Crítica | O Pálido Olho Azul

Engenharia do Cinema Realmente a Netflix conseguiu abrir com chave de ouro no ano de 2023 em sua plataforma, com este “O Pálido Olho Azul“(que chegou a ser exibido nos cinemas estadunidenses em dezembro de 2022). Estrelado por Christian Bale, a história coloca o próprio como o respeitado detetive Augustus Landor que junto ao tímido Edgar Allan Poe (Harry Melling), em uma investigação misteriosa de assassinato de um cadete em uma Academia Militar dos EUA, localizada em West Point, Nova York, em pleno século 19. Imagem: Netflix (Divulgação) Inspirado no livro de Louis Bayard, lançado em 2003, a obra em si é uma história de ficção (uma vez que também não houveram registros que o próprio Allan Poe, que era escritor de romances beirando ao suspense, estava envolvido em uma investigação de assassinato naquela época), embora alguns outros personagens tenham existido, além do citado como os generais Sylvanus Thayer (Timothy Spall) e Ethan Allen Hitchcock (Simon McBurney). A mesma tinha como foco mostrar uma relação entre Pai e Filho, por intermédio de Landor e Poe (que estavam carentes de tais figuras em suas vidas). Por mais que isso esteja bem executado por conta das atuações de Bale e Melling (que cada vez mais está melhor como ator, desde que viveu o primo Duda de Harry Potter), o roteiro e direção de Scott Cooper (que já trabalhou com o primeiro em “Tudo Por Justiça”), beira a tentar literalmente se mostrar como um filme recheado de diálogos e falas, enquanto poderia ter resumido tudo em técnicas de direção. Um parágrafo de diálogo exercido pelos personagens, poderia ter sido compensado em um enquadramento de 10 segundos, uma vez que estamos falando de um filme de investigação (não havendo a necessidade de o detetive explicar o óbvio). Isso não acaba sendo prejudicial ao longa, pelo contrário, acaba sendo um desvio de recurso, uma vez que facilmente somos entrelaçados a tentar pensar o culpado pelo ato central. Em quesito de atuações, as medalhas de ouro para breves aparições vão para Lucy Boynton (“Bohemian Rapsody”) e Gillian Anderson (“Arquivo X”), que estão sendo bem aproveitadas em suas escalações. O mesmo infelizmente não se pode dizer sobre Charlotte Gainsbourg (“Ninfomaníaca”) e Robert Duvall (“As Viúvas”), cujos papéis não acabam pesando tanto e a escalação de ambos não é justificada. Com um design de produção e fotografia acinzentada que realmente nos coloca ao clima depressivo do cenário da trama, e da situação climática apresentada em Nova York (que era um período de extremo inverno). Ambos são bem executados, mas não dignos de Oscar. “O Pálido Olho Azul” acaba mostrando que pela primeira vez em anos, a Netflix consegue abrir o ano com chave de ouro, ao nos mostrar uma história de suspense envolvente que nos prende durante seus 120 minutos de projeção.
Crítica | Os Fabelmans

Engenharia do Cinema Desde que foi anunciado o início de seu desenvolvimento no final de 2021, muitos cinéfilos se animaram com o mesmo, uma vez que o enredo seria sobre a própria vida do cineasta Steven Spielberg. Sendo responsável pela direção, roteiro e produção de “Os Fabelmans“, antes de sua exibição ser iniciada, o mesmo aparece em cena para deixar claro ao espectador que este é “o filme de sua vida” e agradece a todos que escolheram conferir nos cinemas. Sim, durante seus 150 minutos é notório que estamos falando de um filme feito totalmente com amor, pelos envolvidos e pelo próprio Spielberg. A história de Os Fabelmans tem início em 1952, quando o então pequeno Sammy Fabelman (Mateo Zoryan) começa a nutrir uma paixão pelo cinema após ter conferido “O Maior Espetáculo da Terra“, fazendo vários filmes caseiros com suas irmãs e pais. Alguns anos depois e agora adolescente (Gabriel LaBelle), ele começa a realizar cada vez mais curtas e idealiza projetos ainda maiores, enquanto sua vida pessoal passa cada vez mais por situações que realmente são dignas de cinema. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Em seus minutos iniciais, Spielberg já consegue adentrar na mente do espectador por conta dos detalhes inseridos na cena onde Sam vai ao cinema, pela primeira vez com seus Pais. Os diálogos, expressões da plateia diante da cena do trem. Mesmo se tratando de um contexto histórico (porque o clássico de Cecil B. DeMille, revolucionou na forma de filmar cenas de ação), a sensação de primeira vez reflete nitidamente no público. Embora o escopo seja de um habitual filme familiar (como o próprio Spielberg deixa claro, em seu prólogo), a narrativa sempre dá um jeito de homenagear a filmografia do icônico cineasta, com cenas que remetem aos seus clássicos como diretor e produtor, o que é o caso de “De Volta Para o Futuro“, “Twister“, “O Resgate do Soldado Ryan” e até mesmo seus primeiros longas como “Louca Escapada“. Realmente ele realizou uma carta de amor para sua respeitada filmografia. Agora partindo para o contexto das atuações, é um verdadeiro exemplo de atores que entram de cabeça em seus papéis. Não seria nem um pouco injusto ver nomes como Paul Dano, Michelle Williams e até mesmo Seth Rogen, figurando entre os indicados ao Oscar de atuação (a segunda pode até ganhar, inclusive). Todos eles possuem seus momentos chaves, pelos quais são responsáveis por transpor os momentos mais emocionantes da história (que não vou entrar no mérito, por conta de spoilers). O mesmo não pode-se dizer de Gabriel LaBelle, que realmente convence como uma personificação de um jovem Steven Spielberg, em vários sentidos. Seja por intermédio do jeito acanhado, convicto de seus objetivos e o grande auxílio da maquiagem e penteado, que fazem o mesmo se assemelhar bastante com o próprio, em sua época que estava começando nos cinemas como diretor. “Os Fabelmans” termina com a sensação de que realmente ainda podem ser conduzidas obras com o intuito de ser totalmente sobre a paixão de um cineasta, para o cinema. Sem dúvidas, Steven Spielberg levará seus novos Oscars de Filme e Direção, por este seu mais importante filme.
Primeiras Impressões | The Last of Us (1ª Temporada)

Um fato é que essa foi uma das séries mais aguardadas dos últimos tempos. Inspirada no famoso game do Playstation, criado por Neil Druckmann, “The Last of Us” carregou durante anos uma legião de fãs que sempre sonharam em ver a história de Joel e Ellie sendo retratada de forma dramatúrgica nos cinemas ou nas telinhas. Em uma nova empreitada da Playstation, onde a plataforma abriu uma divisão responsável por adaptar seus games exclusivos, ela acabou levando o projeto para a HBO, que assinou com o respeitado cineasta Craig Mazin (“Chernobyl“) para realizar um seriado do mesmo. Durante a vinda de toda a equipe e dos protagonistas para a CCXP22, todos sempre falaram a mesma coisa sobre o resultado final “essa é uma série totalmente fiel ao jogo, mas com algumas alterações com o intuito de responder algumas pontas soltas na história”. E realmente neste episódio piloto só ficou nítida esta sensação. Após uma pandemia global transformar os seres humanos em zumbis com uma aparência de fungos ambulantes, Joel (Pedro Pascal) vive como um mercenário. Em um dos seus trabalhos, ele acaba se deparando com a jovem Ellie (Bella Ramsey), pela qual deve ser levada para uma outra cidade dos EUA. Sem saber exatamente o motivo da importância da garota, ele acaba aceitando a missão. Mas não imaginava os diversos desafios que terá de enfrentar pelo caminho. Imagem: HBO Max (Divulgação) É nítido que desde o primeiro segundo da obra havia um nítido respeito dos envolvidos pela adaptação, em relação ao jogo. Agora existe um contexto maior explicando que o caos já estava se formando realmente muitos anos antes do imaginável (e o próprio ser humano levava tudo na brincadeira, pois não acreditava na gravidade da fala dos cientistas), e a importância de alguns objetos mostrados no próprio jogo, como o relógio que a filha de Joel, Sarah (Nico Parker) lhe dá antes do surto começar (e que é sempre citado até mesmo durante o segundo game). São estes pequenos detalhes que fazem a história da série chamar atenção até mesmo dos fãs mais viciados do mesmo. Com cenas totalmente semelhantes em algumas horas, inclusive a fotografia se assemelha e muito há momentos do game (inclusive há tomadas em primeira pessoa, dentro do carro), principalmente no arco que envolve a fuga de Joel, Sarah e Tommy (Gabriel Luna). Os efeitos visuais também estão realmente impactantes, e se assemelham e muito ao cenário apocalíptico proposto (com detalhes totalmente semelhantes ao jogo). Porém, neste primeiro episódio o show é mesmo de Pedro Pascal, que realmente mostra que é totalmente compatível para a escolha de interpretar Joel. Ainda é bastante cedo para falar que Bella Ramsey fez uma boa Ellie, pois ela aparece relativamente pouco neste episódio (que possui cerca de 80 minutos). Em seu episódio piloto, a série de “The Last of Us” chega provando que assim como seu game, nasceu para ser uma das maiores produções em formato de seriado, na história. Engenharia do Cinema
Crítica | Emily

Engenharia do Cinema Não é novidade para ninguém que “O Morro dos Ventos Uivantes” é uma das maiores obras literárias da história, sendo referência para inúmeros outros livros, filmes e séries. Fazendo parte da grade de muitas escolas que possuem a disciplina de literatura pelo mundo, um fato é que muitas pessoas acabaram se deparando com o mesmo em algum momento da vida. O que foi o caso da atriz Frances O’Connor, que resolveu estrear na função de diretora e roteirista, para contar a origem da famosa obra (que certamente também lhe marcou em sua vida). A trama gira em torno do momento da vida que serviu como inspiração para a então tímida e atirada Emily Brontë (Emma Mackay), resolveu escrever o aclamado livro. Vivendo em uma região de campo, em pleno século 19, ela dividia sua rotina entre usar ópio com seu irmão Branwell (Fionn Whitehead) e aprender francês com o reverendo William Weightman (Oliver Jackson-Cohen), por quem ela nutria uma paixão secreta. Imagem: Imagem Filmes (Divulgação) Mesmo se tratando de uma fã de Brontë, O’Connor consegue acertar no principal quesito que é não deixar aquela totalmente artificial, à ponto do espectador ver que ela sempre era uma mulher perfeita e dona da razão (quando nós sabemos que nenhum ser humano é assim, e muitos cineastas cometem este erro ao retratarem seus ídolos nas telonas). Isso também é mérito da atuação de Mackey (que depois da série “Sex Education“, vai continuar por muito tempo vivendo a garota rebelde no cinema), que transpõe todas as mágoas, neuras e maluquices de Emily. Outros pequenos detalhes e cuidados no desenvolvimento da narrativa, também são brevemente notados, como por exemplo Emma Mackey ser francesa (o que faz a mesma falar o idioma fluentemente, como a própria Emily), a própria narrativa da trama remeter clássicos aclamados como “Orgulho e Preconceito” (que inclusive o livro de Jane Austen foi publicado quase na mesma época da obra de Brontë) e ainda abre uma brecha para um possível filme sobre a irmã de Emily, Anne Brontë (Amelia Gething) que escreveu o sucedido “A Senhora de Wildfell Hall“. “Emily” acaba sendo um interessante retrato de como a famosa obra literária “O Morro dos Ventos Uivantes“, surgiu e termina deixando que realmente toda boa cinebiografia não deve jamais idolatrar seus protagonistas.
Crítica | Ruído Branco

Engenharia do Cinema Sendo o último grande lançamento do ano, na Netflix, o longa “Ruido Branco” acabou fazendo um certo burburinho por ser o novo filme do cineasta Noah Baumbach (que foi indicado em várias categorias do Oscar, por “História de Um Casamento“, em 2020). Indo totalmente na contramão de suas obras, ele aproveita o caos que ficou o mundo por conta dos acontecimentos do último ano e adapta o livro de Don DeLillo, com base em situações que são vistas no nosso dia a dia e no cinema. A história tem inicio com o casal Jack (Adam Driver) e Babette (Greta Gerwig), um pacato casal que mora em uma pequena cidade dos EUA. Quando um acidente de trem acaba descarrilhando o mesmo, e um forte carregamento de produtos tóxicos acaba explodindo, um caos se instala na região, pois a medida que a fumaça avança, a contaminação também. O que faz a dupla fugir do local com seus quatro filhos. Imagem: Netflix (Divulgação) Se você assistir este filme mentalizando uma obra no estilo Michael Bay, Roland Emmerich e até mesmo Steven Spielberg, certamente você irá se decepcionar. Uma vez que estamos falando de um longa que foca no comportamento humano, diante de situações delicadas e inesperadas, e que possivelmente, poderão ocasionar em sua extinção. Para isso, Baumbach procura dividir o longa em três blocos que são o antes, durante e depois do incidente citado. E em cada uma dessas passagens, ele procura explorar um mesmo cenário e fazer um determinado parâmetro (como por exemplo, ele sempre mostrar o andamento de um mercado, deixando claro como nem tudo é o que parece). E raramente apela para o CGI excessivo e cenas de ação muito cabulosas e elaboradas (uma vez que o caos aqui se resume em nuvens e batidas de carro). E de forma inusitada, ele procura homenagear dois clássicos nomes do cinema, por intermédio de seus protagonistas: Woody Allen e Diane Keaton (protagonistas de “Noivo Neurótico e Noiva Nervosa”). Com uma atuação que lembra e muito a dupla citada, Driver e Gerwing demonstram ter uma enorme química em cena, e fará a diversão dos cinéfilos aumentar ainda mais. O mesmo pode-se dizer de Driver e Don Cheadle, que mesmo com este aparecendo relativamente pouco no filme, consegue tirar uma divertida cena com aquele sobre as “ligações” entre os seus conhecimentos de Hitler e Elvis (cuja equipe de montagem fez um trabalho excelente, ao intercalar com uma explosão tóxica se formando). Se você espera que “Ruido Branco” seja um filme que te entretenha com grandes cenas de fim de mundo, CGI excessivo e até mesmo momentos marcantes, saiba que você deverá procurar outra coisa. Aqui estamos falando de um longa que analisa o comportamento do ser humano, diante de situações caóticas e delicadas, e seu despreparo para cenários do gênero.
Crítica | Terrifier 2

Engenharia do Cinema Em algo extremamente raro na história do cinema, o diretor e roteirista Damien Leone acabou conseguindo com apelo de crowdfunding US$ 250 mil dólares para realizar “Terrifier 2” ( 430% à mais do orçamento privado que ele havia conseguido). Após o sucesso plausível do original, este segundo filme nitidamente conseguiu não só ter os erros reparados, em relação aquele, como ainda criou uma atmosfera maior para o novo grande ídolo do cinema slasher, Art – O Palhaço (David Howard Thornton, mais uma vez em excelente atuação), que até então já arrecadou cerca de US$ 12 milhões nas bilheterias mundiais. A história se passa na noite época de Halloween, quando Art começa a aparecer e assassinar todos em seu caminho, até que ele tem seu caminho cruzado com Sienna (Lauren LaVera), onde ele começa a causar o terror em sua vida. Imagem: Imagem Filmes (Divulgação) É perceptível que Leone extrapolou e abusou de todas as possibilidades que poderiam ser feitas por Art, quando ele está com suas vítimas prestes a serem sacrificadas. Sem pudor e não falando ou sussurrando alguma palavra, seus trajetos que lembram o estilo de Jim Carrey e Freddy Krueger, não causam arrepios em um primeiro momento. Mas quando ele está praticando suas insanidades, ele mostra o quão psicótico consegue ser. E isso Leone deixa claro desde a cena de abertura (pelas qual ele comete atos brutais, por mera diversão), cujos efeitos práticos e extenso trabalho de direção (como enquadramento nas horas mais constrangedoras), souberam deixar quaisquer espectadores se contorcendo na cadeira (inclusive há vários casos de pessoas que passam mal, durante as exibições nos cinemas). Com direito a muito sangue, violência e sequências realmente impactantes (uma vez que ele esbanja naturalidade ao abrir a cabeça de uma pessoa ou até mesmo rir de um animal morto), fazem o personagem ser muito mais amedrontador como aparece. Agora, assim como o recente “Avatar: O Caminho da Água“, estamos falando de um filme que é ótimo no aspecto técnico, mas que peca totalmente no roteiro (que realmente se não tivesse uma história, não teria feito diferença, uma vez que ele apela para diálogos vergonhosos, situações clichês e até mesmo um enredo totalmente previsível). Porém, no meio de tanto caos no roteiro, é nítido que Leone procurou estabelecer Sienna como a grande protagonista desta franquia que está nascendo. Uma vez que há um cuidado na retratação de seu arco, várias pontas soltas que são deixadas, e até mesmo no tratamento para Lauren LaVera virar uma nova Laurie Strode (Jamie Lee Curtis, protagonista de “Halloween“) com uma mistura de Ash Williams (Bruce Campbell, o icônico protagonista da saga “Evil Dead“). E é nítido que a garota tem talento para mais filmes deste universo, e terá pique para combater mais vezes Art. “Terrifier 2” se mostra como um verdadeiro slasher atual, que presta não só homenagem aos clássicos títulos do gênero, como mostra que este tipo de filme ainda merece ter mais destaque na indústria cinematográfica (que cada vez mais se abstém do estilo, de forma original, e fica apenas dedicado em franquias já estabelecidas).
Crítica | Gato de Botas 2: O Último Pedido

Engenharia do Cinema Após 11 anos desde o lançamento de “Gato de Botas”, o personagem responsável por ter roubado a cena de “Shrek” na maioria de seus filmes, teve a continuação de seu spin-off lançado em meio a um período onde as animações boas realmente estão ficando raras. “Gato de Botas 2: O Último Pedido” não só consegue entregar o mesmo tipo de humor que consagrou o mesmo, como também nos apresenta uma estética diferente em sua execução (que realmente dividiu o público, mas que foi utilizada propositalmente para se assemelhar com as ilustrações do livros de contos de fadas antigos). Após ter conseguido extinguir suas oito vidas antecessores, Gato de Botas (voz de Antonio Banderas) se vê que é a hora de aposentar sua vida de aventureiro. Mas ele acaba hesitando o mesmo, ao saber da existência de uma estrela do desejo, que provavelmente será a solução para que ele continue vivo. Só que ele não imaginava a quantidade extensa de outras pessoas que viriam atrás do mesmo objetivo. Imagem: Dreamworks Animation (Divulgação) O roteiro de Paul Fisher (“Jamaica Abaixo de Zero”) e Tommy Swerdlow (da divertida animação “Os Croods 2”), consegue resgatar aquele humor ácido que havia no longa original de “Shrek”, que realmente brincava com todos os cenários possíveis no mundo de contos de fadas. Embora mais uma vez os personagens batam com a personalidade dos próprios Banderas (que mais uma vez satiriza o lado galã e sua interpretação do Zorro) e Selma Hayek (que mais uma vez dubla a gata Kitty, o mesmo procedimento é feito com Florence Pugh (Caixinhos Dourados), Olivia Colman (Mamãe Urso), Ray Winstone (Papai Urso) e até mesmo em relação ao brasileiro Wagner Moura (onde curiosamente dubla o vilão Lobo apenas na versão em Inglês). Em quesito técnico, o design de produção e atmosfera criada na trajetória desses personagens, realmente chegam a impressionar (pois realmente parece estarmos vendo um livro infantil animado, em nossa frente), ao contrário das últimas animações da própria Dreamworks (que sempre optaram pelo CGI habitual). A dupla de diretores Joel Crawford (também de “Os Croods 2“) e Januel Mercado estavam cientes das situações que poderiam ser criadas em um cenário que poderia ser alterado constantemente (quem viu o filme, entendeu o que quis dizer) e para isso eles aproveitam as várias possibilidades. Além do mais, se tratando de uma produção voltada ao público infantil (o que justifica a metragem também ser menos de 100 minutos), eles fizeram questão de colocarem algumas piadas que possivelmente os adultos irão dar muitas gargalhadas (enquanto os pequenos não irão se assemelhar facilmente). Mas por se tratar de uma animação com um grande espaço de tempo, o tratamento aqui é colocado para o arco funcionar de forma antológica (não obrigando o espectador a assistir o longa de 2011 e os filmes de “Shrek“). “Gato de Botas 2: O Último Pedido” é mais um grande acerto da Dreamworks, onde em uma era que a própria Disney está se perdendo nas suas animações, sua concorrente está continuando suas principais histórias e conquistando ainda mais todos os seus espectadores. Obs: a animação foi conferida na versão legendada, em 2D.
Crítica | Olhar Indiscreto

Engenharia do Cinema Lançada exatamente no primeiro minuto de 2023, a minissérie brasileira da Netflix “Olhar Indiscreto” já chegou com as seguintes premissas de ser uma produção que mesclaria soft-porn com mistério. Dirigido pelo trio Luciana Oliveira, Fabrizia Pinto e Leticia Veiga, a produção dividida em 10 episódios consegue ter um escopo inteligente, mas sua execução com vários plot-twists constantes e “vai e volta” na linha do tempo do enredo, acabam cansando o espectador em vários aspectos. A história mostra a hacker solitária Miranda (Débora Nascimento), que passa o dia observando a rotina de sua vizinha Cléo (Emanuelle Araújo), que é uma garota de programa e atende vários clientes diferentes durante o dia. Mas quando esta vai fazer uma viagem e solicita que ela cuide de seu cachorro, Miranda acaba se envolvendo em um esquema muito mais complexo e maluco do que aparentava. Imagem: Aline Arruda/Netflix (Divulgação) Em seus primeiros três episódios conseguimos facilmente comprar a premissa, uma vez que mesmo se tratando de uma produção cujo escopo é vender várias cenas de sexo (sem ser de forma explicita), é até bem realizada em contexto de enredo (já que obras como “365 Dias” chegam a não ter história alguma). Mas quando a trama começa a tentar resgatar cada vez mais o passado de Miranda, Cléo e dos irmãos Fernando (Nikolas Antunes) e Heitor (Ângelo Rodrigues), o trem começa a descarrilhar. Uma mesma situação acaba sendo alterada diversas vezes (até mesmo pelo mesmo personagem, seja por intermédio do narrador ou do próprio ao contar contexto para personagem x ou y), sem motivo aparente nenhum, e algumas gafes são nitidamente colocadas para chamar o espectador de “burro” e “desatento” (de tão óbvias que são). Mesmo com algumas cenas de sexo serem jogadas totalmente forçadas (apenas com intuito de cumprir o rótulo dado para ela), isso não acaba sendo executado exaustivamente, a ponto de se tornar prejudicial para o enredo. “Olhar Indiscreto” termina como mais uma produção que poderia ter explorado melhor seu potencial, se não tivesse se preocupado em confundir a cabeça do espectador ao contar uma história de mistério.
Crítica | Gemini: O Planeta Sombrio

Engenharia do Cinema É difícil imaginar que em meio a um cenário com vários filmes que não conseguem verba para serem feitos, com a mesma temática, “Gemini: O Planeta Sombrio” conseguiu ganhar sinal verde do estúdio. Feito em parceria entre o cinema russo e estadunidense, não conseguia ver outra coisa, a não ser os diversos erros de edição, mixagem (inclusive era nítido que alguns diálogos foram alterados na pós-produção, por não baterem ao movimento dos lábios dos atores) e roteiro. Em meio a uma situação apocalíptica que vem se encontrando o planeta terra, um grupo de cientistas são enviados para o espaço para procurarem um planeta que seja habitável para os seres humanos. Só que eles não imaginavam que encontrariam um ser alienígena, disposto a exterminar um por um. Imagem: Paris Filmes (Divulgação) Realmente é perceptível que os roteiristas Natalya Lebedeva e Dmitriy Zhigalov eram fãs dos longas “Alien” e “Interestelar“, pois o enredo é uma mescla totalmente pobre destes e para se assemelhar algumas situações gritantes são colocadas. Como por exemplo a relação amorosa entre os cientistas Steve (Egor Koreshkov) e Amy (Alyona Konstantinova), que mesmo não possuindo alguma química (e atuações que beiram a primeira aula de teatro) em cena, são colocados em um arco totalmente pobre e que remete ao segundo filme citado. Isso sem citar algumas situações totalmente chulas, que acabam sendo uma afronta para a inteligência do espectador (bastava alguém de fora ter comentado com os envolvidos no projeto, que as decisões não estavam sendo as melhores). E quando somos apresentados ao próprio alienígena, faltou aquela presença, medo e ameaça, já que acabamos torcendo para ele terminar o serviço e o filme terminar o mais rápido o possível. “Gemini: O Planeta Sombrio” termina sendo mais um filme de horror que só serve para encher o catálogo das plataformas de streaming, e causar raiva naqueles que perderam tempo vendo uma história cheia de problemas.