Crítica | Jojo Rabbit – um chute com classe na intolerância

O garoto alemão solitário JoJo Rabbit (Roman Griffin Davis) vive em um Fantástico Mundo de Bob (lembra dessa animação?) ambientado na Segunda Guerra Mundial. Com um nacionalismo cego, muito comum em diversos países até hoje, ele segue conselhos do seu amigo imaginário Adolf Hitler (Taika Waititi, também diretor e roteirista do longa).

Seu maior sonho é participar da Juventude Hitlerista, um grupo pró-nazista composto por outras pessoas que concordam com os seus ideais. Só que o JoJo se mostra diferente logo no batismo, quando se recusa a matar um coelho. Daí vem o Rabbit do nome do filme.

As coisas, no entanto, fogem do padrão nazista de JoJo quando ele descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) está escondendo uma jovem judia (Thomasin McKenzie) no sótão da casa.

A partir dessa revelação, o menino precisa confrontar os seus ideais. Enquanto pensa em matar a judia, o alemão também consegue refletir diante dos pedidos dela. Mas é justamente aí que aparece o amigo idiota para convencer do contrário.

Uma relação de amor e ódio entre o alemão e a judia se desenvolve ao longo do filme. Acompanha essa história uma trilha sonora incrível, com Beatles e David Bowie (tudo bem, não tem problema não bater com o período da trama, como alguns coleguinhas reclamaram).

Apesar de ser uma comédia, Jojo Rabbit traz contornos dramáticos. É impossível ignorar as mensagens colocadas em cada cena. Ainda mais por se tratar de uma história ambientada num mundo bem real e, infelizmente, atemporal.

Até onde um ser humano pode ser maldoso só para comprovar seu fanatismo idiota? Não, não é para direita ou esquerda escolher lado na história. Taika Waititi faz uma sátira muito inteligente da Segunda Guerra Mundial.

Referências históricas x Jojo Rabbit

Isso é possível porque a história foi amplamente divulgada e suas marcas estão visíveis em quase todos os países. Seja em museus, campos de concentração, presídios abandonados ou nas marcas de destruição pelas cidades.

A Alemanha, por exemplo, reconhece as atrocidades de Hitler. Espalhou homenagens e memoriais por todo o país. Um exemplo que poderia ser seguido pela Sérvia, que não reconhece a matança promovida nos Bálcãs. Ou a Holanda, que não admite ter sido conivente com o genocídio em Srebrenica, na Bósnia. E podemos estender para o Brasil também, já que torturador é exaltado até hoje por lideranças políticas.

Reconhecer os períodos tristes da história da humanidade abre caminho para produções como Jojo Rabbit, que poderia muito bem faturar diversos prêmios no Oscar. Provavelmente não conseguirá justamente por ter uma concorrência de alto nível.

E, por falar nos desempenhos de cada ator, Sam Rockwell, mais uma vez, está impecável. Ele interpreta o Capitão Klenzendorf, um oficial do exército que dirige o acampamento da Juventude Hitlerista.

Jojo Rabbit. Comédia dramática. 1h48. Direção e roteiro de Taika Waititi. Com Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson e Sam Rockwell.

Em cartaz no Roxy Pátio Iporanga