Elogiada publicamente pela saudosa Elza Soares como “uma promessa da nova Música Brasileira”, Maria Sil mergulha em sonoridades inovadoras e na sofisticação de suas composições, com o lançamento do single Bala na Garganta.
A nova música da cantora e compositora natural da Baixada Santista, baseada na história de um crime encomendado, uma execução, é interpretada como uma mera briga de bar, à época.
Com uma letra densa, Bala na Garganta soa como um lamento diante de um país que é recorde de assassinatos de ativistas dos direitos humanos. A música é uma crônica sobre o Brasil das execuções, dos crimes que prescrevem e da justiça que nunca chega nas periferias do país.
“É sobre as pessoas do Brasil profundo, que tentam mudá-lo de dentro para fora e acabam tendo suas vidas ceifadas. É sobre todas as mães que choram, mas são caladas pelas estruturas sociais”. Como canto no refrão, ‘se eu desafinar, é a bala na garganta‘, ressalta a artista que neste novo lançamento, explora harmonias da MPB com a roupagem urbana do trap.
Maria Sil é cantora e compositora com sete anos de carreira musical. Lançou em 2017 e 2019 os EPs Húmus e A carne, a língua, o vírus’. A artista passou por formações teatrais, pelo Conservatório Musical de Cubatão e pela licenciatura em Artes Cênicas na Universidade de Brasília. E foi justo no caminho para as aulas do Conservatório onde começou a nascer Bala na Garganta.
Em 2016, quando ainda estudava piano, começou a cantarolar durante as viagens em transporte público o que seriam os primeiros versos da música: a bala corre, o tempo come, a carne morta…pensando na justiça como o “ônibus que nunca chega” para muitas famílias periféricas do Brasil.
Depois de guardar a composição por muitos anos, o produtor musical DJ Cuco – responsável pela direção musical do monólogo Quando mataram os meus (2023), no qual Maria Sil atuou e assinou a dramaturgia – produziu Bala na Garganta para fazer parte da trilha sonora original da peça.
“O resultado foi tão genial, que ampliou o sentido da música para muito além do monólogo. Então, decidi lançá-la como single!”, conta Maria Sil.
A Baixada Santista é um celeiro de artistas gigantes que seguem produzindo, fora do eixo das capitais Rio-São Paulo, ainda que geograficamente próximos destas regiões. DJ Cuco, rapper e produtor musical que integrou o lendário grupo Voz d’Assalto, sentiu-se profundamente impactado pela letra de Bala na Garganta quando convidado para produzir a faixa.
“Maria Sil queria que fosse um trap! Eu visualizava uma trilha sonora épica e cinematográfica, com batidas eletrônicas e uma atmosfera lo-fi. Mas ao acrescentar a percussão e as cordas, consegui uma organicidade nova para o arranjo. Pensei num estilo Reese Bass, para que a sensação de tensão se mantivesse ao longo de toda a música. Espero que o público se emocione ao ouvir Bala na Garganta, da mesma forma que eu, ao criar algo tão especial”, comenta DJ Cuco.
O resultado agradou tanto à artista, que ela convidou DJ Cuco para ser o produtor do seu primeiro álbum de estúdio, com lançamento previsto para o final de outubro.
Ainda sobre as motivações do novo single, Maria Sil afirma que “não dá pra passar a vida com a bala na garganta. Quando você grita e a arranca lá de dentro, tudo fica mais leve. Esta música é dedicada a todas as pessoas que conhecem a dor de perder alguém executado. Dedico à Marielle Franco e sua família. E principalmente, a quem vive no Brasil profundo e resiste a ele.”