Oasis em São Paulo: dezesseis anos de espera e um show que vai ficar na memória para sempre

Foram 16 anos de espera para poder rever o Oasis, a maior banda de rock dos últimos 30 anos. Sim, isso mesmo que você leu. Concorde ou não, os irmãos Gallagher são os responsáveis por tornar o rock grande mais uma vez e ocupando grandes arenas pelo mundo. E isso foi dito por muitos jornalistas especializados mundo afora e artistas acostumados a lotar estádios em todos os continentes, como Jon Bon Jovi. Na primeira noite no Brasil, no estádio do Morumbis, em São Paulo, o Oasis manteve a receita utilizada nos últimos cinco meses de turnê. O set não muda, as falas são quase iguais, Liam e Noel entram de mãos dadas no palco, o Poznan está presente em Cigarettes and Alcohol. Para não falar que não tem alterações, o homenageado em Live Forever sempre muda. Em São Paulo, o escolhido foi Gary Mani, baixista do Stone Roses, que morreu na sexta-feira (21). Says it’s good to be back, good to be back. Hello abriu o show após um breve vídeo no telão ao som de Fuckin’ in the Bushes, característica mantida das turnês passadas do Oasis. A sequência é arrebatadora do início ao fim. Após Hello, Liam puxou Acquiesce, Morning Glory e Some Might Say, dando o tom do show, quase todo focado em Definitely Maybe e (What’s the Story the Morning Glory). Mas com bom destaque também para The Masterplan e Be Here Now. Aqui cabe uma observação para os críticos amargos de jornalões de São Paulo, que vivem escrevendo que o Oasis só tem quatro álbuns e por isso focam neles nessa turnê. Quais bandas com 30 anos ou mais não fazem o mesmo? Temos algumas exceções, mas priorizar os maiores hits em uma turnê de reunião é a coisa mais comum do mundo. Standing on the Shoulder of Giants, Heathen Chemistry, Don’t Believe the Truth e Dig Out Your Soul, apesar de ignorados (exceções foram Fuckin’ in the Bushes e Little by Little), contam com ótimas canções. Mas o show de 2h05 contemplou muito bem a primeira e mais gloriosa fase da banda. A pesada Bring it on Down aparece na sequência, mas sem tanto apoio na cantoria dos fãs, que passaram a vislumbrar o momento histórico no palco. Aliás, muito legal ver a renovação do público. Muitos que estavam presentes na pista A certamente não eram nascidos na época da separação ou não haviam assistido um show do Oasis até então. Cigarettes and Alcohol, também do Definitely Maybe, álbum de estreia da banda, foi precedida por um pedido de Liam para todos fazerem o Poznan. E, quem não é fã do Oasis, deve estar se perguntando o que é isso, certo? Fanáticos pelo Manchester City, os irmãos Gallagher se divertem com as comemorações dos torcedores, que se abraçam, viram de costas e pulam. A inspiração da torcida do City, no entanto, veio dos fãs poloneses do Lech Poznan. Em 2010, o Lech Poznan enfrentou o Manchester City no Etihad Stadium, em Manchester, na Inglaterra. Seis mil torcedores poloneses viraram de costas para o campo, entrelaçaram os braços e começaram a pular em sincronia. A ação era um protesto silencioso contra a diretoria do clube, mas também uma demonstração incomum de lealdade: mesmo de costas, eles não deixavam de torcer. A torcida do City adotou tal comemoração para celebrar as vitórias, agora replicada nos shows do Oasis. Fade Away, Supersonic e Roll With It formaram mais uma trinca de respeito no setlist, com Liam no comando do vocal e sempre tentando discursar rapidamente com o seu sotaque carregadíssimo e impossível de entender. Na sequência, Liam deixou o palco para o seu irmão, Noel, assumir o protagonismo: Talk Tonight, Half the World Away e Little by Little vieram em sequência. Muito importante notar aqui a banda de apoio, com trio de metais e piano, que dão um peso generoso no som. Com Liam novamente de protagonista, o Oasis emendou mais uma série maravilhosa: D’You Know What I Mean?, Stand By Me, Cast No Shadow, Slide Away e Whatever. Em um dos momentos mais emocionantes do show, Liam dedicou Live Forever para Gary Mani, que teve seu rosto estampado no telão na parte final da canção. Liam estava visivelmente emocionado, nunca escondeu de ninguém que considera os integrantes do Stone Roses seus verdadeiros heróis. Rock and Roll Star, que já havia sido cantada pelo público durante o comercial de um carro antes do show do Oasis, fechou a apresentação, antes do bis. A volta ao palco foi ainda mais poderosa: The Masterplan, Don’t Look Back in Anger, Wonderwall e Champagne Supernova, que encerrou o set com uma linda queima de fogos e mais afagos entre os irmãos Gallagher no palco. Hoje tem mais Oasis em São Paulo e o Morumbis certamente vai ferver com mais 70 mil pessoas. Edit this setlist | More Oasis setlists
Massive Attack entrega show pesado, visceral e necessário em São Paulo

O Massive Attack tomou São Paulo na quinta-feira (13) com um show que não era só esperado, mas necessário. No Espaço Unimed, a banda britânica de Bristol transformou o palco em um misto de ritual político, instalação audiovisual e viagem sonora que deixou o público sem saber se respirava fundo ou só aceitava o impacto. Trinta minutos após o término do show do Cavalera, as luzes se apagaram, mas ainda não era Robert “3D’ Del Naja e Daddy G no palco. Dinamam Tuxá, Luana Kaingang, Alana Manchineri e Ângela Kaxuyana, representantes de diferentes etnias indígenas de norte a sul do Brasil, tomaram o protagonismo. Fizeram discursos fortes, necessários e pediram o apoio do público nas causas, lembrando a realização da Cop 30, chamada de “Cop do Crime” por Dinamam Tuxá. Depois de quase 20 minutos, o Massive Attack assumiu o palco com o tom já estabelecido. A partir dali, 3D e Daddy G conduziram um espetáculo que misturava batidas hipnóticas, vozes históricas e um telão que cuspia mensagens contra o colapso climático, exploração econômica e a máquina de moer gente que impulsiona o mundo moderno. Elizabeth Fraser (Cocteau Twins), Horace Andy (lendário cantor de reggae jamaicano e quase membro fixo da banda) e Deborah Miller (Dave Stewart do Eurythmics e James Taylor) apareceram como presenças quase míticas, cada entrada arrancando um suspiro coletivo do público. A sinergia entre as camadas sonoras e a estética visual deixou claro que o Massive Attack não veio para oferecer conforto, veio para provocar. O dream team do Massive Attack contou ainda com o baterista Damon Reece (Echo & the Bunnymen) e o guitarrista Alex Lee (Suede, Placebo e Florence and the Machine). Enquanto o telão trazia denúncias de crimes ambientais e humanos no Sudão, Congo e Palestina, além de críticas contra Elon Musk, Vladimir Putin e Donald Trump, o supergrupo transitava entre uma versão emocionante de Song to the Siren (de Tim Buckley), na voz de Elizabeth, para um punk rock como Rockwrok, do grupo britânico Ultravox. O recheio do set ainda trouxe a dançante Inertia Creeps e os superhits Angel e Teardrop, que encerrou o show. No fim, o que São Paulo recebeu foi muito mais que um show. Foi um alerta, um manifesto, uma obra de arte política travestida de apresentação musical. Um lembrete de que certas bandas não voltam ao Brasil para revisitar hits: elas voltam para acender um fósforo na sala escura. Edit this setlist | More Massive Attack setlists
Cavalera faz show potente com foco no clássico Chaos A.D.

Com o Sepultura se despedindo dos palcos, assistir Max e Iggor relembrando os clássicos da banda passa a ser um programa obrigatório para os fãs. E mais do que isso, levanta a dúvida: poderemos ver os irmãos Cavalera novamente na banda um dia? Na noite de quinta-feira (13), no Espaço Unimed, em São Paulo, Cavalera teve 45 minutos para entregar o seu melhor na abertura do show do Massive Attack, e conseguiu da melhor forma: foco quase exclusivo no clássico álbum Chaos A.D., de 1993. Foram nove das 12 faixas do álbum no repertório. Fundamental na discografia do Sepultura, Chaos A.D. marcou a transição do thrash/death metal para um som mais groove metal, incorporando influências de hardcore punk, industrial e até música brasileira. Além disso, foi o responsável por catapultar ainda mais a carreira dos mineiros no cenário internacional. Voltando ao show no Espaço Unimed, Max e Iggor aparentam estar muito saudáveis, centrados e entregaram uma apresentação de alto nível, junto com o filho de Max, Igor, que ocupa o baixo na banda. Durante todo o show, Max pediu insistentemente para o público pogar na frente do palco, mas não foi atendido da forma como esperava. Boa parte da plateia era 40 ou 50+ e estava mais na expectativa pelo Massive Attack. Nada disso, porém, tirou o brilho do show. Refuse/Resist e Territory, por exemplo, foram cantadas com muito apoio do público. Na reta final, quando já havia recebido o sinal para concluir a apresentação, Max combinou com Iggor e entregou Roots Bloody Roots para encerrar. Setlist Refuse/Resist Slave New World Nomad Amen We Who Are Not as Others Biotech Is Godzilla Propaganda Itsári (Iggor) Manifest Territory Roots Bloody Roots
Na esteira dos festejos de 30 anos, CPM 22 lança single “30 Anos Depois”

Dando continuidade à celebração pelos 30 anos de carreira, o CPM 22 lançou o single 30 Anos Depois, via Ditto Music. Com uma trajetória marcada por hits e uma legião de fãs leais, a faixa é uma homenagem à própria história da banda e à conexão construída com o público ao longo de três décadas. Com letra de Badaui e Luciano, a faixa reflete sobre a jornada do grupo desde os primeiros acordes no underground paulistano até os grandes palcos do país — traduzindo em som a persistência e o agradecimento a quem sempre esteve presente. A produção é assinada por Luciano em parceira com Ali, que também ficou responsável pela mixagem e masterização. “A letra dessa música nasceu de um texto que eu escrevi. O Luciano deu forma e lapidou a letra para que a gente pudesse contar essa história de um jeito mais direto”, relembra Badaui. Luciano conta que a ideia de compor uma música em comemoração às três décadas do CPM 22 já existia há algum tempo, mas o processo criativo começou a ganhar forma recentemente. “A ideia de fazer uma música em comemoração aos 30 anos da banda existia desde o ano passado, mas o processo de desenvolvimento começou há uns três ou quatro meses. A letra é baseada em um texto muito bonito que o Badaui escreveu sobre a história da banda. Já a melodia eu fiz na cabeça enquanto lia o texto, e parte dela surgiu numa viagem, num hotel em Santa Bárbara d’Oeste. Quando voltei pra casa, peguei a guitarra e comecei a montar os acordes a partir dessa melodia e completei a letra com frases minhas, ideias novas que surgiram ali no momento. A gravação foi feita por mim e pelo Ali, no estúdio dele, em São Paulo”, explica Luciano. E Badaui completa, “no fim, essa música é uma homenagem à nossa trajetória e também um agradecimento a quem sempre esteve com a banda.” O lançamento chega em meio à turnê comemorativa que está percorrendo o Brasil, levando aos fãs clássicos como Dias Atrás, Regina Let’s Go e Tarde de Outubro, entre outras. Um dos momentos mais marcantes dessa turnê foi a apresentação no festival The Town, em setembro, que reuniu uma multidão e reafirmou o poder e a relevância do CPM 22 no rock nacional. Com 30 Anos Depois, a banda reforça sua identidade e celebra não apenas o passado, mas também o futuro — uma trajetória que continua sendo escrita com a mesma energia e paixão que conquistaram gerações. Ouça 30 Anos Depois, do CPM 22
Billy Idol apaga má impressão do Rock in Rio e entrega show de alto nível em São Paulo

Prestes a completar 70 anos, Billy Idol voltou ao Brasil disposto a apagar a má impressão deixada no Rock in Rio 2022, quando errou a entrada de algumas canções clássicas e pareceu perdido no palco. Na noite de sábado (8), no Vibra, em São Paulo, Billy Idol mostrou que tem muita lenha para queimar e deixou uma impressão muito melhor. Divertido e à vontade, Billy Idol está em ótima forma. Manteve o set quase intacto da It’s a Nice Day to… Tour Again!, fazendo pequenas alterações. As novidades, na comparação com os últimos shows, foram o cover Love Don’t Live Here Anymore, de Rose Royce e regravada por Madonna em Like A Virgin, como foi lembrado pelo artista, além de Gimme the Weight, tocada pela primeira vez ao vivo. A faixa faz parte do álbum mais recente de Billy Idol, Dream Into It, lançado em abril. Por falar em Dream Into It, outras quatro faixas do disco foram tocadas: Still Dancing, que abriu o show, People I Love,Too Much Fun e 77, gravada com Avril Lavigne. Mas foi no mergulho nos anos 1980 que Billy Idol emocionou o público. Incluiu tudo que era esperado por eles: Cradle of Love, Flesh for Fantasy, Eyes Without a Face, Mony Mony, Ready Steady Go, Rebel Yell, Dancing With Myself e White Wedding, as duas últimas já no bis. Uma coisa muito legal da apresentação foi o tom “VH1 Storytellers” que Billy Idol deu. Contou muitas histórias antes de cada música. Nada cansativo ou arrastado, garantiu uma conexão boa para os sucessos. Antes de Rebel Yell, por exemplo, lembrou a origem do batismo da música, tal como já havia feito no VH1 em 2001. Segundo Billy Idol, ele estava em uma grande festa com Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood quando encontrou a inspiração necessária. “Todos eles estavam bebendo uma garrafa com uma coisa marrom, e era uma garrafa grande. Então, pensei: O que é isso que estão bebendo? E vi no rótulo um cavaleiro cavalgando, era um cavaleiro de guerra, e vi a inscrição Rebel Yell”. Outros pontos a destacar da apresentação são as presenças das backing vocals, Kitten Kuroi e Jess Kav, que roubam a cena com vários highlights. O lendário guitarrista Steve Stevens, parceiro antigo de Billy Idol e com contribuições marcantes para Michael Jackson e Michael Monroe, é personagem central do show. Além das várias interações com o cantor, ainda apresenta a música-tema do filme Top Gun, composta em parceria com Harold Faltermeyer. Para quem não conseguiu ir ao Vibra, Billy Idol ainda faz mais um show no Brasil, na próxima quarta-feira (12), na Arena da Baixada, em Curitiba. Edit this setlist | More Billy Idol setlists Supla O esperado encontro de Supla e Billy Idol no palco não rolou, mas o Papito entregou um show muito bom. Soube aproveitar os 50 minutos disponíveis para misturar hits de sua carreira autoral com uma espécie de karaokillers, com várias versões punks de clássicos do rock. Na parte autoral, Supla cantou faixas como Cenas de Ciúmes, Encoleirado, Japa Girl, São Paulo, Humanos e Garota de Berlim. Já entre os covers, Supla tocou Imagine (John Lennon), I Wanna Be Your Man e She Loves You (Beatles), além de Stand By Me (Ben E. King) e Let’s Dance (David Bowie). Em I Wanna Be Your Man, aliás, Supla foi para a bateria, tal como faz no projeto paralelo Brothers of Brazil, em parceria com o seu irmão, João Suplicy. Acompanhado de sua banda, Punks de Boutique, Supla abusou dos gritos e dancinhas. Vale destacar que a banda é muito boa e estilosa, lembrando o Holly Tree, saudosa banda de pop punk de São Paulo, que gravou o álbum Charada Brasileiro, em 2001, com o Papito. O Punks de Boutique é formado por Ale Iafelice (bateria), Henrique Cabreira (guitarra) e Edu Hollywood (baixo).
Antes de show com Linkin Park no Morumbis, Poppy entrega apresentação marcante no Cine Joia

Atração de abertura dos três shows do Linkin Park no Brasil, a cantora norte-americana Poppy lotou o Cine Joia, em São Paulo, na quinta-feira (6), com uma apresentação focada nos seus dois últimos álbuns, Negative Spaces (2024) e I Disagree (2020). Aliás, o guitarrista do Linkin Park, Alex Feder, acompanhou o show na pista da casa. O set curto, com 1h05 de duração e 15 músicas, teve momentos de destaque, principalmente com I Disagree, Concrete, They’re All Around Us e New Way Out, que fechou a apresentação. Poppy, que iniciou a carreira como youtuber e depois migrou para a área musical lançando dois álbuns com uma pegada mais pop, não foi muito comunicativa no palco. Emendou um som atrás do outro, com breves pausas para se hidratar. A falta de interação, no entanto, não incomoda nem um pouco o público, em sua maioria bem jovem, que respondeu com gritos de “Poppy, eu te amo”. Acompanhada de músicos mascarados, Poppy faz uso de pré-gravados no palco, mas não chega a ser algo tão ostensivo a ponto de transformar a experiência em algo negativo. É nítido o potencial que ela tem, provavelmente se soltará mais nas próximas turnês. Ou não. Pode ser que isso seja apenas parte de sua persona quase robótica. Combinando elementos de dark pop, metal e música eletrônica no seu som, Moriah Rose Pereira, a Poppy, tem um repertório consistente, capaz de colocar muito marmanjo para se acabar em mosh pits, como orientou em vários momentos. Para quem quiser se preparar para o show de sábado, no Morumbis, em São Paulo, quando abrirá para o Linkin Park, recomendo os dois álbuns mais presentes na fase atual: Negative Spaces e I Disagree. Mesmo fora do atual momento, o EP de estreia, Bubblebath (2016), é uma indicação legal para ver o quão diferente está Poppy. Nesse trabalho, a cantora mistura ska, punk e reggae. Enquanto o álbum de estreia, Poppy.Computer (2017), já possui uma pegada mais eletropop. Setlist Have You Had Enough? Bloodmoney V.A.N (Bad Omens) The Cost of Giving Up Anything Like Me Crystallized From Me To U (Babymetal) The Center’s Falling Out Scary Mask I Disagree Bite Your Teeth Concrete Surviving On Defiance They’re All Around Us New Way Out
Weezer rouba a cena com show curto, mas repleto de hits na estreia do Índigo, no Ibirapuera

Com exceção do King Gizzard & the Lizard Wizard, nenhuma banda de médio ou grande porte tem a produção mais ativa que o Weezer no mundo. A banda norte-americana, responsável por fechar a primeira edição do Índigo, no domingo (2), no Parque Ibirapuera, em São Paulo, lançou 15 álbuns e nove EPs em 30 anos de carreira. Aliás, quatro desses EPs apenas em 2022. Dito isso, o Weezer teria condições de fechar seu próprio festival tocando sua infinidade de hits por horas, mas eles conseguem fazer uma curadoria acertada e entregaram um pouco de tudo em 1h10 de show. Sim, provavelmente um dos menores shows de headliner da história recente de festivais no Brasil. Nada disso, porém, desanimou o público. Celebrando os 30 anos do Blue Album, o disco de estreia, River Cuomos e companhia tocaram oito das dez faixas do debute. Sem respeitar a ordem das canções, a banda intercalou seus primeiros hits com sucessos de outros trabalhos, garantindo surpresas e reações efusivas na plateia. Na pista, muita gente reclamava do som baixo ou abafado, mas nitidamente foi uma escolha da banda, com o objetivo de deixar tudo audível. E realmente conseguiram. My Name Is Jonas, do Blue Album, abriu a noite. Telão e iluminação avisaram o público quando faixas do disco de estreia seriam tocadas. A predominância azul não deixou ninguém com dúvidas nesses momentos. River Cuomos não é muito de falar, prefere aproveitar o tempo empilhando hits. Incluiu Dope Nose, Perfect Situation, Hash Pipe, Beverly Hills e Island in the Sun, só para citar alguns dos principais sucessos. Nos poucos momentos que se comunicou com os fãs, Cuomos ainda tentou arriscar o português, disparando um “bom dia”, que arrancou gargalhadas do público. Uma curiosidade da formação que veio ao Brasil estava na bateria. Josh Freese, ex-Foo Fighters e atual Nine Inch Nails, reassumiu as baquetas, enquanto o antigo dono da posição, Patrick Wilson, voltou para a guitarra. Confesso que essa mudança de última hora me deu esperança de ouvir faixas do álbum Raditude (2009), sempre esquecido pela banda nos shows. Mas seguiu sendo ignorado. Só para informação, Josh Freese gravou algumas das canções desse disco, que reúne clássicos como (If You’re Wondering If I Want You To) I Want You To, I’m Your Daddy e Put Me Back Together. A curta duração do show, que teve apenas uma canção no bis, Buddy Holly, não frustrou o público, mas deixou um gostinho de quero mais. Se o Weezer batesse cartão anualmente por aqui, o público entenderia que o próximo show seria bem diferente. Mas a realidade é outra. Vamos ver se muda, apoio do público não faltou. Setlist BLOC PARTY Dezessete anos se passaram desde a fatídica última vez do Bloc Party no Brasil. Em 2008, o grupo havia deixado uma péssima imagem depois de uma apresentação desastrosa no VMB, com direito a playback descarado. Pouco mais de um mês depois desse episódio, ainda retornou para o Planeta Terra, mas ainda enfrentava reflexos da resistência pós pataquada no evento da MTV Brasil. Agora, o cenário é completamente diferente. O vocalista Kele Okereke, um dos poucos frontmen negros do rock alternativo assumidamente gay, está em ótima fase, super empenhado em entregar o seu melhor e cantando bem (sem playback). Focou o repertório no excelente Silent Alarm (2005), álbum de estreia do Bloc Party, enfileirando hit atrás de hit. Aproveitando o fato de estar com o público na mão, dançando e cantando os maiores sucessos, Kele ainda incluiu Traps, faixa do álbum mais recente da banda, Alpha Games (2022). MOGWAI Veterana do post-rock, a banda escocesa Mogwai usou seu álbum mais recente, The Bad Fire (2025), como base para o show no Índigo. A apresentação foi morna, mas deixou o público completamente vidrado no palco. O guitarrista e vocalista, Stuart Braithwaite, e o guitarrista e pianista, Barry Burns, comandaram as ações no palco. Apesar do set ser quase todo instrumental, como boa parte da discografia da banda, Stuart incluiu alguns sons com vocais. Com uma bandeira da Palestina fixada em um dos amplis, atrás de Stuart, o Mogwai tocou por quase 50 minutos e foi a banda que mais concentrou público na frente do palco até o fim da tarde no Índigo. JUDELINE Um peixe fora d’água. Dessa forma podemos resumir a apresentação de Judeline no Índigo. A cantora e compositora espanhola, de 22 anos, casaria perfeitamente com o lineup do Primavera Sound, mas ficou um pouco deslocada entre as atrações da primeira edição do Índigo. Com uma sonoridade pop misturada com influências de flamenco e sons árabes, Judeline contou com a participação de um bailarino durante todo o show. Aliás, o dançarino estava em uma sintonia, Judeline em outra. Um dos momentos mais interessantes da apresentação foi no dueto com a mineira MC Morena em Tú Et Moi, que conta com um batidão de funk carioca. Antes de convidar a brasileira para o palco, Judeline falou com muito carinho sobre a MPB, destacando Gal Costa e Caetano Veloso como influências. OTOBOKE BEAVER O Otoboke Beaver foi a mais grata surpresa da temporada. O grupo japonês tem uma energia incrível no palco e conquistou o público rapidamente com o seu punk fofo e cheio de mensagens importantes. Natural de Kyoto, o Otoboke já havia feito um show de alto nível no Cine Joia, dois dias antes, arrancando elogios do público, imprensa e artistas. Vale destacar que elas já foram elogiadas publicamente por Jack White, Dave Grohl, Eddie Vedder e Slash. Super Champon (2022), álbum mais recente do quarteto, foi a base do show, que teve presenças destacadas da vocalista Accorinrin e da guitarrista Yoyoyoshie, ambas conversando com bastante frequência com o público. Em um dos momentos, pediram ajuda dos fãs para aprender a falar “tarado” em português, mas não tiveram sucesso na tentativa. Com vestidos floridos e caprichando nas caras e bocas, as integrantes mostraram que o rock japonês está muito bem representado. Vamos torcer por mais visitas por aqui. Foi a banda que mais levou fãs para a
Com Dan Reynolds inspirado, Imagine Dragons entrega show grandioso no Morumbis

Onde está o Dan? Essa, provavelmente, foi a pergunta mais feita entre os fãs do Imagine Dragons, na pista premium, na sexta-feira (31), no Morumbis, em São Paulo. No primeiro dos dois shows da banda norte-americana na Capital, o vocalista Dan Reynolds não parou um minuto sequer, soube aproveitar bem a extensa passarela que o levava até o meio do público e muitas vezes desceu para receber mais afagos da plateia. Depois de rodar América do Norte, Ásia e Europa, com uma breve passagem pelo Rock in Rio 2024, a Loom World Tour, enfim, chegou a São Paulo. O repertório robusto de hits dá muita força para a apresentação, que ainda proporciona chuva de papel picado, gelo seco e fogos de artifícios do início ao fim. Dan Reynolds é o grande protagonista. Muitas vezes esquece a banda no palco e passa a maior parte do tempo sozinho reinando na passarela. Aliás, por entrar sem camisa logo na primeira música e permanecer dessa forma até o fim do show, arranca gritos e suspiros a cada segundo. Nas poucas vezes que foi ao palco, Dan Reynolds mostrou suas habilidades. Fez um duelo de bateria com Andrew Tolman em Radioactive, além de ter tocado o tambor na parte inicial, como no videoclipe. Ainda teve espaço para uma performance no piano no hit Demons. Em um dos sumiços de Dan Reynolds, em On Top of The World, o vocalista surgiu no meio da pista premium garantindo o momento de maior proximidade com os fãs. É legal notar a alegria do artista com o público brasileiro. É notório que muitas bandas fazem média com o público, mas Dan Reynolds realmente demonstra uma felicidade descomunal com a plateia daqui. E reforça isso nos discursos. “Obrigado por sempre fazerem com que aqui fosse uma casa para nós. Eu amo o Brasil, estamos fazendo isso há 15 anos e crescemos junto com vocês”. Na reta final, totalmente satisfeito com a sinergia com o público do Morumbis, Dan Reynolds revelou que a Loom World Tour está próxima do fim. “Esses são os últimos shows da turnê Loom, que durou quase dois anos passando ao redor do mundo todo. Meu coração está completo. Nunca pensei em ter a oportunidade de viver isso tudo, mas sou imensamente grato. Obrigado por estarem aqui com a gente e por estarem com o Imagine Dragons durante todos esses anos”, disse. Com quase 1h50 de apresentação, o Imagine Dragons mostrou que continua fazendo show de qualidade e grandioso para fãs e públicos novos, tal como tem feito desde 2014, quando estreou no Brasil em uma edição do Lollapalooza. Hoje (1), a partir das 21h, novamente no Morumbis, tem mais uma oportunidade de ver a banda. Setlist Set 1Fire in These HillsThunderBonesTake Me to the BeachShots (Broiler remix)Whatever It Takes AcousticNext to MeIt’s TimeAmsterdamFollow You (Snippet)I Bet My Life Set 2Bad LiarOn Top of the WorldWake UpRadioactiveDemonsNaturalWalking the WireSharksEnemyEyes ClosedBirdsBeliever
Entrevista | The Lemonheads – “Parei com a heroína, e minha cabeça se abriu”

Quase duas décadas após o último trabalho de estúdio, Evan Dando ressurge com o The Lemonheads em Love Chant, um álbum que marca não apenas o retorno de uma das vozes mais singulares do indie rock dos anos 1990, mas também uma nova fase pessoal e criativa do músico. Gravado majoritariamente no Brasil, o disco reflete a imersão de Dando na cena local e a parceria com o produtor Apollo Nove, nome conhecido por seu trabalho com artistas como Nação Zumbi e Otto. Morando em São Paulo e casado com uma brasileira, Dando parece ter encontrado um novo ponto de equilíbrio entre a leveza e a introspecção que sempre caracterizaram suas composições no Lemonheads. Em Love Chant, há espaço tanto para o lirismo nostálgico quanto para uma energia renovada, resultando em um som que flutua entre o passado e o presente, sem perder a essência do The Lemonheads. O álbum ainda reúne velhos companheiros de estrada, como J Mascis, Juliana Hatfield e Tom Morgan, em participações que reforçam o vínculo afetivo e musical que Dando construiu ao longo das décadas. Entre histórias curiosas de estúdio e reflexões sobre sobriedade e recomeços, o cantor mostra que está mais conectado do que nunca com sua arte. Além do novo disco, Dando prepara também o lançamento de sua autobiografia, Rumours of My Demise, que será acompanhada por um audiolivro gravado em São Paulo. E os fãs brasileiros do Lemonheads podem comemorar: o músico garante que há planos de levar o Love Chant aos palcos do país em breve. Confira abaixo a entrevista que Dando concedeu ao Blog n’ Roll, via Zoom, após a conclusão das gravações de Love Chant. O álbum foi gravado majoritariamente no Brasil. Como essa mudança de cenário influenciou o processo criativo e sonoro do disco? Diria que o estúdio é incrível. Ele foi construído pelo Roy Cicala, que trabalhou como engenheiro de som nos discos do John Lennon. Roy esteve envolvido em tudo. Temos muito equipamento aqui, o compressor de voz usado em Imagine, do Lennon, está lá embaixo. Temos umas paradas malucas. Ele faleceu em 2014, e agora o Apollo cuida do estúdio. Estamos reativando tudo. Conheci o Apollo do outro lado da rua, meio sem querer. Ele disse: “você tem que conhecer esse cara”. A gente estava no lançamento do filme do tio da minha esposa, que foi empresário da Elis Regina e do Tom Jobim. A faixa In the Margin tem uma composição conjunta com Marciana Jones e riffs por toda parte. Pode falar mais sobre essa parceria e o conceito da música? In the Margin é sobre o que quer que aconteça. É bem adolescente, tipo Edgar Allan Poe, muito romântica. Algo como: “vou sair dessa merda, vou lembrar de você um pouco, mas agora sou eu por mim mesmo”. É uma música jovem, rebelde, algo do tipo “não dou a mínima”. Prefiro morrer a deixar seus pensamentos me limitarem. É uma declaração. Você contou com vários colaboradores de longa data, como J Mascis, Juliana Hatfield e Tom Morgan. Como foi reunir esse “time” depois de tanto tempo? É tudo gente que conheço há muito tempo, então por que não? Se você conhece e está fazendo um disco… Sempre vejo o J e a Juliana. Ela fez turnê com a gente no ano passado. Falo com o J o tempo todo, fui eu quem apresentei a esposa dele para ele. Somos grandes amigos. J não faz alarde. Ele diz: “beleza, faço uma música”. E nem cobrou. Da última vez, eu disse: “J, faz um solo por US$ 4 mil?” E ele mandou quatro solos. Provavelmente estava com dois amigos e falou: “assiste isso, vou ganhar mil dólares tocando uns solos aqui”. (risos) A produção é assinada por Apollo Nove, um nome conhecido da música brasileira. Como foi trabalhar com ele e o que ele trouxe de especial para o disco? Começamos a fazer demos há um ano. Eu tocava bateria, fazia tudo. E já lançamos um single logo de cara, Fear of Living. A gente pensou: “é isso, é aqui que quero estar. Essa é minha vida”. Ele é ótimo. Cobra de você, mas do jeito certo: “Evan, dá pra fazer melhor”. Sempre precisei de alguém assim. Agora nós nos conhecemos bem. Ele me lembra um grupo de amigos que tenho, fãs do Velvet Underground, gente que realmente conhece música. Ele ama Brian Jones, dos Rolling Stones. Brian tocava as partes que ninguém ouvia. É isso. Está lá, mas escondido. O disco soa ao mesmo tempo nostálgico e atual. Como você equilibrou os elementos clássicos dos Lemonheads com novas influências e experiências de vida? Foi como um experimento científico. Mas, na real, só fui lá e fiz com o coração. Parei com a heroína, e minha cabeça se abriu. Agora meu coração e minha mente conversam. Só faço do jeito que consigo, aprendi a relaxar, e fazer música é sobre relaxar. Muitos artistas da nova geração, como Courtney Barnett e Waxahatchee, citam o The Lemonheads como influência. Como você vê essa repercussão entre novos músicos? A gente sempre quis ser esse tipo de banda, como The Replacements ou Ramones. Acho que consigo fazer isso, parece divertido. Somos esse tipo de banda. O lançamento do álbum será seguido por sua autobiografia, Rumours of My Demise. Existe um diálogo entre o disco e o livro? A conexão é que ambos têm a ver comigo. Lançamos os dois juntos como parte da campanha: “olha lá, o cara tem dois lançamentos”. Não é uma ligação temática, mas de momento. A gente correu pra lançar um junto com o outro. É uma campanha para voltar a ser bem-sucedido. Se já aconteceu uma vez, pode acontecer de novo. Aliás, estou aqui no estúdio porque vou gravar o audiolivro. Começa assim: “Deixei minha carteira nos arbustos da Walgreens”. Você pretende fazer shows de divulgação do Love Chant, inclusive no Brasil? O que os fãs podem esperar dessa nova fase ao vivo? Mais do mesmo, só que melhor. Agora tenho uma mulher