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Foto: Catarina Bertholini

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Maria Sil, de São Vicente, lança primeiro álbum, Grito, Beat & Poesia

A cantora Maria Sil lança seu primeiro álbum, Grito, Beat & Poesia, nesta terça-feira (19), em todas as plataformas digitais. O trabalho, que consolida oito anos de sua trajetória musical, propõe uma jornada sobre o Brasil contemporâneo a partir de suas vivências, em 11 faixas autorais. A produção é do DJ Cuco e a distribuição, do selo Sonora Digital.

Do funk pop ao ijexá, do rap ao samba de roda, entre outros gêneros, Grito, Beat & Poesia transita pela brasilidade e pela música urbana, remetendo a uma mesma origem – negra, periférica, que teve e ainda tem papel determinante na construção do país.

Neste sentido, o álbum reflete sobre as consequências recentes da ascensão de políticas fascistas, da negligência em relação à pandemia da covid-19 e da impunidade que ainda prevalece em casos de crimes de execução. Ao mesmo tempo, é um tributo à resiliência desta população, mesmo em um cenário de tantas mazelas sociais.

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“É o começo de um ciclo. Um trabalho autoral, independente, distribuído por um selo parceiro, que traz novas sonoridades e avança por um território que abriga com mais naturalidade minhas histórias. Afinal, cada uma de nós que permanece viva é uma vitória. E não podemos abrir mão de celebrar isso”, resume Maria Sil.

Por vezes como narradora de cenas que já vivenciou ou idealiza – e, em outras, como protagonista, a artista trans versa sobre ancestralidade, autoestima e amor livre, mas também impõe seu olhar crítico sobre a injustiça social, a violência contra as minorias, o preconceito e a discriminação em suas diversas formas.

Reflete, ainda, sobre a jornada de artistas independentes em meio às dificuldades impostas pela indústria e superando seus próprios medos e incertezas. “Network, streams / Relações para poder lançar os hits / Prisões, correntes / Ganhar uns kits de uma marca / Que não sabe o que passa na tua mente”, provoca o refrão de Na Tua Mente, música de trabalho do álbum.

“Sou uma boa contadora de histórias através da música”, prossegue, atribuindo a alternância entre temas mais leves e densos a um movimento natural de sua carreira como artista e compositora.

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“Penso que a poesia está também aos olhos de quem vê. Para mim, uma música como Estilosa, divertida, que trata o amor como algo livre, sensível, é tão política e poética quanto Bala Na Garganta ou Tapetes de Luxo, por exemplo, que abordam questões como a execução das populações periféricas no Brasil”, compara.

Este contraponto às vezes surge também em uma mesma faixa, como Samba Iaiá, que abre o álbum. Dedicada à mãe, Vani dos Santos, vítima de negligência médica durante a pandemia da covid-19, a canção fala sobre a autoaceitação e a luta de famílias por um futuro mais digno em meio ao cansaço do dia a dia, mas com leveza.

“Professora e mãe solo, em muitas noites tudo que minha mãe podia cozinhar ao chegar em casa era um prato de tutu de feijão. Essa memória afetiva acabou inspirando a letra”, conta.

Desta forma, Grito, Beat & Poesia reflete uma percepção maior de Maria Sil acerca do seu corpo, de sua história de vida e das dores com as quais lidou na adolescência e início da vida adulta. A cantora ressalta que não naturaliza violência, nem perdas, mas entende que ao expressar essas vivências no álbum – com um caminho musical definido e que abraça a complexidade da vida, inclusive seus bons momentos – hoje entende melhor sua própria trajetória.

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Novas sonoridades- Maria Sil ressalta a parceria com DJ Cuco na produção de Grito Beat & Poesia, reconhecendo-o como um dos precursores do movimento funk e rap da Baixada Santista, tanto à frente do grupo Voz de Assalto, como também produzindo nomes como MC Felipe Boladão e MC Careca, entre outros.

“Sempre ouvi histórias mais próximas das minhas no funk e no rap. Quando as letras de Estilosa e Fôlego – que fala sobre frustrações e recomeços – ficaram prontas, foi a primeira pessoa que pensei em convidar para produzi-las”, lembra.

A afinidade musical imediata rendeu, em seguida, um convite para a trilha sonora de Quando Mataram Os Meus, espetáculo encenado pela artista em 2023. A artista lembra ainda que o DJ reconhecia sua trajetória musical vinda da MPB e do pop, mas imediatamente entendeu sua intenção em construir outras sonoridades, o que foi essencial no processo de produção do álbum.

“Maria Sil trouxe referências como Elza Soares, Criolo, Irmãs de Paula, Ivete Sangalo e funk de fluxo. A partir daí buscamos elementos sonoros para criar a atmosfera que ela pretendia para cada canção. E chegamos a resultados muito interessantes, como Só No Blecaute, que combina trap e pagode baiano, uma experimentação inédita na minha carreira; Eu Vi, arranjo que flerta com a música erudita; e Tanta Coisa, originalmente uma balada romântica que ganhou batida eletrônica e samplers, o que considero minha assinatura”, comenta DJ Cuco.

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Maria Sil completa: “É um trabalho de produtor musical. Entreguei o meu melhor ao Cuco e ele me devolveu o seu melhor. É destes álbuns que deve ser ouvido por inteiro, não uma coletânea de singles”.

Além de músicas compostas com DJ Cuco, o álbum também traz parcerias autorais com a cantora Socorro Lira, com o educador e poeta Vandei Oliveira e com o músico Théo Cancello.

Nascida em São Vicente (SP), Maria Sil é cantora, produtora cultural, atriz e ativista social. Como cantora, tem dez singles lançados, além dos EPs Húmus (2017) e A Carne A Língua e o Vírus (2019), apresentado em shows no Sesc Pompeia, em São Paulo (SP) e no Sesc Santos. Recentemente teve músicas incluídas em obras audiovisuais de diretores como Gustavo Vinagre e Day Rodrigues.

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