Em turnê pelos Estados Unidos com Rancid e Dropkick Murphys, a californiana The Bronx certamente é um dos nomes mais empolgantes na atualidade. Mas essa banda de punk rock não é nenhuma novata. Está há quase 20 anos na estrada e com uma produção frenética. O mais novo capítulo dessa trajetória é o álbum Bronx VI (Cooking Vinyl), lançado recentemente.
The Bronx surgiu em 2002, em Los Angeles, e teve o primeiro álbum gravado na “cozinha” de Gilby Clarke, ex-guitarrista do Guns n’ Roses.
O guitarrista Ken Horne, que está na banda desde o segundo álbum, The Bronx (2006), conversou com o Blog n’ Roll sobre o sétimo trabalho de estúdio, o projeto paralelo dos integrantes (Mariachi El Bronx), a atual turnê, pandemia e o cenário californiano.
The Bronx sempre foi uma banda muito ativa, com shows, gravações e videoclipes. Como foi esse período sem poder realizar boa parte dessas atividades?
Foi difícil, mas nós fizemos. Lançamos um álbum de lado B do Mariachi (Música Muerta, Vol.1 & Vol.2), fizemos uma live, fizemos muita coisa. Como banda, foi bom conversávamos quase todo dia, pensando em novas ideias.
Este novo álbum foi feito em 2019, foi um bom tempo para pensarmos em como iríamos lançá-lo, ao invés de fazer de qualquer jeito.
Ao ouvir os álbuns, as pessoas têm pouca atenção. Então, ao invés de lançar o álbum, lançarmos uma música por vez. Fazemos coisas que vocês não veem, mas estamos muito ativos.
Agora, de volta aos palcos, vocês estão em tour com o Rancid e Dropkick Murphys. Como tem sido a experiência?
Eu tenho me divertido. A gente não tocava por um ano e meio, era o que a gente mais sentia falta. Ainda é surreal estar em tour. Nos bastidores, antes, tínhamos família, amigos. Agora não tem mais ninguém. Tudo que a gente faz é curtir nos bastidores, no ônibus.
A gente não tem estado em tour, mas costumávamos sair, só de poder continuar tocando já é bom. É bom estar seguro, em primeiro lugar. Nessa tour todos os shows são ao ar livre, até o bastidor é um bônus.
Qual é a relação de vocês com os integrantes dessas duas bandas? Já haviam tocado juntos antes?
A gente já tocou com Dropkick Murphys em festivais e com o Rancid também. Não fizemos tour com eles, mas tocamos juntos em festivais fora do país. Tim Armstrong é um grande amigo do nosso baterista (Joey Castillo).
Voltando ao Bronx VI, como foi o processo de gravação do álbum?
Foi uma das minhas três melhores gravações, muito divertido. Gostei muito de trabalhar com nosso produtor, Joe Barresi (Tool, L7, Bad Religion, Judas Priest, Soundgarden, Slipknot, entre outros). Foram apenas três semanas, pouco tempo para nós, mas foi incrível. Essa gravação foi muito especial para mim, ainda mais trabalhando com o Joe, um grande produtor.
A Califórnia sempre foi vista como um celeiro de bandas de punk, hardcore e metal, algo que influenciou bastante diversas regiões pelo mundo. Como você vê o atual cenário?
Ainda há muitas bandas punks em Los Angeles. LA tem todo tipo de música. Tem mais bandas agora. Há muitos jovens, novas bandas, não é a mesma coisa que antes, que você formava uma banda, ensaiava e tocava ao vivo num clube. Hoje, você pode tocar ao vivo em qualquer lugar com internet e pode fazer lives pelo streaming. Não precisa ser uma banda de punk rock, qualquer um pode fazer.
Nunca existiram tantas bandas como hoje. Em todos os cantos da Califórnia: LA, San Diego, entre outros. Vejo tantos jovens, mas infelizmente não consigo acompanhar todos. Antes, sempre tentava acompanhar as bandas.
Durante a divulgação do novo álbum, vocês fizeram uma parceria com uma cervejaria de San Diego e criaram a cerveja Watering The Well. Como foi essa experiência?
Foi divertido! San Diego é uma cidade famosa pelas cervejarias. Eu morei lá por muito tempo e um velho amigo nosso, Dave Lively, abriu a Fall Brewing Company 5, seis anos atrás. Vamos fazer uma colaboração com a cervejaria.
A cada ano aumenta a popularidade da cerveja dele. Meu amigo, outro dia, foi comprar a cerveja Watering the Well (nome de uma faixa do novo álbum) e estava esgotada. Eles têm outra cerveja, Plenty for All, que recomendo e não está esgotada.
Com a retomada dos shows, existe a possibilidade de incluir o Brasil na rota de vocês? O que vem à cabeça quando vocês escutam sobre o Brasil?
Brasil é todo mundo bronzeado, praia, calor. E tem uma grande população de japoneses. Sou japonês, nasci no Japão. Então, li muito sobre a imigração japonesa no Brasil, por isso tenho interesse de conhecer o Brasil.
Há um famoso wrestler no Japão chamado Antonio Inoki, que morou no Brasil quando era jovem. Vários amigos que vão ao Brasil me dizem que há muitos japoneses no Brasil. Por isso tenho o Brasil sempre na minha mente. Sempre falamos de vir ao Brasil. É difícil irmos sozinhos, mas quem sabe com uma grande banda junto?
Fale mais sobre sua conexão com o Japão.
Vivi lá até os meus 17 anos, depois me mudei para San Diego. No entanto, volto lá todo ano. Minha família ainda mora lá, japonês é minha língua nativa. Eu tenho essa aparência, mas sou mais japonês por dentro. Minha família é de Yokohama. Eu vivi lá e em Tóquio.
A cena rock é incrível no Japão. Se você quer ver cultura americana legal, você deve ir ao Japão e à Suécia. Japão tem muita coisa diversificada, bandas punk, new wave, alternativas, ídolos japoneses. É muita coisa mesmo.
Paralelamente ao The Bronx, vocês também têm o Mariachi, El Bronx. Como surgiu esse projeto? Tem planos futuros para esse projeto? Quando podemos ter uma novidade?
Mariachi surgiu logo quando entrei na banda, em 2006, após lançarmos o segundo álbum. À época, fizemos um show na TV e perguntaram se a gente conseguia fazer uma música acústica. Então, Joby, nosso guitarrista, disse que as músicas do Bronx não iam soar maneiro, seriam musicas punk numa guitarra acústica. E ele disse: vamos tentar fazer uma música estilo mariachi.
Fizemos um arranjo para a música que soasse como mariachi. Logo depois, Joby escreveu três músicas estilo mariachi. Falei: nossa, isso ia ser demais, muito especial. De repente, tínhamos três álbuns.
Há duas semanas fizemos um show, faremos outro em outubro. É menos ativo, mas sempre está acontecendo algo. É difícil levar duas bandas ao mesmo tempo.
Para fechar, gostaria de perguntar sobre o baterista Joey Castillo. Ele está na banda desde 2018, mas tem uma bagagem pesada, com passagens por Danzig, Eagles of Death Metal e Queens of the Stone Age. O quanto mudou para vocês a sonoridade com a entrada dele? E o quanto a experiência dele ajudou vocês?
Há diferenças sutis, mas nada muito radical, o Joey é ótimo, muito inspirado, um cara legal, humilde, grande baterista, um monstro! É legal ter ele por perto. Claro que ele é um baterista muito criativo, ele fez nossas músicas ficarem mais pesadas às vezes, outras mais rápidas.
Eu adoro ouvir suas histórias também. Isso me faz voltar à história da minha influência japonesa. Tem uma banda japonesa muito famosa chamada X Japan e o guitarrista morreu uns 20 anos atrás, mas antes tinha uma banda chamada Zilch, onde o Joey foi baterista. Muitos lembram do Joey como o baterista da Queens of the Stone Age, Danzing, Eagles of Death Metal, mas eu lembro do Joey no Zilch.
*Tradução e entrevista por Isabela Amorim e Christina Amorim