome artístico.

O pai de Nicks, um executivo em ascensão, foi o motivo pelo qual a família entrou em uma onda de viagens. Se mudaram diversas vezes, passando pelo Novo México, Texas, Utah e Califórnia. Em 1963, quando pousaram nos subúrbios de Los Angeles, Nicks  começou sua trajetória em bandas escolares. Quando os Nicks se mudaram para Palo Alto, na Califórnia, Stevie conheceu Lindsey Buckingham, guitarrista e compositor cheio de inspiração e potencial. A amizade entre os dois foi imediata, fazendo com que firmassem uma longa parceria musical.

Enquanto sua família se mudava para Chicago, Nicks optou por ficar na Califórnia. Ela e Buckingham se juntaram a banda local Fritz. O grupo chegou a abrir shows para Janis Joplin e Jimi Hendrix, mas se desfez em 1971.  Nessa altura, os dois já estavam envolvidos romanticamente. Junto à Polydor Records, resolveram lançar um álbum como duo, intitulado Buckingham-Nicks (1972). Os riffs trabalhados e a vibe romântica entre os dois tornaram a obra extremamente sensível, afirmando a sintonia inegável entre o casal.

Na mesma época, a banda Fleetwood Mac enfrentava dificuldades com seus membros. Em 1974, encontraram o estúdio Sound City para suas gravações – o mesmo estúdio onde Nicks e Buckingham haviam gravado seu primeiro disco. O produtor do estúdio Keith Olsen apresentou a faixa Frozen Love à banda, que se emocionou com os solos de Buckingham. Quando seu guitarrista original Bob Welch abandonou o barco, o grupo não pensou duas vezes. Buckingham aceitou, com a única condição de que eles também aceitassem a cantora Stevie Nicks como parte do grupo.

Os dois novos membros levaram o Fleetwood Mac ao sucesso. Do dia pra noite, Stevie Nicks se tornou extremamente conhecida. Lançaram seu décimo álbum de estúdio, o homônimo Fleetwood Mac (1975), que emplacou vários singles nas paradas musicais. Com belos arranjos e hits esmagadores, como Rhiannon e Landslide, a banda decolou. Warm Ways e Say You Love Me, outros singles da banda, dispararam o grupo para o sucesso comercial. As performances cheias de charme atraíram os olhares do público para Nicks, que elevava o trabalho artístico do Fleetwood.

Enquanto o profissional crescia, a vida amorosa passava por turbulências. Nem tudo foram flores em seu relacionamento, fazendo com que Stevie e Lindsey se separassem em 1976. A cantora nunca mais teve um romance duradouro. No mesmo ano, Nicks ainda enfrentou problemas de saúde relacionados à sua voz. Os demais casais da banda também enfrentavam conflitos, como divórcios e separações. No meio desta bagunça emocional coletiva, lançaram Rumours (1977), que acabou se tornando seu maior sucesso.

Em Dreams, uma de suas canções mais populares, é notável o turbilhão de emoções que o grupo enfrentava. Nicks afirma em retrospecto que a banda fez de seu pior momento pessoal uma obra prima. Todas as letras de Stevie conversavam com a situação vivida na época, entre separação, brigas e problemas com drogas.

Mesmo em meio à tristeza, esta foi a era de ouro do grupo, que venceu o Grammy de Melhor Álbum do Ano (1978) e figurou por 31 semanas no primeiro lugar da Billboard 200. O álbum mescla instrumentos elétricos e acústicos, brinca com os sentidos e revela nuances criativas no pop, entregando canções verdadeiras como Go Your Own Way, Never Going Back Again e Gold Dust Woman.

Stevie sentiu a necessidade de embarcar em carreira solo. Em 1981, lançou Bella Donna, com participação de Tom Petty. O álbum embalou seu principal hit solo, Edge of Seventeen, além de canções marcantes como Leather and Lace e Stop Dragging My Heart Around, dueto com Petty. No ano seguinte, trabalhou simultaneamente nos dois projetos, lançando Mirage (1982) com o Fleetwood Mac e The Wild Heart (1983) como seu projeto solo.

Os problemas com drogas começaram a se agravar no mesmo ano. Quando sua melhor amiga faleceu, ela se casou com o viúvo, numa tentativa de prover uma família ao filho mais novo da amiga. O casamento durou menos de um ano, mas seu uso de cocaína foi se tornando cada vez mais frequente.

Com a rotina de uso de drogas, a cantora lesou a cartilagem do nariz. Ficou em reabilitação por 28 dias em 1986, mas após o uso de um remédio psiquiátrico, acabou ainda mais dependente. Em 1987, o Fleetwood Mac gravou seu último álbum com toda a formação original, Tango in the Night, que marcou a saída de Lindsey Buckingham e um abalo na carreira de Nicks.

Uma das coisas que a fizeram atravessar os momentos foi a fotografia. Nicks conta como se fotografava nas madrugadas, durante as turnês, com sua polaróide. A insônia sempre foi um peso, por isso aproveitava esses momentos para exercitar os olhares. Mudava os móveis dos hotéis de lugar, colocava um batom vermelho e partia para fotos.

Momentos de descontração, com fotografias e composições, eram o que lhe mantinha sã. Muitas dessas imagens figuram no álbum 24 Karat Gold: Songs From the Vault (2014), o último lançamento de originais da cantora.

https://www.youtube.com/watch?v=IV3n_4x4Jbk

Nos anos 1990, Stevie se recompôs. Após anos de vícios e ganho de peso, começou a cuidar da saúde em 1993. Lançou Street Angel (1994), que não teve muita repercussão, apesar do alcance dos singles Maybe Love Will Change Your Mind e Blue Denim. Neste trabalho, suas letras são ainda mais focados em temas amorosos, revisitando o passado com Lindsey Buckingham.

Pouco tempo depois, o Fleetwood Mac se reuniu para o lançamento de The Dance (1997). O álbum que precedeu a maior honra possível à banda: a indução ao Hall da Fama do Rock n’ Roll, que aconteceu em 1998.

Em seu site, a cantora fala sobre as emoções que ainda se mantém latentes quando embala seus maiores sucessos. Mesmo tantos anos depois, o sentimento que criou sua música continua aceso. “Não é fingimento, nunca foi… É o motivo pelo qual eu subo aos palcos e canto Edge of Seventeen toda noite desde 1981, ou Gold Dust Woman. Às vezes eu não lembro do que aconteceu ontem, mas eu me lembro tão bem de todo o período em que escrevi essas canções”. Nicks totaliza oito álbuns sozinha, nove com o Fleetwood Mac, três coletâneas e um álbum ao vivo de sessões solo.

“In the edge of seventy”, ou melhor, no auge de seus 70 anos, Nicks segue em relevância no mundo da música. Lançou ainda esta semana a coletânea Stand Back, que revisita sua carreira solo em 40 faixas. Voltou a se apresentar com o Fleetwood Mac desde 2014, quando participaram em alguns eventos em sua formação original.

Neste ano, é uma das induzidas ao Hall da Fama do Rock n’ Roll por sua carreira solo, o que legitima as duas faces de seu trabalho. Com suas letras românticas, harmonias encantadoras e canções que marcaram gerações, Stevie Nicks se consagra como uma das mulheres mais importantes do rock n’ roll.