Vinte anos atrás, em 1994, o rock vivia um momento especial. O grunge ainda estava presente nas paradas (mesmo com a morte de Kurt Cobain, do Nirvana), uma nova geração do punk rock estourava comercialmente, com o Green Day lançando o clássico Dookie e o Reino Unido nos apresentava Oasis e Blur. Isso sem falar das bandas de hardcore californiano, novaiorquino e metal que mantinham suas trajetórias com CDs marcantes.
No meio desse caldeirão de influências surgia uma banda de destaque em Santos: First Resist. Não era hardcore, nem metal, mas produzia um som que agradava em cheio os dois públicos. “Na época já tínhamos tentado alguns projetos que não haviam dado certo. Um dia decidimos marcar um ensaio e por em prática algumas ideias de músicas que costumávamos mostrar um para o outro. Ficamos em atividade durante nove anos”, lembra Manoel Neto, guitarrista da banda.
Durante toda carreira, a First Resist teve apenas uma alteração de membros. O baixista Rogério, que gravou as primeiros demo e CD, saiu para a entrada de Márcio em 2000. Edu (vocal), Manoel Neto (guitarra) e Petrick (bateria) completavam o time.
“No início a gente queria só se divertir mesmo. Aproveitar o tempo livre e ir amadurecendo como músicos juntos. Aos poucos a coisa foi ganhando corpo e, com a boa repercussão que teve o lançamento da nossa primeira demotape, em 1995, acabamos nos dedicando mais e sonhando com voos mais altos”.
Rotular o som da banda nunca foi uma tarefa simples. Quem ousasse fazer isso, certamente não entenderia alguns trabalhos. “Como a gente flertava com ambos (hardcore e metal) mas não podia ser considerada nem um nem outro, a galera tinha dificuldade de rotular. “Lembro que nos ensaios a gente tocava alguns covers que iam de Slayer até Depeche Mode, passando por Fugazi e Jesus Lizard. Procurávamos trazer tudo isso para o nosso som”, diz Neto.
O primeiro registro oficial da First Resist foi em 1997, com o EP Nothing, gravado em São Paulo e muito bem aceito por público e crítica especializada. Uma das músicas, Grey, chegou a sair em duas coletâneas norte-americanas.
Em 2001, veio o primeiro álbum completo, Save Me From Myself, também gravado em São Paulo e produzido por Michel Kwaker, guitarrista da banda paulistana Yohodelic. “Esse álbum nós quase não divulgamos no Brasil porque estávamos meio putos pela falta de oportunidades e estrutura no país. Era o início da era do MP3 e a gente investiu pesado nisso. Montamos um site bem legal onde a galera podia baixar as música ou ouvi-las em streaming. Isso hoje pode parecer comum demais, mas na época quase ninguém fazia e simplesmente lotamos as caixas de e-mail dos produtores, rádios e casas de shows nos quatro cantos do mundo”.
O resultado não tardou. A banda passou a receber e-mails de admiradores do som na Europa, Japão, EUA e até Indonésia. “Essa divulgação acabou abrindo muitas portas para a gente e tivemos músicas desse disco lançadas em algumas coletâneas, principalmente na Europa. Foi por causa disso que surgiu a oportunidade de uma fazer uma tour fora”, recorda Neto.
A turnê no exterior ocorreu entre março e abril de 2002, quando a First Resist realizou 16 apresentações em cinco países da Europa (Suíça, Alemanha, França, Portugal e Espanha).
“Tocar na gringa foi meio que um tapa na nossa cara. Pudemos ver como uma cena underground podia ser organizada e como o Brasil estava anos luz atrasado quanto a isso. Lembro que fizemos um show em Málaga, na Espanha, em plena quarta-feira, com jogo entre Real Madrid x Barcelona na TV pela semifinal da Copa dos Campeões. Resultado: o show teve oito pagantes. Mas o que mais deixou a gente boquiaberto é que no fim do show o cara da casa pagou o cachê combinado sem reclamar de nada, apesar de ter tomado um puta prejuízo. Se fosse no Brasil, com certeza estaríamos em alguma rodoviária pedindo dinheiro para voltar pra casa até agora”.
Mas o show mais marcante para a First Resist rolou em Zug, na Suíça. “O lugar tava cheio, a galera tava muito na vibe e fez a gente voltar ao palco duas vezes para dar bis. Foi demais”, diz Neto.
Hoje, 11 anos após o término das atividades, Neto acredita ser muito difícil um retorno. “Apesar de sermos grandes amigos até hoje, a vida deu rumos diferentes para cada um. Eu e o Petrick moramos fora de Santos e quase não nos vemos pessoalmente. O Edu, apesar de ainda estar em Santos, trabalha bastante e montou uma outra banda que deve lançar algo em breve. O Márcio, nosso baixista, faleceu em 2010. Aliás gostaria de deixar uma homenagem aqui. Ele era um grande cara com um baita coração”.