Diga: O silêncio dito e o grito calado, uma análise em três atos da trilogia da Fresno

Entre versos sussurrados e guitarras que cortam o silêncio, a Fresno construiu uma trajetória marcada pelo peso do tempo e pela arte de transformar sentimentos em som. Surgida em Porto Alegre no final dos anos 90, a banda – formada por Lucas Silveira, Vavo Mantovani e Thiago Guerra – atravessou gerações explorando a melancolia, o caos e a resiliência emocional em letras que funcionam como confissões abertas. Na trilogia Diga – Parte 1, Parte 2 e Parte Final –, lançada no álbum Eu nunca fui embora (2024), a Fresno leva essa narrativa a um novo patamar. O que poderia ser apenas um relato sobre o fim de um relacionamento se desdobra em três atos carregados de luto, aceitação e reconstrução. Uma história que não se encerra em palavras, mas se estende e ocupa o espaço entre o que se diz e o que se cala. A produção instrumental da trilogia é uma narrativa por si só, em que dedilhados suaves ao piano tecem o lamento inicial, enquanto explosões de guitarras distorcidas irrompem como gritos de revolta e desespero. Essa variação sonora é mais do que um pano de fundo: é o reflexo visceral dos altos e baixos emocionais do eu-lírico, um espelho das paisagens internas que ele atravessa. As participações pontuais surgem como vozes externas, ora como apoio, ora como confronto, intensificando o peso narrativo de cada instante. Cada capítulo dessa saga musical é como um fragmento de um espelho estilhaçado, onde as peças se encaixam apenas para mostrar uma visão incompleta, mas profundamente verdadeira, da dor e do luto. É aqui que o trabalho de escuta, tal como delineado por Cristian Dunker em O Palhaço e o Psicanalista, assume o protagonismo: escutar não é apenas um ato voltado ao outro, mas uma tarefa árdua de voltar-se para si, para o que ecoa nas cavernas mais profundas da alma. Essa escuta interna, que fere e transforma, guia o ouvinte por uma jornada intensa, onde súplicas, revoltas e aceitação coexistem como camadas de uma mesma experiência emocional. Tudo isso pulsa em consonância com as teorias freudianas sobre o luto, revelando que elaborar um trauma é um ato tanto de dor quanto de criação. Considerando que o imperativo Diga nomeia todas as partes da trilogia, será que esse que ordena banca esse lugar da escuta? Será que existem ferramentas para elaboração do que será dito? A escuta e a subjetividade: ecos de Dunker e Freud Em O Palhaço e o Psicanalista, Christian Dunker nos convida a perceber a escuta como algo que ultrapassa o simples ato de ouvir, pois implica ser atravessado pelo outro e permitir que palavras e silêncios reverberem na própria subjetividade. Seguindo essa lógica, a trilogia Diga, da Fresno, não apenas explora essa dimensão da escuta, mas também a ressignifica ao transformá-la em uma experiência musical que exige atenção plena e imersão emocional. Se a psicanálise selvagem desafia os limites da escuta analítica, poderíamos considerar essa uma forma de escuta selvagem, na qual som e significado se entrelaçam de maneira visceral? Aqui, escutar não se resume a acolher o outro, mas também exige um confronto direto com as próprias camadas, que se revelam fragmentadas, contraditórias e, por vezes, dolorosas. Freud, em Luto e Melancolia, argumenta que o luto não se encerra na mera aceitação da perda, pois demanda um trabalho ativo de desapego, no qual as pulsões, antes concentradas no objeto perdido, precisam ser deslocadas para que o sujeito possa reconstruir-se. Da mesma forma, Dunker, ao ampliar essa perspectiva, aponta que o luto também é atravessado pela escuta das vozes internas — aquelas que carregam as dores indizíveis e as verdades mais difíceis de encarar. Diga propõe uma jornada que oscila entre a dor da ausência e a necessidade de reorganizar os próprios afetos, criando, assim, um espaço onde a escuta se torna tão essencial quanto a própria enunciação. Em Diga Parte 1, essa escuta aparece como um apelo dilacerante, um grito contido que oscila entre súplica e resignação. O eu-lírico ainda está preso ao sonho, ao desejo de reconexão. Esse momento é marcado pela melancolia que Freud descreve como a fase inicial do luto: a negação da perda e a tentativa de preservar o objeto ausente no campo das memórias. Os dedilhados suaves e o piano que chora ao fundo intensificam a sensação de vazio, enquanto a voz fragilizada de Lucas ecoa como um lamento que encontra alento apenas no onírico. Diga Parte 2 já é outro cenário. A melancolia dá lugar à raiva, e o eu-lírico, que antes pedia, agora confronta. As memórias, que outrora traziam um certo consolo, tornam-se espinhos. É a fase da revolta, em que o objeto perdido não é mais idealizado, mas encarado com rancor. A música acompanha essa mudança com guitarras distorcidas e vocais incisivos, criando uma atmosfera de confronto e desgaste. Dunker diria que é aqui que a escuta se torna mais turbulenta, pois ouvir a si mesmo nesse momento é como olhar um espelho rachado — nada parece inteiro, tudo provoca. Já Diga Parte Final apresenta um ponto de ruptura definitivo. A voz feminina que surge é incisiva, cortante, quase um julgamento. Não há mais espaço para pedidos ou reconciliações. A negação, que antes era do luto, agora é do retorno. A voz feminina, ao dizer “você não vai mudar”, é o eco de um eu-lírico que finalmente se despede — não com a paz serena que se espera da aceitação, mas com o grito de uma liberdade que se conquista com dor. Aqui, Freud e Dunker se encontram: o que não é dito, o silêncio carregado, fala mais alto que qualquer palavra. A trilogia Diga não apenas narra um término; ela vive o luto. Cada etapa, cada acorde, cada pausa, reflete as nuances de um processo que é tão universal quanto íntimo. A escuta, como sugere Dunker, é o fio condutor: escutar o outro, escutar as memórias, escutar os silêncios. É um trabalho que dilacera, mas que também transforma. E assim, como em Freud, a dor da perda

Vinih Amorim solta o single mais comercial do novo álbum

Foi em meados de 2018, num ensaio fotográfico feito pela Jéssica Valente para o CAOZ, que conheci a Vinih Amorim. Eu e ela fomos convidadas para ter uma faixa no álbum do CAOZ, uma grande honra poder trabalhar com artistas desse peso! De lá pra cá, eu conheci novos caminhos para a minha poesia e fui acompanhando aos poucos o processo da Vinih como drag. Suas primeiras maquiagens, primeiras perucas… De certa forma as redes sociais fazem a gente se sentir parte de algo, que bom! Hoje, é com imensa felicidade que vamos falar um pouquinho dos novos trabalhos da Vinih. Vinih Amorim sobre o single “Boy é o primeiro single do meu primeiro álbum de estúdio. Eu já tinha lançado duas faixas promocionais do álbum (Tô um nojo e Sou trava mas não travo) pras pessoas irem conhecendo um pouco mais do meu trampo, porém Boy é o 1° single oficial do álbum”. Ele aparentemente fala sobre uma decepção amorosa, sobre como as pessoas enxergarem as outras como objetos descartaveis e deixarem elas na mão facilmente. Mas além disso, como nós somos autossuficientes e que no final de tudo nós somos nosso próprio abrigo. Na verdade, a única a pessoa que não nos deixa na mão somos nós mesmos. Escolhi como primeiro single pois sonoramente ela é a mais comercial do álbum, a mais “clean” e a que vai transitar e conversar facilmente com todos os públicos! O lançamento desse clipe é a realização de um sonho que eu tenho desde muito pequeno, e trabalhar nesse projeto durante 1 ano e ver ele criar forma e sair do papel não tem preço!” Aaaaah! É importante lembrar que idealizamos o clipe e já partimos para as gravações. Sem ensaio, sem esboço só com a cara e a coragem. Estreou em 27/08/2020Prod: Pedro DornellesDiretor: Vinih Amorim/Pedro DornellesAtor: Miguel SantosFigurinos e maquiagem: Vinih AmorimProd musical : Grape TvComposição: Vinih AmorimLocação: Grape Tv Redes Sociais@amorimvinih@dornellesofficial@grape.oficial_producoes

Entrevista | MC Carol – “Ser mulher é ter que se impor diariamente por coisas básicas”

Recentemente, eu e o Prof. Dr. Sergio Bento realizamos uma entrevista com Mc Carol ou Carol Bandida como ela mesma cita na entrevista para evocar sua força. Tocamos em vários pontos desde feminicidio até a posição dela quanto ao (des) governo Bolsonaro. Se liga aqui no Blog n’ Roll que tem muita coisa rolando ao mesmo tempo! Falando nisso, você assistiu minhas entrevistas no @blognroll? Não? Está imperdível! Tem Garage Fuzz, O Teatro Mágico, The Mönic, Afrodizia e muuuuito mais. Todas essas foram ações por conta do projeto Juntos pela Vila Gilda. Entrevista – MC Carol Por que o funk representa tão bem a voz da periferia carioca? E como você analisa o funk atual em outros estados? É que o funk é a periferia. O funk, o rap, o samba. Surgiram da gente. Mas agora um momento bem estranho. O funk continua marginal, continua perseguido, mas a favela tá chegando em todo mundo. Não podem mais fechar os olhos pro funk. Só espero que as pessoas não fechem os olhos para a perseguição e usem o funk só quando for conveniente, sabe? “Não foi Cabral” vem sendo usada por vários professores de história em suas aulas. Você acredita que a “História Oficial” que você crítica na canção está finalmente sendo desacreditada? Eu não sei se desacreditada. Mas assim como não podem fechar os olhos pro funk, não podem esconder a verdade. Sempre fico feliz quando ouço que usam minha música na escola. Fico imaginando que meus professores devem pensar disso! (Risos). Como você, mulher, funkeira e feminista, responde a quem acusa o funk de ser machista e objetificar o corpo feminino? Eu falo pra ele prestar atenção nos pagodes, nos rocks, nos sertanejos. Não é o funk que é machista. O mundo que é e precisamos mexer com isso. Não só na mensagem, mas na postura das pessoas. Ser mulher é ter que se impor diariamente por coisas básicas. Mas eu já sou assim desde criança, Carol Bandida. (Risos) Então acho que imponho meu respeito na marra, nem que seja na porrada. E olha que já entrei na porrada. Como você avalia o governo Bolsonaro para a população negra? Olha, nem sei por onde começar. Sabe o que eu disse que ser mulher é ter que se impor por coisas básicas? A gente tá precisando se impor pro coisas básicas, para viver, para ter dignidade. Como mulher, negra e de comunidade, é cansativo… Em tempos de pandemia, como você e sua equipe fazem para sobreviver da arte? A gente sofre! (Risos) Estamos tentando fazer coisas que não envolvam o show, pensar novos lançamentos, ver outras coisas fora da música. Infelizmente tem muita gente que trabalha nesse meio, que vive do show, que tá em dificuldade. Suas letras sempre falam de uma mulher forte, com muita altivez. Você já sofreu relacionamentos abusivos? Se sim, qual conselho você daria às mulheres? Eu já sofri até uma tentativa de feminicidio. O principal é não se calem. Tudo e todos tentam nos calar, não se cale. Meu avô sempre me criou pra eu não abaixar a cabeça pra ninguém e sempre quis ser independente, achava que eu devia ter os mesmos direitos dos meninos que eu andava desde pequena. Queria ser respeitada! Seja na educação ou na base do barraco! (Risos)

Poesia segue em constante movimento na Baixada Santista

A poesia movimenta-se, a poesia vira esquinas, a poesia vaga pelas úmidas ruas da Baixada Santista e tropeça aqui, no Blog n’ roll! A poesia urgente, extrema, crítica e catártica tem nome, tem altura, tem gosto… e a proposta é permitir senti-la através de dedos e almas dos poetas e poetisas que eu trouxe hoje. Ah, e tem eu também, né? As vezes arrisco uma coisinha ou outra haha. Se liga: Um jeito insosso de não ser de carne e osso,É ir sendo expropriada de mim,Dizendo simA Deus, ao capitalE a sociedade patriarcal.Mas é quando minha lua vem,Que sou revelada nua.E crua, sangro.Me habito devagar,Vou me sabendo lar.Vou sendo tempo que capital nenhum ousa controlar.O útero tem o tamanho de um punho e exala vermelho.Um útero é algo tão essencialmente subversivo,Que para muitos, os buracos e sua autonomia são repulsivos. Maya Bárbara Zarif tem 23 anos, é pisciana de quatro planetas, nascida e criada em Santos. É poeta e redatora. Lançou seu primeiro livro de poesia ano passado (2019), pela editora Multifoco, se chama “Entre caos, linhas e devaneios”. Além disso, tem um projeto de fomento a arte independente feita por mulheres, com foco em literatura, chamado Declama, mulher!. Os dois primeiros poemas (A saúde é pública, o corpo não e Se flor não for que seja amor) são de seu livro. Eles foram escritos em meados de 2016 e apesar do tempo, a temática permanece, com certa infelicidade, atual. Na verdade, bem atual. O poema Muito, muto tumulto, foi escrito este ano nesse cenário pandêmico que estamos vivendo. Para adquirir o livro é só comprar direto com @barbarazarif no Instagram, ela dá autógrafo, troca ideia e às vezes (mais do que gostaria) passa vergonha em rede pública. Para participar dos workshops e das zines coletivas do @declamamulher, é só acompanhar nas redes sociais. A saúde é pública, o corpo não O fuzil silencioso pela madrugada fez seu caminho,Achava você que ele estava perdido?Tola menina!Pois o fuzil com a guerra que pariu,Levantou a bandeira da vitória antes de cerrarmos os punhos,De cerrarmos os dentes,E de sermos inseridas em uma realidade menos morta.De morta,Temos Maria,Que em uma clínica clandestina,Carregou consigo o fardo apertado de não ter escolhaE o cabide fora de sua função,Fez de Maria ferida sem cicatrização.O cabide fora de sua função,Pendurou a alma da não mais imaculada,Maria desgraçada.O fuzil silenciosoMexe constantemente com a saúde publica,Mas o que mais incomoda é que Maria foi clandestina,Maria foi irresponsável,Maria deveria arcar com a consequência de ter escolhido…Não ter escolha?De ter aberto as pernas!Maria embarcou na arca de um mar arcaico,E pela logica patriarcal deve sempre ficar à margemE ser subordinada a não ter nada,Nem vida,Nem autonomia.Essa discussão é procrastinadaEnquanto Marias passam,Diariamente,De Imaculadas àFinadas. Barbara Zarif Se flor não for, que seja amor Eles falavam que era amor,Mas não era cravo com rosa.Eles falavam que eram um casal,Mas na real,Não podiam serPorque havia um escritoMostrando que cravo com cravo era proibido.O amor que naquela terra semeavaFoi invalidado,Oprimido e ignorado.A juventude fez as ruas mais floridasOnde os cravos desfilamSem precisarem das margaridas.A juventude se juntouE mostrou-se capaz de transformar em borboletasQualquer casulo cinzento,E embora as flores não falem,Eu posso escutarAs rosas,Os cravosE os hibiscosPedindo para se amarem sem riscos. Barbara Zarif Muito muto tumulto Se pudesse colocar o mundo no muto,Não ouviria o choro do menino,Não ouviria o latido agudo do cãoSe eu pudesse colocar o mundo no muto,Tropeçaria naquilo que não vejo, mas espontaneamente escuto.Se o mundo estivesse no muto,Não escutaria o som do mar Nem o cambalear barulhento e ébrio dos que viram noites e noites.Se o mundo estivesse no muto,Eu inundaria salas e quartos com tentativas em vão de gritar, com tentativas em vão de tumulto.Eu bateria forte em portas com tentativas em vão de entrar.Se o mundo, efetivamente, pudesse estar muto,Não ouviríamos panelas caindo, batendo, coros clamando justiça, balas sendo perdidas e achadas em corpos alvos.Não ouviríamos discursos quePestes ecoam sem vergonha alguma.Não ouviríamos inverdades.Tampouco as verdades.E de verdade,Se eu pudesse deixar o mundo em muto, eu deixaria por uma noite.Eu deixaria por uma noite para ouvir, então, meu mundo.Eu deixaria por uma noite para entrar em devaneios mentais e tumultos que por descuido estão no muto. Faz tempo que não me escuto.“Cala-te” gritei ao pensamento efêmero de quem faz poesia.“Está tarde, vá dormir, amanhã há de ser outro dia.”E foi mesmo, outro dia barulhento.Fiteime com olhar de compaixão, segurei minha própria mão e soltei um “lamento, tu abriste teus olhos, por isso vê escuridão.Volte a dormir em silêncio, está tarde, não vá fazer alarde.”Lembrei, então, que o mundo tá constantemente noMutoLutoSurtoLembrei, então, que o mundo está constantemente emTumulto.Ah suspiro foi bom esquecer disso por um minuto. Barbara Zarif Salamandra é multiartista, slammer, Taróloga e Sarcedotiza, poeta, escritora em tempo integral e adora estudar a arte do misticismo e possui uma longa história dentro do mundo das palavras.Nascida e atualmente morando em Santos, além de trabalhar com a Tarologia, fez faculdade de Letras onde se apaixonou pelo mundo e pelo diálogo. Batalhando em slams de poesias desde os 13 anos de idade, já recebeu prêmios de competições poéticas estaduais. Na faculdade, promoveu batalhas de poesia, rodas de conversa com os alunos de redes públicas e encontros acadêmicos no campus Do Idílio José da UNISANTOS. atuando em projetos governamentais como o PIBID, e o Leia – São Vicente. A intuitividade a acompanha desde nascida, com fortes paixonites à bruxaria e esoterismo. Em uma repentina tempestade de ideias, surgiu a personificação da síntese de arte e energia, expressando-se de forma mútua nas performances, apresentações e participações artísticas. Sua expansão se deu em sua primeira participação no Festival ELA (FACULT) em Santos. Manifestando-se em todos os 3 dias de evento, Salamandra traz ao público feminino expressões artísticas e atividades dinâmicas que envolvem a retomada da mulher à sua consciência energética com as pinturas corporais. Apresentou também, a performance “Viver de Arte” onde aborda críticas à falta de remuneração do ofício artístico para os trabalhadores da cultura. Atualmente faz parte do projeto Sarau

Joga PPK na Mesa: festa ganha versão neste sábado

Saudade de rebolar a raba né, minha filha? Passa vontade não bebê, hoje eu vim com uma SUPER dica para o seu final de semana e o melhor, sem furar a quarentena. Dia 11/07 vai ter a famigerada Joga PPK na mesa, e além de muita diversão a festa promete ajudar artistas periféricas e mulheres mães a resistirem aos impactos econômicos gerados pelo coronavírus. Eu conversei com a Fefê e a Nanny (idealizadoras do Joga ppk) e elas soltaram que o line up está imperdível e também contaram de projetos futuros dessa festa que virou coletivo! Se liga na entrevista Quais são os impactos que a Covid-19 e suas restrições causaram a produção cultural? Basicamente nossa profissão não existe mais, a produção cultural na maioria dos segmentos e principalmente no setor de eventos parte da aglomeração. Com isolamento social é difícil continuar produzindo, estamos tentando nos reinventar pelas lives. Mas ainda não é a mesma coisa. Como a produção cultural e artistas resistem economicamente no cenário atual? Estamos tentando fazer arrecadações pelas redes sociais, tentando gerar alguma renda para quem trabalha com a gente, mas ainda sim é muito simbólico. O público também perdeu o emprego, parte dos brasileiros periféricos (nosso público) vivem de bico né. Estamos estudando leis de incentivo fiscal para conseguir seguir com o projeto até vir a vacina, e estamos buscando também, patrocínio de grandes empresas. O que é o Joga ‘ppk na mesa’? É um espaço feito de mulheres para mulheres em sua pluralidade. O Joga ppk nasce com duas produtoras: Fefe e Nany que sempre sentiram o ambiente das festas um espaço muito machista, onde nós tínhamos que gritar e surtar para sermos ouvidas. Eu, (Fefê) tinha vontade de fazer esse evento e fui buscar a Nany que já movimentava o projeto ELA. Conversando, começamos a construir a identidade da festa. A princípio era um espaço onde só mulheres tocariam. Começou a crescer e então vieram as expositoras, e hoje somos um movimento que junta várias mulheres de vários segmentos artísticos da baixada santista. Como surgiu essa iniciativa? Como o nome que denomina a festa surgiu? Surgiu dessa carência de espaços para nós mostrarmos nossa arte e da revolta de não poder ir num baile para dançar toda arregaçada sem ter que lidar com o “macho astral”. O termo “JOGA PPK NA MESA” surgiu a fim de desmistificar uma expressão popular brasileira, o famoso “botar o pau na mesa”, sabe? Segundo o dicionário informal, essa expressão significa: Botar o pau na mesaSe impor, se colocar diante de uma situação, mostrar quem manda. Botar o pau na mesaSe impor com demonstração de força, mostrando o pau (de bater).Essa expressão surgiu no período colonial escravocrata, e já que a nossa festa é feita por mulheres e principalmente mulheres negras, o nome Joga ppk na mesa, vem no sentido de mudar o rumo da história. Se botar o pau na mesa significa ter coragem, ter bolas, afrontar, não se acovardar, falar mesmo sem medo, jogar a ppk na mesa significa tudo isso e MUITO mais. Dia 11 de julho haverá uma festa virtual, certo? Como vai ser isso? Qual plataforma? Como funciona a entrada e o pagamento? Para quem esse dinheiro será direcionado? Quais artistas estarão lá? O joga ppk é só uma festa? Sim, dia 11 faremos nossa primeira experiência com uma festa virtual. Vamos usar a plataforma zoom, estamos trabalhando com o esquema pague quanto puder, contribuições a partir de R$5 reais e os ingressos podem ser comprados pelo sympla neste link E quem quiser doar +20 reais e quiser fugir da taxa do sympla, estamos emitindo boletos. As contribuições serão direcionadas a parte do nosso staff, fizemos uma seleção de quem está mais vulnerável e a cada mês faremos uma edição beneficiando novas pessoas. Nessa edição no line teremos Nanne Bonny, Letícia Colares, sal Esaú e Laís Calazans. A joga nasceu com a ideia de ser uma festa, mas é tanto machismo nessa cidade que não tivemos opção a não ser nos tornaramos um movimento. Temos vontade de começar a dar oficinas de mixagem, produção de eventos, montagem de sistema de som e fazer uma creche de noite paras mães também poderem curtir a festa ou expor seus trabalhos. A pandemia adiou nosso planos mas eles ainda estão aqui, vamos revolucionar a cidade. E aí, curtiu essa iniciativa? Caso sua empresa tenha interesse em apoiar economicamente essa ideia Se liga nos links: Facebook e Instagram.

Noite Cinza, Gabitopia, Luna e Kryartura: Confira alguns lançamentos de artistas da Baixada Santista

Essa semana, resolvi trazer alguns dos lançamentos imperdíveis que estão rolando aqui na baixada santista. Em época de pandemia mundial, os artistas, produtores e toda a galera do meio cultural usam a criatividade para sobreviverem . Vamos conferir as alternativas que a banda Noite Cinza, as artistas Gabitopia, Luna e Kryartura encontraram. Noite Cinza Equinox é uma versão reimaginada da música equinócio do primeiro EP da banda noite cinza. A banda sempre ansiou reimaginar uma música própria pois, apesar de terem muita influência do rock alternativo e post rock, as integrantes possuem influências músicas variadas como a guitarrista Amanda que curte bastante lo fi, eletrônica e a vocalista Isis, que caminha pelo pop. Assim, reimaginar Equinócio foi um meio de transparecer a identidade dos membros fora da caixinha do rock e mais do que isso, uma saída para lançar algo inédito em tempos de isolamento social uma vez que não possuíam as condições normais como bateria acústica e estúdio para lançamento de um novo EP por exemplo. Isis ( Vocalista e guitarrista) conta que o clipe foi gravado totalmente na improvisação, com cada integrante em sua casa. Dá pra acreditar que elas utilizaram seus celulares pessoais (Iphone 6s e iphone 7), soft box (papelão e papel alumínio) e uma lâmpada do banheiro? Equinócio Propositalmente, a música Equinócio foi escolhida para ser reimaginada uma vez que a composição trata dos efeitos que o isolamento social traz: noites iguais e questionamentos até mesmo de cunho filosófico como no trecho a seguir: Pra onde iria se pudesse ir?(Noites iguais)O que diria se tivesse voz?(Uma vida pra pulsar)O que seria se pudesse ser?(Tudo se vai)Logo vem o anoitecer(O vento levará) (…)” As composições da banda vagam pelo campo abstrato e andam de mãos dadas com a metáfora uma vez que o Equinócio é um fenômeno astronômico que marca o início da primavera e do outono, especificamente durante apenas dois dias no ano o dia e a noite terão quase a mesma duração: 12 horas. O nome equinócio, do latim significa noite iguais, o que marca o refrão da música. Paralelamente, a banda possui uma música chamada Solstício que as integrantes classificam como um som mais pesado assim como o fenômeno natural, e seguindo essa mesma lógica, a música Equinox traz a pegada branda dos Equinócios. Algo que não pude deixar de reparar foi essa ficha técnica lindíssima: Música: Produção: Noite CinzaMixagem e Masterização: Lucas Souza (@lucasviniciuz)Imagens: Captação: Victor (Irmão da Amanda) e Agostinho (Pai da Isis)Direção de Arte: Amanda Ferreira e Isis TomazEdição e Finalização: Isis Tomaz Gabitopia e Luna Em meados de 2017, quando comecei minhas estadias entre a Universidade Federal de Uberlândia e a baixada santista conheci através do Prof.Dr. Sergio Bento a polifonia da poesia marginal, e nessas minhas idas e vindas tive o imenso prazer de conhecer a batalha do CAOZ, o que pessoalmente foi um marco em minha vida. A batalha do CAOZ, foi uma batalha para mulheres, mulheres mães e pessoas LGBTQIA+, era um lugar seguro, como uma escola de rimas e que entre incentivos e momentos catárticos saiam produções incríveis. O CAOZ era um grupo que, embora atualmente a maioria dos MC’s tenham seguido carreira solo, por vezes nós somos presenteados com feats como “Conselho” que é um trabalho da Gabitopia e da Luna. Vejo fortemente que Conselho trata não desse empoderamento que o capital prega, mas sim um empoderamento de classe, o reconhecimento de ser pertencente de uma classe de artistas que se fortalecem, um reconhecimento de ser mulher mãe, reconhecimento de ser mulher negra e periférica ocupando espaços. Parafraseando Carolina Maria de Jesus, apesar de não termos força física…nossas palavras…Ah! Nossas palavras…ferem mais do que espada. Gabitopia nos conta um pouco dessa potencia de Conselho: Conselho “Comecei a escrever essa letra depois que um outro Mc me propôs um feat sem tema, escrevendo sobre o que sentíamos naquele momento. Me mandou um beat de referência e eu comecei a escrever. Naquele momento eu não estava num momento muito bom, muito pois dava pra perceber que eram questões relacionadas a auto estima. Chorei muito ao escrever o começo da letra e foi como se eu tivesse tirado um grande peso das minhas costas, do meu coração. E então comecei a pensar em todas as pessoas que estavam ao meu redor e que eu tenho com quem contar. Foi quando escrevi a segunda parte da música que é a virada. O fato de ter “comprado” roupas de show não é apenas pelo comprar mas por me vestir de uma forma que eu me sinta bem. Citei minhas amigas Candy e Olho Vivo (Laisa) e o Caoz, pois eram quem estavam me apoiando mais naquele momento. Finalizei a composição quando a Luna estava passando uma temporada aqui em casa e nos incentivamos a finalizar e ir gravar na Lucci da Inferno Rec. Também citei uma das Batalhas aqui da Praia Grande que é bem grande e que eu gostava bastante de ir antes da pandemia, a Celeste. Aproveitei pra fazer uma provocação amistosa dizendo que só ia lá pra ver a Brisa, uma das únicas MCs mina que eu já batalhar sobrecarregada e não conseguia enxergar muitas alternativas para o que eu estava sentindo por lá, pois acredito que seja relevante o fato de haver poucas mulheres em batalhas de rima. Letra Terminamos a letra e a Lucci fez o Beat, fomos gravar e tivemos o apoio da Aleatori Mc também. Queríamos gravar um clipe mas a pandemia atrapalhou esses planos. Pedimos então pro Nero fazer uma ilustração e quem ia fazer o lyric vídeo ia ser a Ladyna, uma grande amiga nossa. Porém, por problemas pessoais ela teve que sair do projeto e encontramos o Diego quem fez o vídeo.” Luna conta que quando escreveu sua parte do feat estava com imensa necessidade de uma imersão em seu fazer artístico embora não estivesse em uma fase psicologicamente saudável, muito disso pelos abalos que a pandemia causou na classe trabalhadora. Felizmente Luna e Gabitopia encontraram na amizade