Tirar a atenção dos outros instrumentos e concentrar tudo na voz. Jade Baraldo consegue fazer isso de forma impecável com o EP Infame (Acústico), lançado no último dia 12. O registro é uma releitura do trabalho divulgado em dezembro de 2023.
Fim da Festa, Hello, Me Maltrata, Sabotar e Xóra são totalmente reconstruídas no formato acústico, como se tivessem voltado para a estaca zero, quando as canções são compostas no violão e voz.
No próximo dia 7, Jade Baraldo fará um show no Bourbon Street Music Club, em São Paulo. Com repertório de composições próprias, Jade apresentará músicas que fazem parte de sua trajetória artística e de seu mais recente trabalho, além de versões de clássicos do jazz e bossa nova.
Jade Baraldo, que surgiu com destaque em 2016, quando participou do The Voice Brasil, conversou com o Blog n’ Roll sobre sua evolução musical, o acústico, projetos futuros, além do machismo dentro da indústria fonográfica.
Como surgiu a ideia de gravar esse EP na versão acústica?
Todas as músicas que faço surgem em voz e violão. Então, pensei, poxa, por que não mostrar a versão voz e violão, que é o original das músicas? Esse é um EP que produzi, também mixei, botei a mão, os arranjos, tô tocando também. É um EP que não tem cortes, ele é ao vivaço mesmo.
Queria fazer algo bem orgânico, bem cru, essa era a ideia. E era de mostrar isso do outro lado das canções que faço, mostrar essa versão que é a original na maioria das minhas composições.
Infame coloca luz em temas importantes como a desigualdade de gênero, a discriminação enfrentada pelas mulheres, mas de um jeito bem particular. Você considera que a indústria fonográfica ainda é muito machista?
Acho que existe em todos os lugares, inclusive dentro dos nossos relacionamentos, famílias, mas na música principalmente. Se você for parar pra ver: quantas mulheres na música estão em cargos de liderança mesmo? Trabalhando no mercado da música são pouquíssimas. Só por isso já dá pra você perceber que ainda existe essa coisa.
Hoje vejo executivos falando de música como se estivessem vendendo sapato, sabe? Poderia estar vendendo sapato ou qualquer tipo de produto, não música. Pessoas que não entendem de música, inclusive, só entendem de números e planilhas. Enfim, você vê as pessoas falando sem nenhum estudo com o maior desdém da música.
Nessa indústria, a maioria é homem e eles acabam priorizando a conta deles. É complexo pra falar.
Jade, muitos artistas costumam dizer que a inspiração maior vem quando está em um relacionamento em crise. Mas bons relacionamentos também rendem ótimas obras. Como funciona para você?
Acho que, pra mim, como pra qualquer outro artista, é muito mais fácil você fazer música quando está em um momento bom. O relacionamento é algo que influencia muito as nossas vidas, a vida de qualquer pessoa. Não tem uma regra.
Mais Que Os Olhos Podem Ver, o seu único álbum cheio, foi lançado em 2019. Você pensa no sucessor dele ou a ideia é realmente seguir focada no lançamento de EPs e singles?
Queria muito lançar um álbum de uma vez porque faz tempo que não lanço, mas a gente sabe que o mercado hoje não funciona mais assim, temos que jogar muito com o que está acontecendo, infelizmente.
Se eu pudesse mandar no universo, as coisas não seriam assim, mas tenho que me adaptar. E vou trabalhar muito em cima de projetos, EPs, singles.
O álbum realmente passou para uma segunda opção no momento. Mas não porque quero, é algo do mercado.
O que vem pela frente, Jade? Você vai excursionar com o EP acústico?
Não vai demorar muito tempo para sair mais um EP. O acústico, na verdade, foi só um aquecimento. Essa coisa de ter que ficar lançando o tempo inteiro, muda o ritmo das coisas. Passei muito tempo pra lançar algo novo, agora tô um pouco mais adaptada.
Não ligo mais para o refinamento das músicas, estou mais desprendida das próprias opiniões. Sempre me cobrei muito, às vezes isso não é bom. A gente acaba ficando meio paralisado, acha tudo uma merda e não quer lançar nada, nunca se acha o suficiente pra fazer.
O Brasil passou a conhecer mais o seu trabalho após a participação no The Voice. Qual você acredita que tenha sido o seu grande trunfo para despertar a atenção do público?
A coragem de botar a cara a tapa, acreditar. Era só acreditar em mim, isso deu certo, foi suficiente para conseguir. Porque ali realmente é um ambiente muito confuso, super hostil, você fica com medo. E é um ambiente de competição, obviamente, é muito complicado, sabe?
Passei mal na minha última apresentação, passei muito mal, e quase não subi no palco. Pensei: ‘cara, não, eu vou fazer isso, eu vou fazer isso, não importa’. E fui, isso foi a minha coragem. A coragem foi a minha grande conquista.
Qual conselho você dá pra quem busca deslanchar a carreira por meio desses programas competitivos? Acha que esses programas são o caminho ou existem outras formas de buscar o reconhecimento?
Não acho que seja o único caminho. Acho que ele te coloca em uma plataforma, uma grande vitrine. Você chama atenção, as pessoas te conhecem, você atinge um público de massa.
Mas isso não quer dizer que você consegue seguir uma carreira ou viver de música. Muitas pessoas passaram por lá e não são nem sequer lembradas. Então, isso não é uma receita de sucesso.
Acho que a receita é você buscar plataformas onde consiga ter visibilidade, né? Isso é uma das coisas, porque não adianta cantar só dentro do quarto.
A segunda coisa é lançar música própria, música autoral. Isso aí é o que faz você conseguir uma carreira, ter público, ter pessoas que ficam contigo, que te dão apoio. Acho que isso é o mais importante de tudo.
Seu som traz muitas influências. O Infame reúne influências bem distintas. O que a Jade escuta normalmente?
É uma mistura de muitas coisas. Mas o que tenho escutado ultimamente é muita música pop antiga pra me inspirar mais na produção do que na conclusão. Tenho escutado muita Tinashe, que faz música pop com R&B, Destiny’s Child e Cassie, uma artista contemporânea desse pessoal.
Tenho muito isso no DNA artístico. Minhas inspirações passam por R&B, Chico Buarque, Caetano Veloso, Marina Lima, Adriana Calcanhotto. Gosto muito das letras, das poesias, isso me inspira pra caralho ainda hoje.
Como está a agenda de shows? Você pensa em vir para Santos?
Eu fui pra Santos, mas pra fazer a gravação de uma música, mas nunca fiz show em Santos. Mas temos show marcado em São Paulo, no dia 7 de agosto, no Bourbon. É o mais perto possível de Santos.
Jade, quais são os três discos que mais te influenciaram na carreira? Por que?
O primeiro é Milton Nascimento (1969). Milton Nascimento é um alienígena. A voz dele é algo que nenhuma inteligência artificial conseguiria reproduzir ou copiar. É um timbre de voz muito foda e são composições muito fodas, que são muito a cara de Minas Gerais. São melodias montanhosas. Parece que se elas tivessem desenhos de melodias, elas seriam montanhas, sabe? Quando ele canta qualquer música, consegue imprimir muita imagem.
A segunda é uma artista chamada Lianne La Havas, de Londres. Ela tem um álbum chamado Is Your Love Big Enough? (2012), que é muito foda. Ela é uma guitarrista fodida, canta pra caralho, é um negócio avassalador, nunca escutei tanto um álbum na minha vida.
E um outro álbum que escutei pra caralho também é o Chet Baker, só com as músicas clássicas dele. Gosto muito de jazz. A voz, o timbre do Chet Baker é muito foda. Uma voz meio doce, sedutora.