AJ and The Queen e a cena drag da Baixada Santista

AJ and The Queen e a cena drag da Baixada Santista

Para os fãs de RuPaul’s Drag Race, temos uma notícia incrível para vocês! A Netflix estreou na última sexta-feira (10) a série de comédia AJ and the Queen, onde RuPaul atua como uma drag queen de Manhattan.

Sinopse de AJ and The Queen

RuPaul estrelou nesta série ultrajante como uma drag queen que perdeu a sorte e viajou pela América em um trailer com um clandestino de 10 anos de idade.

A trama de AJ and The Queen começa com a drag Ruby Red se apresentando em uma boate com um belíssimo vestido vermelho “em chamas”.

Durante a performance ela anuncia que estará abrindo seu próprio estabelecimento, em Nova York. Local onde promete muito mais glamour do que este em que trabalha.

Ao longo de sua carreira, a drag conseguiu juntar US$ 100 mil, dinheiro suficiente para a abertura do empreendimento. A boate seria administrada pelo namorado, no entanto, ele some levando todo o dinheiro.

O homem que ele pensava estar apaixonado por ele, na verdade, estava usando uma identidade falsa para roubar todas as economias de sua vida.

Desta forma, Ruby precisa encarar a terrível realidade e embarcar em um trailer, onde se apresenta em várias cidades.

No meio desta confusão, o artista encontra uma criança birrenta e mandona, que vive em seu prédio. AJ, o vizinho de 10 anos, é um personagem que o acompanha durante a série.

O jovem foi despejado de sua casa casa, após sua mãe, uma usuária de drogas, ter desaparecido sem deixar pistas.

Preconceitos em AJ and The Queen

Questões de gênero e preconceitos são abordados durante a série. Além disso, cada episódio fala sobre às diversas microculturas e atitudes LGBT. Ademais, vocês também poderão ver as apresentações de Ruby Red com perucas esculpidas em bombshell e vestidos deslumbrantes, ao som de Tina Turner e Diane Ross.

AJ The Queen está disponível na Netflix com dez episódios, cada um com cerca de 1h de duração. As empresas de produção envolvidas com a série incluem MPK Productions e Warner Bros. Television. Os criadores são RuPaul e Michael Patrick King.

A Cena drag na Baixada Santista

Pesada

Divas desfilando na noite. Este cenário não existe apenas nas séries, podemos encontrar aqui mesmo, na Baixada Santista. Para falar sobre esse tema, conversamos com uma drag queen, que tem construído sua carreira na cena caiçara.

Em entrevista ao Blog n’ Roll, Diego Medina, de 22 anos, colaborador da Comissão Municipal de Diversidade Sexual de Santos, nos contou sobre como começou na arte drag.

“Desde criança eu sempre me vi artista. Eu sempre quis cantar e fazer algo, que eu pudesse colocar para fora um sentimento maior que eu. Entretanto, não conhecia o mundo drag, então passei a acompanhar algumas artistas pela internet. Aos poucos fui entendendo, e neste momento, vi que eu mesmo poderia ser uma delas!”

Diego Medina, colaborador da Comissão Municipal de Diversidade Sexual de Santos

Mão na massa… Quer dizer, na make!

“Certa noite, resolvi dar vida à esta admiração. Dei o nome para a minha drag de Pesada, por eu ser um homem alto e gordo. Nisso, ao conversar com um amigo meu que trabalha na cena caiçara há bastante tempo com a drag Mohara, demos vida à Pesada, em 2017. Mohara decidiu me montar pela primeira vez, e assim, saímos na noite. Desde então, comecei a ter uma notoriedade bacana na cidade, me tornando conhecida neste meio”.

Com essa notoriedade, Pesada produziu várias músicas. As obras são inspiradas nas drags Pablo Vittar, Aretuza Lovi e Lia Clark. Confira abaixo uma de suas obras, o single Eu Não Sou Tuas, está disponível no YouTube.

Trata-se de uma homenagem às mulheres, principalmente à Marielle Franco, vereadora brasileira assassinada a tiros, no Estácio, Região Central do Rio de Janeiro, em 2018.

Eu Não Sou Tuas // Composição: Diego Medina

Produção: DJ Gabriel

Letra
“É do berço de madeira
que nasce uma flor
uma mana
Que tem grito de Negrâlo
É tanta fala que tem para dizer
Tanto espaço para compreender
Eu to chegando e vê se não para
Olha bem, olha bem na minha cara
Procure me ouvir
Tu tem pouco tempo
Para se reconstruir”

Diego também falou sobre o preconceito enfrentado por desenvolver este tipo de arte em Santos.

“Quando se montamos pela primeira vez, vemos olhares estranhos das pessoas. Mas não são olhares depreciativos, mas de curiosidade. Recebemos perguntas diariamente, como: quem é essa pessoa? Qual é a história desta drag? Por que se tornou drag? Eu, particularmente, me senti acolhido por meus familiares, e pelas pessoas”.

Diego revela que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por ser drag e ser um homem LGBT. Apesar disso, já viu outras pessoas sofrerem.

“Não posso falar sobre esta realidade na minha vida, mas posso falar sobre o que vejo ao meu redor. Sou colaborador da Comissão Municipal de Diversidade Sexual de Santos, e nós recebemos muitas denúncias sobre ataques de homofobia, que várias pessoas recebem dos familiares e também dos locais”.

Como funciona o mercado drag na Baixada Santista?

“O mercado drag é muito caro, pois você precisa ter dinheiro para bancar tudo e esperar o retorno financeiro, que acaba demorando demais. Muitas pessoas são drags por amor, porque o dinheiro que recebem não paga nada! Receber por apresentações dá certo para quem já está há muito tempo na cena ou faz algo que dê outro retorno. As apresentações na Baixada Santista funcionam assim: As drags que frequentam diariamente as casas, passam a serem reconhecidas. Com isso, as oportunidades chegam… Foi assim comigo!”

Neste vai e vem, Diego garante que ser drag lhe deu muitas oportunidades, bem como ampliou seus horizontes. O jovem é estudante de jornalismo e atualmente está se organizando para voltar aos palcos, nas noites da Baixada Santista.

Em breve, novas músicas serão lançadas. Para entrar em contato com ele, acesse suas redes sociais…
Instagram @DiegoPesadadrag
Twitter @pesadadg
Facebook @pesadadg

Nós do Blog n’Roll desejamos que este tipo de arte seja abraçada ainda mais em nossa região, e que a cena caiçara seja um lugar de acolhimento. Onde as drags consigam desenvolver seu trabalho sem nenhum tipo de agressão ou preconceito. Até porque, como disse o Diego: Ser drag é amor!