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Angel: 30 anos depois, eles estão de volta… Só por uma noite

Em 1985, embalado pela primeira edição do Rock in Rio, que trouxe nomes de peso para o Brasil, como Queen, Iron Maiden, Whitesnake, AC/DC e Ozzy Osbourne, dois amigos santistas decidiram montar sua própria banda: a Angel, que marcou época em meados da década de 1980, quando a região tinha como referências roqueiras bandas como Vulcano e Harry.

Hoje, 30 anos após o encerramento de suas atividades, eles estão de volta. Será apenas um show, no dia 28 de julho, no Teatro Guarany, em Santos. Então, se você não conhece a história deles ou quer relembrar, prossiga com a leitura.

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“O Angel surgiu a partir de um fã clube do Queen. Eu sempre fui um grande fã da banda. Estou com 52 anos hoje, mas conheci com 14. Eu fui no show deles no Morumbi, em 1981, e segui acompanhando a banda. O atual baterista do Vulcano, o Arthur Barbarian, fazia parte do fã clube também. A gente conversava sobre um dia poder tocar. Eu já cantava músicas do Freddie Mercury para as meninas no fundo da sala. Eu treinei minha voz cantando Queen à capela. Logo depois do segundo show deles no Rock in Rio, que o pessoal do fã clube assistiu, nós montamos a banda”, comenta Renato Lone, vocalista da banda.

Apesar de ter surgido no fã clube, Lone foi garimpar integrantes em ensaios e shows que acompanhava na região. Foi assim que chegou no guitarrista Du Sotta e o baixista Chico Comelli, que tocava na Trevas, banda que tinha Tarso Wierdak (atual Carnal Desire) em sua formação.

Os primeiros ensaios, quando ainda se chamava Azoth, aconteceram na garagem de um amigo do irmão de Lone, Sandro Butcher, na Ponta da Praia.

“O Sandro era estudante de eletrônica na época. Ele e o amigo construíam guitarrinhas de madeira e microfones e gravavam os nossos primeiros ensaios”.

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O cenário começou a se transformar para a Angel quando Lone conheceu o guitarrista Olímpio Montanagna. “Ele mudou tudo. Era um guitarrista mais experiente, já tinha uma história em São Vicente, onde tocou em várias bandas. E ele trouxe toda a malandragem que não tínhamos, éramos muito inocentes.

Nesse momento, a banda era formada por Lone (vocal), Arthur Barbarian (bateria), Chico Comelli (baixo) e Olímpio (guitarra). É considerado o primeiro lineup da Angel.

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“Fizemos o primeiro show no ginásio do Colégio Santista, em janeiro de 1986. E as pessoas achavam que o Angel era uma banda argentina. Já tínhamos uma estrutura bacana, ninguém tinha ouvido falar da gente. E eu já fazia os cartazes porque sempre fui envolvido com artes gráficas”.

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Olímpio, segundo Lone, sempre foi um cara à frente no tempo. Já tinha uma ligação com o rock nacional que começava a chegar no mainstream, com Titãs e Lobão.

“Ele falava que tínhamos que cantar em português porque o mercado era outro. Mas eu, Chico e Arthur falávamos que tínhamos que pensar no mercado de fora, cantar em inglês. Mas nós tínhamos 20, 21 anos, o Olímpio mais de 30, já tinha passado por várias coisas. Era um baita guitarrista, ele dava aula para todo mundo. Ele me via como um cara diferenciado e insistia que eu não deveria cantar metal, mas focar no rock, você tem toda atitude rock”.

A ideia de Olímpio, no entanto, não foi aceita pelos músicos. Também no início de 1986, a Angel participou de um grande festival no Teatro Municipal de Santos, onde foi colocada como headliner junto com a Harry. “Em menos de três meses conquistamos o público com um hard rock, rhythm blues, algo melódico”.

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E a apresentação no Municipal contou com a presença de um integrante da revista Rock Brigade no público. “Ele disse que o caminho era o metal, que eles estavam abrindo espaços para essas bandas. E queriam uma de Santos. Já tinha o Santuário no SP Metal (coletânea) e o Vulcano tinha lançado vários trabalhos”.

Convencido que a proposta da Rock Brigade era a mais interessante, Lone conversou com a banda e, juntos, decidiram que o foco seria o metal.

“Talvez tenha sido um erro meu. Quando fomos falar com o Olímpio, ele foi bem sincero. Respondeu que era um guitarrista com influências mais antigas e que o ideal seria seguirmos nosso caminho sem ele”.

Com a saída de Olímpio, o Angel passou a procurar outro guitarrista. Samuel Fang foi o primeiro. Entrou, compôs algumas canções nessa fase metal e se apresentou em uma lona que foi montada no estacionamento do Teatro Municipal de Santos, junto com o Renascença e Voodoo, que foi a primeira banda de São Paulo a vir tocar aqui pela Rock Brigade.

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“Mas nós não estávamos satisfeitos ainda, queríamos colocar duas guitarras. Nisso, o Sandro, meu irmão, que já acompanhava a gente desde o começo, estava com cabelo grande, tocando com as bandas dele, foi o cara. Chamamos ele e junto veio o Bob Shaker, que foi uma indicação do Zé Flávio (Vulcano e Psychic Possessor)”.

Os problemas com formações continuaram. Arthur Barbarian recebeu um convite do Vulcano e deixou a banda. “Naquele momento pensamos que poderia ter acabado a banda. Era um cara que estava com a gente desde o início, dos tempos do fã clube do Queen”.

Indicado por vários amigos, Fausto Colesnic entrou como substituto de Arthur. Com ele na banda, a Angel gravou as duas faixas para a coletânea da Rock Brigade.

Com o lineup estabilizado, a Angel se consolidou como um nome do metal. “Começamos a ouvir muito Manowar, mas eu tinha uma influência maior do Black Sabbath com o Dio. Nunca deixei de ouvir o Queen, mas naquela época falar deles era até vergonhoso para o pessoal do metal. Os integrantes tinham influências bem diversas. O Bob gostava de Helloween, o Sandro era mais Exodus e Slayer, o Chico curtia Deep Purple com Gleen Hughes. Misturando tudo isso dava o som da Angel”.

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O trabalho autoral da Angel passou a ganhar corpo. Foram 12 faixas compostas em sua breve carreira. Como a ditadura militar ainda era um tema muito recente na cabeça dos integrantes, Lone, o responsável pelas letras, abordava isso de uma forma diferente, utilizando ocultismo e a história do anjo, que estava sempre sofrendo na mão do sistema.

“O Comelli vinha com uma linha de baixo interessante, então fazíamos um dueto com as guitarras. E, o bacana é que os dois guitarristas tinham timbres diferentes. Meu irmão era o peso, o Bob era mais melódico. Eu alcançava altos timbres agudos e tinha um grave potente. E isso dava um balanço legal”, explica.

Além da coletânea da Rock Brigade, a Metal Brigade, a Angel chegou a gravar uma demo oficial, que despertou a atenção de vários fanzines. As faixas escolhidas foram Metal Castle e Alcool Banger, que segundo Lone, virou um ícone.

“Em Santos estava começando os embriões do que viria na sequência, com o Last Joker e o Mr Green. E na época, o Circo Marinho (espaço para shows) já estava na Ana Costa, onde hoje é a Igreja Universal. Tínhamos um intercâmbio muito legal com as bandas de São Paulo e outros estados”.

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Apesar do bom momento vivido pela Angel, a banda não durou muito mais. Os objetivos de cada um dos integrantes foi mudando, até chegar ao término definitivo em 1988. “Começamos a nos achar maior do que éramos. O baixista foi morar em São Paulo, arrumou uma namorada, e ele começou a ser assediado por outras bandas porque falavam que ele era o Cliff Burton brasileiro. Tinha uma técnica mais apurada. E metal não era o que eu queria, eu ainda era o fã do Queen. Eu queria um público maior. Depois, já com o Yankee, fui convidado para cantar no U2 Cover e fiquei lá dez anos. Ali conheci o mainstream”.

Para o vocalista, a Angel “foi a escola primária e ginásio de sua carreira”. “Ali aprendemos tudo na marra. Fui cantar com microfone com seis ou sete meses de banda. Antes cantava com um foninho e um amplficador, fui treinando o volume, me forçava a ter esse treinamento. O legado é que as coisas foram feitas na marra. Ninguém tinha instrumento importado, quase ninguém tinha, pedal idem, bateria nem sem fala. Isso mostrou pra gente que a coisa era talento, não tinha mentira. Isso me abriu portas. Depois do Angel veio o Yankee, onde toquei com músicos profissionais. Quando você come pedra, comer filé mignon é muito fácil. Foi na mesma época que o Titãs e o Ultraje estavam começando. A diferença é que eles tinham apoio de gravadora, a gente não”.

No dia 28 de julho, no Teatro Guarany, Lone terá a companhia de Gerson Fajardo (Vulcano/The Cult Cover, Kilmister), Sandro Butcher, Francisco Comelli e Fausto Dos Santos.

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