Recentemente, em entrevista ao Sportv, o presidente do Santos Futebol Clube, José Carlos Peres, disse que via com bons olhos a modernização da Vila Belmiro. Segundo o dirigente, é possível o estádio Urbano Caldeira virar um teatro para grandes apresentações.
Peres foi além e disse que a Vila Belmiro poderia receber shows que hoje estão concentrados, em sua maioria, no Allianz Parque, em São Paulo. Será que é possível vislumbrar nomes internacionais relevantes por aqui? Com certeza! A história não deixa mentir.
Santos já foi palco para artistas de todos os portes. Do Deep Purple à Shakira. Do Helloween a Bill Halley. Do Men At Work a Joe Cocker. E por aí vai. A lista é imensa. Alguns desses shows já foram até esquecidos.
Um deles, em especial, me chama bastante a atenção. Em 1977, durante sua primeira passagem pelo Brasil, Joe Cocker incluiu Santos na rota. As outras cidades visitadas foram Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.
Vamos aos fatos: Santos recebeu um dos nomes mais festejados de Woodstock, que rolou oito anos antes, numa segunda-feira!!! E não para por aí. A apresentação aconteceu logo após dois shows seguidos no Ginásio da Portuguesa, em São Paulo.
Momento turbulento
É preciso ressaltar que Joe Cocker não vivia o melhor momento da carreira um pouco antes de vir ao Brasil. Entre 1972 e 1977, o cantor enfrentou diversos problemas com drogas, álcool, depressão e perdas.
Em 1974, durante uma série de apresentações na Costa Oeste dos Estados Unidos, Joe Cocker chegou a vomitar no palco. Um ano antes de chegar a Santos, o Mad Dog ainda lançou um de seus piores álbuns em alcance comercial. Stingray, de 1976, foi gravado na Jamaica, mas não alcançou mais do que um modesto 70o nas paradas dos EUA.
Para complicar ainda mais a situação de Cocker, o músico chegou ao Brasil já com uma dívida de US$ 800 mil com a A&M Records, além de uma batalha contra o alcoolismo.
A virada de jogo começou após conhecer o produtor Michael Lang, que concordou seguir com Cocker com a condição dele permanecer sóbrio. Acompanhado de uma nova banda, que incluía o pianista Nicky Hopkins, o guitarrista Clifford Goodwin e o saxofonista Bobby Keys (Rolling Stones), o britânico deu sinais de melhora na voz e na postura no palco.
A tour de Joe Cocker pelo Brasil, entretanto, não teve grande retorno de público. Em Porto Alegre foi um fiasco. No Rio de Janeiro, o Maracanãzinho, que poderia receber até 30 mil pagantes, contou com apenas 4 mil pagantes. São Paulo, todavia, foi um ponto fora da curva. Levou 12 mil pessoas em cada uma das datas.
Memórias de Joe Cocker em Santos
Em Santos, estima-se que o público tenha ficado entre 1,5 mil e 2 mil pessoas. Um número relevante para uma cidade do interior, ainda mais em uma segunda-feira. Mas ficou bem abaixo do esperado. À época, comentava-se que em caso de sucesso, Santos receberia Peter Frampton e o Chicago. Ficou na trave.
Há poucos relatos sobre o show de Joe Cocker em Santos. A apresentação aconteceu no dia 22 de agosto de 1977, no extinto Clube de Regatas Santista. O jornalista José Roberto Fidalgo, ex-A Tribuna, deu um relato muito pessoal e interessante sobre o concerto. Na edição de 28 de agosto, ele resumiu bem: “o clima do grupo todo no palco, sem exceções, é de um alto astral incrível”.
“Muita gente reclamou do som. Realmente, a coisa meio embananada. Acústica de ginásio é fogo. Mas, depois da terceira música, eu acostumei, sério. O público foi engraçadíssimo. Antes do show, houve um tumultozinho na porta, porque o acesso ao clube era feito por uma única entrada. Mas nenhum incidente digno de nota”, escreveu Fidalgo.
O jornalista ainda registrou o entusiasmo do público, que só se levantou nas últimas duas músicas. “Será que foi torpor por ver Joe Cocker, o cara de Woodstock, frente à frente?”
Joe Cocker, que faleceu em 22 de dezembro de 2014, no Colorado, Estados Unidos, ainda veio outras três vezes para o Brasil (1991, 1997 e 2012). No entanto, não incluiu mais Santos na rota. Mas as lembranças dessa apresentação Regatas jamais sairão das cabeças dos fãs.