Entrevista | Duda Raupp – “São muitas inseguranças e incertezas”

Em tempos de pandemia, recordar do cenário urbano da cidade e de um simples passeio de bicicleta pode significar muito. Em suma, resgatando memórias de um período antecedendo o isolamento causado pelo coronavírus, o músico gaúcho Duda Raupp lançou recentemente o EP de estreia Giro, convidando o público para relembrar a sensação de liberdade, em um tour pelas ruas de Porto Alegre. Com três faixas totalmente instrumentais, o artista utilizou influências do neo soul, R&B e hip hop para criar o álbum, descrevendo um dia inteiro de lazer. Aliás, as músicas foram pensadas como trilha sonora para um percurso pedalando por bairros e parques da cidade. Com a lembrança dos encontros entre amigos ou da admiração pelas paisagens ao longo do caminho, o multi-instrumentista decidiu transformar essa nostalgia em trabalho. “Consegui tirar isso de bom. Desde o início da pandemia estou trancado em casa, saindo apenas para coisas essenciais. Então, tive que arrumar uma forma de me expressar musicalmente. Tinha um sonho de me tornar produtor e artista solo e a oportunidade surgiu com o isolamento”. Paixão nas letras O sentimento de querer mostrar o que estava fazendo nesse ano afastado das ruas, motivou Duda a transmitir a paixão pelas novas formas de composição que descobriu ao longo do período em casa. Contudo, toda a rotina de produção com instrumentos recém-chegados e a junção da vontade de compartilhar a saudade dos momentos nostálgicos antes da pandemia, foram o principal combustível para o beatmaker lançar o novo projeto. “Junto com essa sensação de querer mostrar meu trabalho para o mundo, faz muito sentido contar todos esses momentos que no dia a dia me vejo relembrando. Fico pensando no que gostaria de fazer se não fosse a pandemia, de quando me juntava com as pessoas ou pegava minha bicicleta para dar um rolê. Isso me inspirou bastante”. Todavia, se o corpo permanece dentro de casa, a mente do artista viaja para outros lugares, em um giro de experiências e vivências. Por isso, ele espera que o público sinta a mesma energia enquanto busca algo totalmente pessoal nesse projeto. “O que eu espero é que as pessoas quando escutem esse EP, encontrem o seu próprio giro sonoro. Que relembrem momentos que são muito especiais para elas. Por meio de sons tentei trazer um sentimento nostálgico, mas que acima de tudo fizesse com que as pessoas consigam identificar seus sentimentos”. Planejamento E se a pandemia foi o fator decisivo para a criação deste projeto, o artista ainda teve que se adaptar ao novo momento para transformar a dificuldade em trabalho. Compartilhar tantos sentimentos e lembranças pessoais é algo recente para ele. Mesmo com as experiências musicais e a trajetória que constrói há alguns anos, Duda ainda está se adaptando ao planejamento do lançamento de um primeiro álbum em meio à pandemia. “São muitas inseguranças e incertezas ao longo do caminho por estar pela primeira vez divulgando algo com o meu nome. É como se eu colocasse minhas entranhas para o mundo ver. Fazer a própria música e arte é algo em que você está expressando coisas que sentiu e isso é muito novo para mim”. Com as dúvidas que surgiram ao longo do processo, ele contou com a ajuda da internet para espalhar a mensagem do giro musical que criou sozinho. Ou melhor, em parceria com os novos instrumentos que descobriu ao longo das tentativas de composição. “Por causa da pandemia e do isolamento, comecei a criar mais conteúdo para minhas redes sociais e a gravar vídeos dos beats que eu fui criando ao longo do dia. Nisso fiz uma campanha de divulgação pensando na identidade visual do EP, utilizando isso pra ter um material legal para postar e por meio disso divulgar o trabalho. Está sendo tudo muito virtual mesmo”. Apoio de peso A internet se tornou um quebra galho para que Duda pudesse difundir a ideia nostálgica do EP, mas não foi o único fator de apoio do artista, já que ele também contou com a ajudinha da produtora Foco na Missão para o lançamento do álbum. O rapper Rashid e a empresária Dani Rodrigues, fazem parte da divulgação e são os principais responsáveis pela organização e planejamento do projeto. “Está sendo maravilhoso. Eles têm muito mais experiência do que eu, tanto no mercado da música, quanto em lançar e divulgar trabalhos. Estar absorvendo essa oportunidade que estão me trazendo é fantástico, estou aprendendo muito”, revela. Quem é Duda Raupp O artista acabou de chegar com o novo trabalho, mas a paixão pela música vem desde a infância, onde o lazer se transformou em renda. Há cinco anos ele está inserido no mercado, entretanto é o primeiro projeto solo do rapaz que mostra nitidamente ser apaixonado por este universo. “Música é o que me movimenta, é minha vida. Todos os momentos, desde quando acordo até a hora de dormir estou pensando nisso. Se quero relaxar coloco uma música. Indo trabalhar também faço isso. Se vou estudar, estou em uma faculdade de música. Minha namorada é musicista… Não tem como fugir. É uma paixão tão grande que transcende o lado profissional”. Não tem como duvidar deste amor. Guitarra, contrabaixo, teclado, percussões e bateria, são todos os instrumentos que fazem parte do repertório do beatmaker. Sozinho, o artista acabou descobrindo um novo desafio: criar música e sobreviver disso. “Nesse processo de produzir beats em casa, acabo experimentando muita coisa nova, e quando vejo já estou tocando. É difícil achar um momento em que eu diga que domino um instrumento realmente e não só experimento. É como se eu fosse provando tudo”. Quem curtir o projeto multi-instrumental, também pode acompanhar Duda nas redes sociais. Lá, o artista compartilha os experimentos que faz todos os dias com os mais variados estilos. Ele ainda revela que está no processo de criação de um single e que os próximos meses serão de trabalho intenso na divulgação de novas composições. “Estou planejando vários projetos para o ano todo. Vou lançar três singles que vão ter parcerias com outros

Entrevista | Ana Carol: “quando me tornei mãe percebi que a música estava fazendo falta”

Feito e inspirado na própria família. Essa provavelmente é a frase que melhor define o álbum de estreia Alma Nua, da cantora gaúcha Ana Carol. Totalmente delicado e conduzido pelas vivências de maternidade da artista, o novo projeto ainda conta com a participação do marido e cineasta André Moraes, responsável pela criação das melodias do álbum. Em dez faixas, o disco mescla composições autorais da cantora e homenagens a obras populares brasileiras, com um toque especial e uma linguagem afetiva. Aliás, mesmo sendo o primeiro disco lançado pela também atriz, escritora e bailarina, não é de hoje que a artista expressa tamanha vontade por cantar e compartilhar suas criações musicais. Todavia, Alma Nua é a realização de um sonho nascido há alguns anos, em Porto Alegre. “É um projeto tão antigo na minha vida. Eu comecei a querer criar um disco logo que eu saí da minha cidade, com 22 anos. Meu desejo sempre foi ser cantora, a vida que acabou me levando para outros caminhos. Foi um momento de pura realização a gravação desse disco, não tive nenhum nervosismo, apenas muita vontade para que ele se concretizasse”, revela a cantora. Amamentação Na faixa-título do álbum, Ana utilizou a própria experiência com a amamentação do primeiro filho, Francisco, para criar a letra e também o videoclipe, que foi totalmente adaptado e filmado em casa, devido à pandemia. Estando há alguns anos no universo maternal e tendo inclusive escrito e compartilhado suas vivências em um blog e no YouTube, a cantora sempre levantou bandeiras de humanização do nascimento e de uma maternidade ativa. Portanto, com o novo trabalho, ela não poderia deixar de lado a vontade de também trazer a família para o projeto musical. Antes disso, ela já trabalhava em conjunto com o esposo e cineasta André Marques em uma produtora, escrevendo roteiros audiovisuais. Segundo ela, a parceria é uma caraterística muito própria da família e nada mais natural do que refletir isso nas composições e no resultado da obra. “O disco é uma consequência de muitos questionamentos que surgiram com a maternidade. Comecei a rever minha carreira, a minha maneira de estar no mundo. O que eu gostaria de transmitir para as pessoas? Qual recado de fato queria dar? Além de uma vontade muito grande de não ficar só reproduzindo os discursos de outras pessoas ou simplesmente fazendo algo para o outro, mas sim fazer meus próprios projetos e então dar minha assinatura para as coisas. Isso veio muito forte com a maternidade e fazia parte disso o desejo de estar mais com a minha família, incluir eles no meu processo de trabalho”, conta. Retomada musical de Ana Carol Na época em que a artista partiu do sul do Brasil para iniciar carreira em solo carioca, sabia que amava música. Com três anos de idade já cantava e com 11 começou a ter ainda mais vivência vocal. Depois de adulta e deixando as apresentações nas casas noturnas de Porto Alegre, acabou dando de cara com os musicais do Rio de Janeiro, graças às experiências com atuação e dança. Neste longo processo colocou o canto de lado, voltando sua energia principalmente para a televisão e os conteúdos audiovisuais. “Quando me tornei mãe percebi que a música estava me fazendo muita falta. Que não podia ficar longe como estava, foi quando entrei nesse processo de retomada da minha carreira, seguindo meu desejo de estar perto. Isso culminou no lançamento do disco, algo que sempre esteve comigo e que tinha deixado de lado nos anos que me dediquei como atriz”. E essa multiplicidade de tarefas é de tirar o fôlego. Impossível desviar de tantas funções e interesses da artista, que está sempre buscando, analisando e se colocando nas situações propostas, conectando tudo ao trabalho, sem parar nunca. Mas com um currículo tão extenso, como escritora, compositora, cantora, bailarina, atriz e ainda formada em psicologia, o questionamento que paira pelo ar é: como ela consegue dar conta de tantas atividades ao mesmo tempo? Simplesmente dando um passo de cada vez. “Não existe uma conciliação de tudo isso, na verdade, isso tudo me habita. Eu sou essa colcha de retalhos, esse mix de influências. É impossível que isso coexista simultaneamente, no mesmo momento. Então, eu estou sempre priorizando coisas, não tem como dar conta de tudo ao mesmo tempo. As mulheres inclusive sofrem muito por acreditarem nessa ilusão de que a gente tem que dar conta de tudo, mas não temos e não conseguimos”. A música é prioridade de Ana Carol E nessa trajetória de quase dez anos como atriz, portas foram abertas para que o novo álbum chegasse ao público. Agora, no entanto, a prioridade é o lado musical. “Estou no momento, menos dedicada a minha carreira de atriz, para me dedicar mais a minha vida como cantora e compositora, já que são coisas que estão fazendo mais sentido para mim, como pessoa, mãe e como tudo aquilo que me constitui até agora”, diz. Ana Carol ainda conta sobre a proposta do novo projeto, já que propositalmente e de maneira intencional quis quebrar padrões pré-estabelecidos com este álbum. De acordo com ela, atualmente as produções estão próximas demais do convencional e deixando de lado o verdadeiro caráter artístico necessário. “Dentro da gente há um universo inteiro. E eu acho que o mundo hoje está muito na superfície das coisas, encaixotado. As pessoas fazem o que dá certo para a audiência e eu não gosto. Quero quebrar isso. Acho que temos que nos mostrar inteiros dentro das coisas que fazemos. Mostrar nossas camadas, singularidades e nosso colorido, porque é isso que faz com que sejamos únicos”, finaliza.

Entrevista | Ego Kill Talent – “Por dentro estamos todos lidando com emoções”

Ego Kill Talent banda

A banda Ego Kill Talent, enfim, divulgou o álbum The Dance Between Extremes. Com uma sonoridade que mescla melodias pop harmoniosas e grooves mais pesados, o disco foi dividido em três EPs, lançados nos últimos meses. A conclusão do projeto foi revelada nesta sexta-feira (19), em todas as plataformas de streaming. “Estamos muito animados com esse lançamento. Tem uma característica presente na banda desde o primeiro disco que é o peso musical com riffs e grooves, mas ao mesmo tempo, uma melodia pop e harmonia. Essa terceira parte tem os dois e a música mais brutal do disco também está nela”, revela o baixista Theo van der Loo. O Ego Kill Talent estava com uma turnê mundial programada antes mesmo da pandemia começar. Já eram oito shows e 15 festivais agendados e os músicos dividiriam o palco com Metallica e System of a Down nos Estados Unidos e Europa. Mas com as medidas restritivas, tiveram de se readequar e transformar o momento de crise em uma oportunidade para divulgar o novo trabalho. “Quando veio a pandemia decidimos colocar um pé no freio. Tivemos que rever essa estratégia de lançamento, uma vez que não teríamos turnê, a maior ferramenta de uma banda de rock para promover um disco. Então questionamos como faríamos e chegamos à conclusão que deveríamos lançar em três partes de maneira que tudo se completasse no final”, explica. De Gojira a Billie Eilish nas inspirações do Ego Kill Talent Referências não faltaram para o disco, e apesar de não criarem pensando especificamente em nenhum artista, os integrantes do Ego Kill Talent contaram com muitas influências do dia a dia, indo do metal pesado do Gojira e Sepultura, até ao rock pop de Lenny Kravitz, Phil Collins e Billie Eilish, em uma variedade de gêneros. “Tivemos muitas referências, mas na verdade, no momento que vamos compor não pensamos em alguma banda. Deixamos vir o flow do que achamos que aquela música quer representar”. Quanto às letras, o baixista avisa que tem algo pessoal e filosófico, sem barreiras com os fãs, partindo da meditação à física quântica e com uma pitada de vida alienígena que eles adoram citar. “Não nos limitamos nenhum pouco. Temos uma veia de poesia muito natural abordando desafios que todo ser humano enfrenta. As angústias, medos, os desejos, os amores, as decepções… Gostamos muito de escrever sobre esses conflitos e resoluções internas que compartilhamos. No final o ser humano é diferente do lado de fora, mas por dentro estamos todos lidando com emoções”. Experimento audiovisual Dando um passo além e introduzindo uma experiência audiovisual totalmente nova para os fãs, a banda também decidiu investir em videoclipes únicos para ilustrar cada música. Com personagens e narrativas pré-definidas, Theo explica que a ideia surgiu do vocalista Jonathan Dörr e que cada integrante trouxe um novo formato para o projeto, com inspirações no cinema e nas décadas de 80 e 90. “Já tínhamos a ideia de fazer isso desde o primeiro disco, em videoclipes que os personagens conversam entre si, mas quem criou e contextualizou foi o Jonathan. Ele foi dando as ideias e fomos criando juntos com inspiração nas nossas próprias músicas. Em The Call, por exemplo, tivemos influência em Interestelar, mais na vibe da trilha sonora e da atmosfera do que no próprio personagem. Em Deliverance criamos seguindo uma pegada dos anos 80 e 90”. Aliás, um videoclipe novo chega em breve. “Vai surgir um vídeo em breve com uma pegada nos filmes anos 80. Nos inspiramos em O Último Guerreiro das Estrelas, então posso dizer que tem um flerte com essa atmosfera”, revela.