Após a turnê Encontro, que celebrou os 40 anos do grupo com sete integrantes da formação mais clássica, o Titãs lançou o projeto Titãs Microfonado, pelo selo Midas Music. O novo trabalho será base de uma turnê de Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto.
Microfonado é um projeto desenvolvido por Rick Bonadio, que assina a produção do trabalho junto a Sergio Fouad, com objetivo de despir as canções de qualquer enfeite até colocar o ouvinte como se estivesse ao lado do artista no instante das composições dessas. Saem amplificadores, alto-falantes e caixas de retorno, entram violões, baixo acústico, bateria, e os únicos cabos são dos microfones que captam o som. Pensa nesse formato com o arsenal que os Titãs possuem.
O início é matador, com o mato-grossense (e lenda) Ney Matogrosso em Apocalipse Só, do mais recente disco de estúdio do grupo, Olho Furta-Cor, de 2022. Após um descer das cortinas em cavalgada roqueira, o timbre melodioso de Ney junto ao piano é a fagulha intimista que domina o restante do trabalho.
“Desde o comecinho da banda eu fiquei de olho neles”, lembra Ney. E eles voltam a 1984 na sequência num delicioso ska em Sonífera Ilha, e a peteca permanece no alto.
Como é Bom ser Simples, com a carioca Preta Gil como parte do quarteto, tem um recado até irônico de tão verdadeiro em seu texto: “Como é bom ser simples/ E deixar tudo de lado/ Para viver despreocupado/ Dando adeus ao meu passado”. “A música tem tudo a ver com meu momento”, diz Preta.
“Depois de assistir a um show, quando tinha 10, 11 anos, virei tipo groupie. Aí ficamos amigos e 30 anos depois tivemos oportunidade de gravar juntos”, completa.
O recado da canção é mais do que direto, mas eles emendam com o primeiro single e quarta bola no ângulo – talvez não tenha música melhor para o timbre astral solar do gaúcho Vitor Kley do que o reggae Marvin, também de 1984.
“Parece que nasci conhecendo Titãs, pelos meus pais escutarem. É uma banda que já vem no DNA. Que bom que existem os Titãs”, festeja Vitor.
A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana é outro hino titânico, agora com um novo timbre na voz de Branco Mello with a little help from his friends.
De Olho Furta-Cor, a rondoniense vocalista da potiguar Plutão Já Foi Planeta, Cyz Mendes, carrega a delícia cantada junto ao piano em Um Mundo. E do disco Sacos Plásticos, de 2019, a intro de bateria e a sonoridade oitentista enganam em Porque Eu Sei que É Amor até a melodia derreter no vocal doce da paraense Bruna Magalhães.
“Eu os escutava desde os 5 anos de idade. Foi ainda mais especial porque sempre me identifiquei com essa música”, diz a cantora.
A reta final de Microfonado traz mais um hino, mas, como é característica do grupo, nunca mofado. Cabeça Dinossauro carrega a fúria original do disco mais raivoso da história do grupo, nesta versão como um rap quase gangsta a cargo do carioca Major RD.
“Essa música é muito importante pra mim, além de eu gostar muito de misturar gêneros”, conta o rapper. E o laço final do pacote é dado pelo pernambucano Lenine na ode ao baiano que batiza a música, Raul. “Eu já os conheci no palco, em um show no Rio. Estavam cantando Sonífera Ilha e foi um impacto grande”, lembra o artista.